sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

O meu coração é brasileiro....

Não, não é! Isto é apenas para disfarçar! O meu sangue é, sem dúvida, brasileiro, assim como a minha tez morena. Agora o coração não é, nem aprecio a música que canta este verso.
Esta introdução é para voltar ao (des)acordo CPLPiano. O Brasil é gigantesco em relação a Portugal: 190 milhões de falantes contra 10 milhões! Destes 190 milhões, mais de 150 milhões vivem na pobreza absoluta! Não escrevem, nem lêem! Mas contribuem decisivamente para afastar cada vez mais o "português brasileiro" do português! Depois há o problema da educação: um verdadeiro desastre! Um antigo colega meu do primeiro ano do Liceu José Falcão (actual 7º ano) que era brasileiro e tinha ingressado no ensino português no meu primeiro ano de Inglês, embora ele já tivesse tido 3 anos da língua de sua majestade, era uma completa nulidade nesta disciplina (nas outras também! Mas não era burro de todo). Dizia-me ele: "Em três anos só aprendi o verbo "to be" (e mal, diga-se)! Este caso paradigmático diz muito! Muitos anos mais tarde, em conversa com um (outro) colega meu brasileiro sobre o ensino de Inglês no Brasil, disse-lhe em tom de brincadeira: “Tiveste 8 anos de Inglês mas limitaram-se a aprender o verbo “to be”!”. “Como é que sabes?”
Não há acordo que valha para os brasileiros. Eles nunca irão cumprir qualquer acordo!
Os brasileiros cultos falam e escrevem português com muita correcção, só com alguma atenção é que se percebe que são brasileiros. Os livros do Eurico Veríssimo ou do Jorge Amado, por exemplo, lei-os tão bem como os livros portugueses bem escritos. Não precisam de qualquer acordo ortográfico para serem lidos pelos portugueses! Mas eu preciso de legendas para perceber as novelas brasileiras, ou para entender os brasileiros recém-chegados a Portugal. E preciso de grandes doses de tranquilizantes para conseguir ler livros e artigos brasileiros da minha área!!!!
Nem falemos do caso de Angola, ou, pior ainda, de Timor! Uma língua sem escrita não se harmoniza... lembro-me sempre do Crioulo. Em Cabo Verde tentaram adoptar o crioulo como língua nacional (quase não há escrita, embora a percentagem de analfabetos seja inferior a 3%, mas todos falam bem português). Mas o problema é que os crioulos divergem de ilha para ilha, a ponto de o crioulo falado no Fogo não ser entendido pelos caboverdianos de Santiago (a Ilha vizinha).
Os espanhóis vivem uma realidade completamente diferente da nossa! A Espanha é cinco vezes maior do que Portugal. Além disso, a desproporção Portugal - Brasil não se compara à desproporção Espanha - México/Espanha - Argentina. E, ainda, a cereja em cima do bolo: o castelhano tem rivais em Espanha como são os casos do catalão e do galego! Fomentar um acordo ortográfico internacional para o castelhano é, para a Espanha, um problema de soberania nacional. Realidades bem diferentes...
Depois há ainda um problema cultural: os brasileiros não podiam ser mais diferentes dos portugueses! Ainda bem que é assim. Os brasileiros ainda falam português, mas daqui a uns anos ou falamos todos brasileiro, ou eles falam brasileiro e nós português!
Mas venha o acordo...

2 comentários:

  1. ZN: sou sensível a alguns dos teus argumentos, embora prefira quando os fundamentas de um ponto de vista, digamos, sócio-político. Em relação à analogia de LCO com Espanha, admito que tens (alguma) razão. Acho que quando se recorre ao elemento biográfico (o teu colega de liceu, por exemplo) é sempre possível reverter os argumentos com um contra-exemplo. Carlos de Oliveira é certamente (para além de colega de carteira na FLUC da figura pública mais referida neste blog - aqui vai mais uma referência...) um dos grandes escritores portugueses do século passado e nasceu no ... Brasil! Vais dizer que veio para cá com 2 anos de idade e, portanto, a educação brasileira não teve tempo de fazer estragos. É verdade, mas como bem mostra o seu antigo colega (mais uma vez aqui nomeado...) a especificidade da sua escrita tem marcas da sua origem brasileira.
    OK, mas mesmo dando de barato que tens razão, julgo que estás a lutar contra uma causa perdida, com ou sem acordo.
    Como disse em comment anterior, o jornal "Record" já usa o acordo há um ano, mas os seus concorrentes (que também leio diariamente) não o fazem. Ora, no "Jogo" de ontem, numa excelente entrevista aliás, Mister André Villas Boas diz: «Deve-se, pois, parabenizar Queiroz pelo sucesso da qualificação". E, hoje em "A Bola", jornal que os intelectuais de esquerda costumam elogiar pela qualidade da prosa aí publicada (o que já foi mais verdade do que é hoje), é possível ler o seguinte: «Também Helton, Fucile e Rodriguez foram flagrados [no túnel da Luz à estalada com os stewards]». Confesso que parabenizar já conhecia, mas "flagrados"?
    Por acaso até acho piada às duas expressões, mas quer uma quer outra não esperaram pelo acordo e muitas outras haverá com certeza.
    Por outro lado, ontem estive a corrigir alguns trabalhos de alunos e, sempre que tal acontece, praguejo inúmeras vezes contra o nosso sistema de ensino!!!

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  2. Quanto ao acordo, também eu estou de acordo.

    Mesmo com todos os argumentos contra (tão bem!) exposto neste blog. Mesmo estando o acordo longe de ser perfeito. Tudo me parece menos importante quando comparado com o fortalecer da proximidade (a quem sou especialmente sensível graças à herança brasileira PL! Uma das tradições familiares que mais gosto – talvez por ser a fiel depositaria – é o célebre anel dos 15 anos, vinda directamente de terras brasileiras!) entre os dois países!

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