sexta-feira, 10 de abril de 2015

A 4 de abril ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Depois do excelente trabalho, pela universidade, de recuperação do Colégio da Graça, eis agora, renovada na sua fachada, também muito bela, a Igreja do Carmo, da Ordem Terceira de S. Francisco. A norte, na Rua da Sofia, só fica a faltar o templo em honra de S. Pedro. O que me leva a perguntar sobre o que se passa com aquele património, sob alçada da Casa de Saúde de Coimbra, que permanece encerrado, impossível de se visitar, porventura transformado, quem sabe, num qualquer arquivo morto. Ou, Deus meu, coisa que o valha!

Afirma-se, por aí, que a decisão política sobre a autoestrada Viseu-Coimbra e linha ferroviária de ligação a Espanha ficam proteladas para o próximo governo. A ser verdade – e hoje em dia, em relação ao futuro desta destroçada região, já nada me surpreende – quase poderíamos dizer que assim vamos, embora sem cantar nem rir, de adiamento em adiamento, até ao descalabro final. Então, só o sentir Beirão nos sobrará. A alguns.

Com o projeto aprovado, a manifesta vontade política da maioria dos edis, e ultrapassados os receios de quem temia que o subsolo guardasse uma qualquer preciosidade arqueológica (que ali só poderia ser, talvez, algum porto fenício), quero crer que brevemente teremos em execução as obras de arranjo urbanístico e paisagístico do Terreiro da Erva. Inadiáveis e a incluírem, sem demora, a recuperação da fábrica da Cerâmica Antiga, velha olaria instalada em ancestral lagar de frades, bastião último, e inestimável, da faiança de Coimbra.

A universidade de Coimbra embandeirou em arco por ser considerada – a par das do Minho, Porto, Aveiro e (Clássica e Nova) de Lisboa, como 'very good' em ranking financiado pela União Europeia. Também era só o que faltava que não fosse...

A CP lançou um concurso público para os serviços alternativos ao comboio da Lousã, válido por três anos. Se calhar quer dizer – e como gostaria de não estar a ser irónico! – que dentro dos cerca de 1.100 dias previstos no contrato já teremos aí a circular, todo pimpão, contributo decisivo para o desenvolvimento, o Metro Mondego...

Regressou o Funtastic. Agora, nesta época pascal, depois, anuncia-se, lá mais para o verão. Apenas um autocarro, e ao longo de pouco mais de seis meses. Em sinal, evidentíssimo, quando olhamos para outras cidades, do quanto caminho, também em termos turísticos, temos ainda pela frente.

No âmbito de um Fórum Nacional, que teve lugar na cidade, estudantes de Enfermagem promoveram, em colaboração com as entidades municipais de proteção civil, um simulacro de acidente, exercício sempre de grande utilidade para otimização dos sistemas de socorro. E se apreciei a atitude responsável dos jovens académicos, gostei ainda mais de constatar – apesar de pequeníssimos pormenores a aperfeiçoar – o bom entrosamento, hoje, das diversas forças em presença. Muito bem.

A apresentação do Programa Operacional do Portugal 2020 para o Centro decorreu, concordaríamos generalizadamente, em Viseu. O meu receio é que a circunstância, que poderia, com certeza, ter acontecido também em Aveiro, Castelo Branco, Guarda ou Leiria, seja tida por aqui – ou entendida mais além – não como força da Beira, antes fraqueza política de Coimbra.

Foi aprovado o projeto de mais um hotel para a Alta – e dizem-me que muito provavelmente iremos ter em breve a indispensável unidade de cinco estrelas –, notícias excelentes, ambas, para a cidade; o município decidiu, corretamente, reduzir de forma significativa as taxas também para a instalação de atividades económicas na área considerada Património Mundial; Estudantina, um abraço, trinta anos de loucura académica; relevantíssima, de leitura imperdível e atenção obrigatória, a crónica de anteontem, aqui no DC, de Carlos Encarnação; e o CHUC, vá lá saber-se porquê, não foi incluído, como se fora dispensável, no projeto nacional de redução da infeção hospitalar.


António Cabral de Oliveira

A 28 de março ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR
Para celebrar o Dia da Árvore – ainda ver as benfeitorias que a câmara fez, bem, numa das entradas junto ao açude-ponte, e olhar a concretização da excelente ideia da PSP de plantação, no Choupal, de 200 pinheiros mansos –, fui até àquela mata nacional cujo estado de conservação, generalizada e repetidamente, tanto ouvimos criticar. E a surpresa, de todo inesperada, não podia ser maior. É que, ao invés do abandono, mau trato, sei lá que mais, encontrei um espaço limpo, com recentes e muito abundantes plantações de espécies nobres, pontes novas ou arranjadas, enfim, um agradabilíssimo parque verde. De que, para melhor usufruto de Coimbra, me apresso, com enorme satisfação, a dar nova à cidade. Enquanto enalteço o trabalho, excelente e com certeza perene, sempre melhorável, do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas.

Viseu não vai ficar de fora e perder centralidade, clama, agora, o presidente Almeida Henriques, a propósito de hipótese da ligação por autoestrada à nossa cidade poder vir a aproveitar (e esse, não foram as politiquices locais, devia ser, naturalmente, entre os itinerários complementares 3 e 5, o grande e único eixo rodoviário da região), o atual IC12. Dizendo que "não se comece agora a inventar outras soluções" – ele, que queria que o prolongamento da A14, por si defendido, ligasse com a A1 a norte ou a sul, mas não, nunca, em Coimbra, poderá estar ("quem mal anda, mal acaba", diz tão bem o nosso povo) "a comer o pão que o diabo amassou".

A Companhia Nacional de Bailado está a celebrar – a importância da memória – o legado dos 50 anos da fundação do Ballet Gulbenkian. Agora em Lisboa, depois em digressão nacional que, custa-me até a crer, não passa por Coimbra, cidade onde se guardam imensas, e tão excelentes, recordações daquela singular instituição de dança, extinta, faz cada vez menos sentido, dez anos atrás. E ainda há quem pergunte para que servirá o Centro de Convenções e Espaço Cultural do Convento de S. Francisco...

O presidente da câmara de Montemor-o-Velho, carregado de razão, considerou inadmissível, enquanto obra estruturante para terras do Mondego, a não construção da variante entre Taveiro e aquela vila. Mas julgará Emílio Torrão, também ele, estar o seu município perto de Lisboa, sequer cerca do Porto?

Recente trabalho jornalístico sobre "As cinco poderosas do meio judicial" evidenciava que, de entre elas, apenas a ministra da Justiça não tem ligação com esta cidade porquanto todas as outras – Anabela Rodrigues, Joana Marques Vidal, Elina Fraga e Maria José Costeira – nasceram e/ou estudaram em Coimbra. O que, não querendo significar nada de especial (cá vieram ao mundo, também, grande coisa, sem particular vantagem nossa, o primeiro-ministro e o titular do Desenvolvimento Regional, enquanto algumas outras altas figuras do Estado frequentaram os bancos da mais antiga universidade)...não deixa de ser curioso. Talvez, mesmo, significativo!

O edifício da Reitoria da Universidade do Porto está em obras para receber a grande unidade museológica que reunirá os espólios dos seus museus da Ciência e da História Natural. Em Coimbra, arriscaria dizer, se calhar um tudo nada mais rica em coleções, continuamos – sem dinheiro, sem rasgo e sem querer –, a adiar o que devia ter sido concretizado há anos...

A cidade reviveu, na Alta e em Celas, com aprazimento, a Feira dos Lázaros, recriada pelos grupos folclóricos, bem-hajam, da Casa do Pessoal da Universidade e de Coimbra; estudantes, naturalmente reivindicativos, celebraram, de forma distinta, o seu dia; a melhor natação portuguesa estará entre nós para aqui disputar os campeonatos nacionais, enquanto se anuncia a possibilidade da urbe receber – a valia dos nossos equipamentos – o centro de alto rendimento da modalidade para universitários; Luís Quintais venceu o Prémio Literário Fundação Inês de Castro; "Uma vez Coimbra, para sempre saudade", é o lema, bom, da Queima das Fitas; e, a partir da próxima quarta-feira, durante todo o mês de abril, regressam, deliciosos, a percorrer sempre, "Os caminhos da Baixa - o património doceiro de Coimbra".


António Cabral de Oliveira

A 21 de março ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Quando Rui Vilar, presidente do Conselho Geral, falando a propósito dos 725 anos da Universidade de Coimbra, denunciava, do alto das suas enormes responsabilidades, "as inércias e os bloqueios dos interesses instalados", referia-se a quê e a quem?...

Neste, desde ontem, tempo de primavera, lembro a Tité e aquele dia em que me falou, sublinhando o contraste com outras urbes, do perfume que em regra envolve Coimbra. Sem sabermos bem apreciar o que de excelente temos, fica a sugestão para passarmos a atentar melhor nos cheiros, magníficos, das flores e das árvores, agora ainda mais bonitas, nos nossos jardins e ruas. Que são tantas. E serão com certeza mais quando Manuel Machado, ele que as aprecia especialmente, cumprir por inteiro a promessa de plantar não interessa quantas, mas muitas, novas árvores (e flores) por essa cidade fora...

O óleo sobre madeira "Nossa Senhora com o Menino Jesus e dois anjos", pintura rara e de grande importância, agora, e em boa hora, comprado pelo Estado, é um trabalho de finais do séc. XV, de uma oficina de Coimbra. Mas, para onde julga que vai a obra do Mestre de Santa Clara? Se está a pensar no seu regresso a esta urbe, tire daí o sentido. É que a Direção-Geral do Património Cultural, inimaginável, outro opróbrio para todos nós, destinou-a, nem mais, não ao Machado de Castro, antes ao Museu de Arte Antiga. Em Lisboa, está claro. Isto, digo também eu, se a cidade e as suas instituições, por uma vez, cansadas de tanto centralismo, não exigirem a óbvia restituição. E, já agora, acompanhada pela Cruz de D. Sancho, também, incompreensivelmente, ali mantida.

As "Business School" do Porto e da Nova de Lisboa – peço desculpa, mas agora chamam assim a algumas escolas de gestão – vão, selecionadas por quem tem poder, e no âmbito de um programa comunitário, dar cursos de "capacitação avançada de líderes " a autarcas. Lembram-se ainda de quando Coimbra, centro nevrálgico do poder local, sede da ANMP e do CEFA, tinha na sua faculdade de Economia uma escola de referência que privilegiava estas questões? Agora, parece, servimos apenas para, apoucando até a nossa universidade, virem cá, não sem algum despudor, anunciar, para longe, programas de formação.

O lançamento do concurso para a construção da nova ponte de Corge, na ligação ferroviária Covilhã-Guarda, desativada há seis anos, é uma excelente notícia para toda a região. A menos que – e não quero sequer acreditar – , depois de construída, se decida, politicamente, como acontece com as obras no Ramal da Lousã, ser o projeto insustentável. Ali se criando, ao abandono, como os viadutos do alentejano IP8, mais um monumento à incapacidade governativa nacional.

Por empenhamento do município e interesse do concessionário, parece que vamos ter, assim otimizado, um parque de campismo de cinco estrelas. Fica a faltar igual atitude camarária – e também da entidade regional de turismo, julgo – para se alcançar a construção, na cidade, de um outro cinco estrelas, mas na hotelaria. Indispensavelmente, em favor, repito-o, da qualificação do nosso turismo.

Morreu, antigo reitor, Cotelo Neiva; o simulador de condução dos SMTUC, afinal, depois de tão jocosas críticas da atual maioria camarária, agora que se soube que a Europa o paga quase por completo, sempre serve para alguma coisa: garantir formação prática, melhor e menos onerosa, a motoristas; há estudantes do ensino superior a passar fome em Coimbra, diz, sem rebuço, para vergonha coletiva (mas mais de uns do que de outros), sacerdote ligado ao Instituto Justiça e Paz; para nosso alívio, não terá havido ingerência política – apenas erro, tardiamente reconhecido embora – na redação de ata de reunião do executivo camarário; com criatividade e inovação, mais sustentável, verde e com melhor eficiência, também eu quero Coimbra, para sermos ainda mais felizes, Cidade Analítica; foi apresentado, imperdível por lindíssimo, o livro sobre o Botânico "No Jardim há histórias sem fim"; e uma funcionária da Metro Mondego saiu da sociedade por – surpresa para quem? – não ter nada para fazer…


António Cabral de Oliveira