Inauguro hoje uma nova secção do blog Maré Cheia que espero venha contrariar um velho costume meu. Não sei se recordam os visitantes menos novos (os outros talvez não saibam e, valha a verdade, trata-se de douta ignorância) destas paragens que durante muito tempo produzi talvez a maior série de primeiros números de periódicos (gosto desta palavra...) PL de que há memória. Ou melhor, de que felizmente não há memória. A dada altura, chegou mesmo a ser difícil encontrar novos títulos para as minhas aventuras jornalísticas.
A única desonrosa excepção foi um pasquim chamado o Guia (e o conteúdo ainda era bem pior do que o título deixa supor...) e no qual eu exercia uma insidiosa chantagem sobre a mais nova dos dez, dizendo mais ou menos isto: «Tx, de duas, uma. Ou eu sou o chefe de redacção e tu a directora, mas só publicas n'o Guia aquilo que eu deixar. Ou, segunda hipótese, eu sou o director e se não estiver de acordo contigo despeço-te do lugar de chefe de redacção!!!». Como vêem, era um jornalista bastante democrático. O Zé Manel Fernandes ao pé de mim era um menino de coro... Mas mudemos de tema, não sem antes dizer que os blogs (sim, porque eu escrevo em 2!!! Cf. perfil...) correspondem a uma espécie de pulsão jornalística que, desde o fecho d'o Guia, estava recalcada. (E ainda bem, já ouço as vozes de alguns...)
Pois bem, dizia eu, não quero que esta nova secção se fique pela primeira edição, como aconteceu com a quase generalidade dos meus projectos editoriais. Contudo, a verdade é que, antes mesmo de começar, já mudei de título que esteve para ser outro. Tinha pensado em Da minha rua vê-se uma livraria, pois esta é uma das imagens que mais falta me faz quando chego à rotunda da Lomba do Chão do Bispo e não vejo uma sala de 2º andar cheia de livros. É óbvio que livraria tem aqui o significado tradicional de biblioteca, como quando se fala, por exemplo, da librairie de Montaigne. Aliás, os ingleses ainda usam o termo correspondente nessa acepção.
Mas voltando à minha rua, a Humberto Delgado (vivi lá rigorosamente metade da minha vida...). Sempre que por ela passo, imagino que a livraria ainda lá está. Não, não estou a dizer que os livros não tiveram o melhor destino que poderiam ter. Claro que tiveram. E estou certo que foram ajudar a construir outras livrarias, porventura até mais luminosas do que a que se via da minha rua.
Porquê, então, mudar o nome desta rubrica? Por esse motivo mesmo, gostaria de guardar aquela livraria na minha memória e não vejo como poderia ilustrar com uma imagem o título Da minha rua vê-se uma livraria.
Decidi, por isso, mudar e julgo que a espantosa fotografia que consegui googlar justifica o novo nome. Esta Livraria do Mondego fazia e, de certo modo, ainda faz parte de um percurso essencial na história dos PL. Sempre que RPL ia a Nelas (que saudades daqueles caixotes de bolacha de água e sal...), passava pela Livraria e explicava pacientemente a quem o acompanhava o significado do termo. É também em homenagem a este ilustre PL - grande leitor do Simenon e que acompanhava os trajectos do Comissário Maigret através de um mapa de Paris, comportamento que sempre achei extraordinário!!! - que escolhi o nome de Livraria do Mondego.
Perguntarão os leitores impacientes: em que consiste esta nova rubrica de Maré Cheia?
Será uma espécie de Os Livros da Minha Vida em que os colaboradores deste blog poderão apresentar e explicar os motivos para a importância que eles tiveram na suas existências pessoais.
Proponho como regra - que admitirá as excepções justificadas por cada um - que esses Livros tenham, pelo menos, passado pelo 31, 6º E ou pelo 9, 2º E da artéria do General Sem Medo (atenção, esta última frase não é para levar à letra). Será, assim, uma tentativa de reconstruir virtualmente a Livraria que se via da minha rua. Ou melhor, que continuo a ver da minha rua. Vou interromper este texto porque ele está a ficar bastante piegas. Mas por pouco tempo, pois...
... dentro de momentos o leitor poderá ler o nº 1 de Livraria do Mondego. Rigorosamente a não perder!!!
Eu confesso que também ainda olho para lá, e penso "porque é que a persiana está fechada??"
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