domingo, 26 de outubro de 2014

A 25 de outubro ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Fui ao novo "jardim" da Solum de Baixo – assim designávamos, antigamente, a expansão urbana, a nascente, do velho bairro – para me passear por passeios imaginários (apesar de já debuxados e até iluminados), cheirar os "relvados" há pouco cortados, apreciar canteiros que rescendem a flores inexistentes, descansar à sombra de árvores ainda não plantadas. Uma pena o estado de abandono em que se mantém aquele espaço, ali na Jorge Anjinho, junto da moderna escola, apenas à espera de um pequeno investimento, feito desejavelmente com meios próprios, pela câmara ou pela junta de freguesia (ou ambas), a permitir a sua valorização e entrega ao inteiro usufruto da comunidade...

A Universidade de Coimbra, excelente, é a preferida pelos estudantes brasileiros quando vêm estudar para Portugal. Para otimizar, desejavelmente, o quadro, pode ser que o resultado das eleições de amanhã no Brasil dite uma nova política que, em português, nos reaproxime, ou, pelo menos, não nos continue a afastar. Porque, cada vez mais, vemos Terra de Vera Cruz – a História que foi comum, a Língua que já o foi mais – não como um país irmão, antes como...um país primo, e afastado, em terceiro ou quarto grau!

Não desgosto do projeto camarário de uma linha de elétricos Lages-Alegria, sobretudo se prolongada, pela margem do Mondego, no sentido da Boavista-Portela. Mas gosto muito mais de uma outra que, com pouco menos de dois quilómetros, e perfeitamente integrada na rede urbana de transportes, faça a Alta universitária/Praça da República, assim servindo, privilegiadamente, o ano inteiro, para além do turismo, o acesso dos estudantes às Escolas. E viabilizando, ainda, coisa não despicienda, a retirada, dali, de muito do tráfego automóvel.

Fui um dia destes visitar, na Praça do Comércio, a 'chronospaper', curiosa oficina de livros, seus restauros e encadernação, onde, naquele ambiente delicioso, gostei de ouvir os proprietários falar da loja e do futuro, da vontade de concretizar novos e mais amplos desafios. E fiquei a pensar na importância de uma política municipal que apoie a preservação, e são já tão poucos, de estabelecimentos comerciais históricos e imperdíveis para Coimbra – prestemos atenção ao trabalho de Rui Moreira – de que é paradigma (e não a refiro, para além do seu valor e fantástica beleza, por mero acaso) - a farmácia Nazareth.

A cidade e a comunicação social parece terem embandeirado em arco com a atitude (afinal apenas louvável) dos que se empenharam, muito bem, em acabar com a selvajaria estudantil do lançamento ao Mondego, depois da latada, de carrinhos de supermercado. De exaltar seria, isso sim, era que as instituições académicas, pura e simplesmente, e de uma vez por todas, vedassem – também cuido que, na medida do possível, deve ser proibido proibir – a sua utilização nos cortejos.

Para além das quebras que todos registaram, o Museu de Aveiro foi, no primeiro semestre do ano, dos tutelados pela SEC, o mais visitado na Região. Pode ser que assim todos nos convençamos, depois da maledicência lamentavelmente habitual, que políticas regionais com epicentro em Coimbra, só por o serem, não são – bem pelo contrário – prejudiciais para os nossos interesses coletivos, no caso no campo da cultura. E não justificam, de todo, intentonas de fuga para norte ou para sul, antes nos devem fortalecer como território – as Beiras – coeso e em harmonioso desenvolvimento económico e social.

Enquanto continuamos, ensurdecedor silêncio, à espera de novas sobre a autoestrada Coimbra-Viseu, muitos têm sido os acidentes que continuam a ocorrer no IP3. Se o problema não é, de certeza certa, associável – não o admito sequer! –, à dimensão e qualidade da via, a que se deverá ele?

Manuel Machado mostrou-se satisfeito com o primeiro ano do seu novo mandato; a figura histórica de D. Sesnando, e seu legado na formação da "Coimbra, Cidade Aberta", foi tema de relevante congresso; a urbe, honraria nossa, recebe este fim de semana o Congresso da Liga dos Bombeiros Portugueses, que, permitam-me repeti-lo, muito gostaria abordasse a instalação, na cidade, do seu Museu Nacional; e, seguindo a sugestão de António Vilhena, fui, em boa hora – faça o mesmo –, visitar as três exposições que aconselhava em crónica recente: pintura, no Museu Chiado; escultura, na Casa Municipal da Cultura; e fotografia, na Sala da Cidade.


António Cabral de Oliveira

A 18 de outubro ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Um dia destes fui olhar – ao que leva o sonho! – os carros elétricos, assim recuperados, na linha da universidade. Estive na Padre António Vieira, na Rua Larga, na Calçada Martim de Freitas, na Alexandre Herculano, na Praça da República. E vi passar os velhos amarelos cheios de estudantes, de turistas, de cidadãos que gostam de percorrer a antiga urbe, de viver o seu património…

A Associação Académica quer que professores e alunos tenham igual poder de decisão no órgão de governação da Universidade. Para além da extravagante influência das entidades externas, era só o que nos faltava...

Fiquei a perceber o porquê de tantas e tão inusitadas limpezas no monumento aos Combatentes da Grande Guerra, na Sá da Bandeira: é que vem cá, hoje, que bom, não para anunciar o que nos deve (o Metro Mondego), mas para inaugurar placa, o primeiro-ministro…

Relevante, inquestionavelmente, a certeza de Coimbra receber, em Santa Clara-a-Velha, em outubro de 2015, a terceira edição da Feira do Património. Um evento magnífico, em espaço admirável, que se quer associado às comemorações dos 725 anos da Universidade. Escolas que, assim, podem vir a sentir-se particularmente motivadas para, em ano eleitoral, celebrarem a efeméride também com uma importante vertente cultural através, não se peça mais, do início das obras da segunda fase do Museu da Ciência, no Colégio de Jesus.

Depois de distinta comitiva da CCDRC ter ido a Bruxelas conhecer algumas das "ferramentas" financeiras do novo quadro comunitário com vista ao fomento sustentável do emprego e do crescimento, sabe-se que vai ser instalado, na sede da Comissão, em Coimbra, para ajuda na elaboração de candidaturas a fundos europeus, um gabinete de apoio ao promotor. Uma iniciativa estupenda, desde que os haja, claro, os promotores...

Quando o turismo religioso e o património mundial são, manifestamente, trunfos da região Centro, como foi reconhecido também durante celebração recente, porque não abre à aviação civil, em favor de tamanha vantagem, e com tão parco investimento, o (indispensável) aeroporto de Monte Real/Leiria-Fátima-Coimbra?

Se a Agrária de Coimbra só preencheu pouco mais de 30% das vagas existentes, mas, mesmo assim, di-lo o seu diretor, continua a ser uma das escolas nacionais com maior taxa de colocação, algo está mal, muito mal mesmo, em termos de ensino e do futuro da agricultura. A lavoura, sabem, o tal sonho de modernidade, o novo eldorado que o governo tanto vem propalando, enquanto, significativamente, não substituiu sequer o demissionário secretário de Estado das Florestas; os orizicultores do Mondego se debatem com uma doença nas suas culturas que ameaça as colheitas; e o país continua a importar, apenas alguns exemplos, 32% de carne de porco, 55% de bovino, e 75% dos cereais que consome.

Menos dado a doces, pouco importa à minha algibeira o desejado imposto sobre o açúcar. Contudo, já o mesmo não posso dizer em relação ao sal, que muito aprecio. O que me leva a admitir uma ida até à Figueira da Foz para, entretanto, fazer provisão de uns quantos quilos do precioso cloreto de sódio. É que se ao governo (sempre com a exclusiva preocupação, bem-hajam, da nossa saúde) lhe voltar a dar, amanhã, para taxar produtos com elevado teor de sal, imagino – a olhar para o que nos vai caindo em cima – o quanto impenderá sobre o sal puro, ele próprio...


Pedro Miranda, que sucede a Leal Pedrosa depois de 37 anos de serviço excelso, é o novo vigário geral da diocese; uma nota de apreensão para o estado do piso da, antes, rotunda de Santana, agora, com certeza, do Património, tanta a antiga calçada a descoberto; aí está, com a universidade, em boa verdade, quase paralisada nas suas aulas durante uma semana, a (para quando, de novo, as latadas?) Festa das Latas; a Académica/futebol distinguiu, bem, os sócios de prata e ouro; e, organizados pela Orquestra Clássica do Centro decorrem, até sábado, sempre marcantes, os Encontros Internacionais da Guitarra.

António Cabral de Oliveira 

A 11 de outubro ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Depois de única a nível nacional, e partindo das vantagens imensas que daí advêm – a sua respeitabilidade e prestígio, porventura mais do que no país, são ainda reconhecidos internacionalmente – a Universidade de Coimbra, nas singularidades que lhe são próprias, tem de ser, paradigmaticamente, com ou sem mais aulas em inglês, a grande escola, global, referência maior do ensino superior em língua portuguesa. Mas isso só é alcançável – e é, de facto, alcançável – com muito trabalho, uma imensa qualidade científica, dedicação inteira e, sobretudo, um projeto ambicioso e exigente que, com inteligência, liderança forte e o empenhamento de todos os seus corpos, projete os antigos Estudos Gerais para a excelência, para o lugar que é o seu. Sem desculpas demográficas ou outras, sem justificações economicistas, apenas com a certeza, indisputável, de que estudar, ensinar ou investigar em Coimbra, para além de diferenciador e garante de valorizados amanhãs, é, enfim, orgulhosamente, nem melhor nem pior... é único!

Uns, olhos postos na vitória, prometem, de novo, a descentralização, o fortalecimento e democratização das CCDR. Outros, na expetativa da não derrota, reuniam, assim regionalizadores e preocupados com a desertificação do interior, na "longínqua" Ansião. Useiros e vezeiros no incumprimento de promessas, para ambos, felizmente, o ridículo não mata. Se matasse, já não teríamos políticos. Deste jaez, pelo menos...

Ora eis um projeto – a recuperação do Terreiro da Erva – do maior interesse para a cidade. De um lado, concretiza uma praça capaz de restituir dignidade a um espaço urbano indispensável para a revitalização da Baixinha; por outro, viabiliza a sua reconquista para uma usufruição inteira por parte da comunidade coimbrã. Na expectativa de que o restauro da magnífica "Fábrica do Lagar", da Sociedade de Cerâmica Antiga de Coimbra, ficará, efetivamente, para uma já pensada segunda fase, o meu mais absoluto aplauso.

Uma pena, na última reunião do executivo, as dificuldades da atual maioria camarária em compreender a agora minoria quanto às preocupações, legitimíssimas, de proveito e valorização da marca (ou imagem, ou identidade, o que seja) Coimbra.

Neste tempo de redes – nunca, a propósito de tudo e de nada, ouvi falar tanto da indispensabilidade dessa, chamemos-lhe assim, teia de interesses e influências – acho muito bem a ideia de unir, na região Centro, em rota cultural e turística, os lugares Património Mundial. Alcobaça, Batalha, Coimbra e Tomar são – curiosamente todos a sul, "longe" da Plataforma A25 –, os territórios em boa hora envolvidos em plano interessantíssimo.

A fazer-me lembrar, vá lá saber-se porquê, designações da (para poucos saudosa) primeira República – e num dia em que na aberta, fraterna e inclusiva Coimbra, monárquicos e republicanos celebraram, lado a lado, sentados na mesma mesa de debate, os cinco de outubro de 1143 e de 1910 –, Marinho Pinto apresentou na cidade, sem precisar de descer a Lisboa, valha-nos o exemplo, o seu novo Partido Democrático Republicano.

Maratonas, marchas, caminhadas, corridas, sei lá que mais, entraram nos bons hábitos de Coimbra. De dia, à noite, para federados ou simples cidadãos, homens, mulheres e crianças, são, têm sido, inúmeras as provas. Todas a pé, claro. Como aconselha a medicina...e recomenda a crise!


Morreu Fernando Rebelo, os meus sentidos respeitos, que foi, magnífico, professor e reitor da Universidade, também cidadão empenhado em tantas causas (e lembro a luta contra a coincineração) de Coimbra; o Prémio Nacional de Saúde 2014 foi atribuído, parabéns, a José da Cunha Vaz, assim destacando "notável contributo para o desenvolvimento da oftalmologia no país"; o padre João Castelhano, longa vida, celebrou com a sua comunidade de S. José os 40 anos ao serviço da paróquia; a associação de basquetebol homenageou, muito justamente, Apolino Teixeira, um dos nomes maiores da modalidade; e a cidade passou a dispor de um hospital veterinário (universitário, mas não da Universidade de Coimbra) da escola Vasco da Gama.

António Cabral de Oliveira

A 4 de outubro ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Quando a presidente da CCDRC, Ana Abrunhosa, carregada de razão, dizia, referindo-se à ligação Coimbra-Viseu, que "infelizmente foi opção de governos anteriores fazer outras autoestradas que se justificavam menos", como se sentirão, hoje, esses responsáveis, como se assumem, também, os políticos regionais? Sem ponta de vergonha, todos, está bom de ver, quando os olhamos, por aí, nas suas continuadas caminhadas de Estado ou partidárias, alguns ainda ativos, convencidos, outros, serem venerandos, ou pelo menos respeitáveis, "senadores"...

Olho o mapa e não quero acreditar. Então, agora, em termos de reestruturação do setor das águas, o Centro fica dividida ao meio, o litoral para um lado, o interior para Lisboa e Vale do Tejo! Ou é a demência completa que por aqui, pelas Beiras, continuamos, mansamente, a consentir – o Alentejo e o Algarve exigem, obviamente, respeito pelos seus territórios –, ou o melhor é, de uma vez por todas, fazer a "regionalização" com uma única região: Lisboa.

Já ouvi Augusto Mateus em tantos locais e tão diversas circunstâncias apresentar planos e estratégias de desenvolvimento regional que, sem querer apoucar o seu trabalho, não acredito, olhando para o estado do país, em nada do que se enuncia. Mas isto sou eu, assim cético, a falar. Se calhar, o documento apresentado, no âmbito da CIM vai ser, não a salvação da Pátria, mas o esteio para o relançamento político, social e económico de terras de Coimbra enquanto espaço de progresso e bem estar.

A Direção Regional de Cultura do Centro vai dedicar especial atenção – e verbas – ao programa Rota das Judiarias, de âmbito nacional, mas que terá ampla expressão na Beira. Entretanto, Coimbra, com um riquíssimo património – nomeadamente os banhos rituais judaicos (mikvá), estrutura medieval em magnífico estado de conservação descoberta na Baixa –, empenhadíssima, como se afirma, no fomento do turismo, ainda está a analisar...a sua adesão à Rede de Judiarias de Portugal!

A Assembleia Municipal aprovou, na sua última reunião, um financiamento de cerca de seis milhões de euros para requalificação de edifícios no centro de Coimbra. Recentemente, o presidente da SRU do Porto tinha-se mostrado otimista quanto ao alargamento da reabilitação urbana a toda a sua cidade, prevendo que as novas áreas de intervenção venham, nos próximos 15 anos, a beneficiar de "cerca de 200 milhões de euros de investimento público" e de "1.300 milhões de investimento privado". Para além da diferença de escala, quedei-me, meditabundo, a pensar que por cá também temos, julgo ainda, uma SRU...

Volta a ser imensa a qualidade da programação das "Quintas do Conservatório". Depois, esta semana, de Pedro Burmester, as, neste tempo, "Cores de Outono", afirmam aquela iniciativa da Liga de Amigos como um dos valores efetivos na vida cultural de Coimbra. A não perder. Até outubro.

A propósito da noticiada abertura (já nem sei quantos são) de mais dois supermercados na urbe, recordo, não sem um sorriso, José Diniz dos Santos, fundador e proprietário da então monopolista rede Colmeia, que a todos nos conseguiu convencer, durante tanto tempo, sobre a impossibilidade económica e inconveniência social de Coimbra dispor daquelas grandes superfícies!

Hoje e amanhã, peque, submeta-se ao "suplício dos doces", delicie-se na VI Mostra de Doçaria Conventual e Regional de Coimbra, em Sant'Anna; Gonçalo Byrne trouxe ao Machado de Castro – para ali ficar em exposição –, o prestigiadíssimo Prémio Piranesi, que, para orgulho nosso, ganhou com o projeto de reconversão e ampliação do museu; Júlio Ramos, unionista dos quatro costados, um abraço, foi justamente homenageado na cidade; a Ramos e Catarino, bom (só fica a faltar a de Coimbra), construiu, em Valência, a maior loja IKEA de Espanha; e a Festa do Cinema Francês regressa ao Gil Vicente, não esquecer, de 6 a 10.


António Cabral de Oliveira

A 27 de setembro ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Foi sol de pouca dura. O hospital universitário de Coimbra, de acordo com o ranking anual elaborado pela Escola Nacional de Saúde Pública, já não é, este ano, o melhor do país. Contudo, depois do portuense S. João, mantemos, do mal o menos – o primeiro dos últimos –, a segunda posição. Ainda com algum orgulho, é certo, mas (pensando sobretudo nas cantadas mais valias da fusão) absolutamente inconformados.

As Comunidades Intermunicipais, antigo projeto de Relvas contra políticas efetivamente regionalizadoras, são, continuam a ser, para o governo, as instâncias certas para resolver, territorialmente, as questões e os desafios que estão além dos municípios e aquém, não das regiões, mas da nação. Assim, de uma só penada, o secretário de Estado do Desenvolvimento Regional, sem respeitar, sequer, a presença, a seu lado, da presidente da CCDRC – uma palavrinha, Castro Almeida, breve que fosse! – reiterava, na posse do Conselho Estratégico para o Desenvolvimento Intermunicipal da Região de Coimbra, a "elevada" consideração em que (não) tem as – ainda – NUTII. Que São Fillan, padroeiro contra a insanidade, lhes e nos valha...

Para o Jardim Botânico, espaço de inquestionável excelência, promete-se um "programa cultural de qualidade", também a "intervenção do século", nomeadamente ao nível de infraestruturas. Dentro em breve teremos, desejavelmente, tudo isso. Contudo, a atentar nas generalizadas queixas de abandono e desmazelo, na manifesta falta de manutenção ditadas por severo desinvestimento, poderemos, então, receio-o por exagero...é não ter jardim!

Um inquérito recente promovido pela Universidade mostrava que 65% dos turistas que a visitaram desconheciam que Coimbra é Património Mundial da Humanidade. Aí está, à evidência, o resultado do "mui excelente" trabalho que tem vindo a ser desenvolvido pelas Escolas, elas próprias, mas também pela Câmara Municipal, pelo Turismo do Centro, pela Estradas de Portugal.

Ao ponto a que chegaram, salvar as repúblicas estudantis de Coimbra poderá ser, receio-o, um projeto que não valha, sequer, a pena. Também porque, neste tempo de Liberdade, a meritória função que, reconheça-se, historicamente desempenharam, é hoje assegurada, com vantagens inúmeras, pelos serviços sociais da universidade. Para memória – o património, a cultura, essas coisas –, talvez seja suficiente preservar, através da sua musealização, uma ou duas das mais representativas. E, de preferência, não com estudantes, antes com figurinos de papelão!

É um prazer saber-se que em 76% dos lares de Coimbra se faz já a seleção de resíduos, números acima da média nacional, e encorajadores para se alcançarem metas ainda mais exigentes. Assim haja dinheiro para a melhoria de equipamentos e meios, que, em favor da urbanidade, atitude cívica não nos há de faltar.

Acabou, diz a Fundação, a "aventura" do ensino superior, começa, para formar quadros do setor, a Bissaya Barreto Saúde. Viva o Portugal dos Pequenitos...

Decorreu, outrora luzida, a cerimónia de Abertura Solene das Aulas na universidade; o movimento Cidadãos Por Coimbra – como que a antecipar a imensa (e imperdível) programação deste fim de semana a propósito das Jornadas Europeias do Património e Dia Mundial do Turismo –, debateu, com profundidade, muito bem, a classificação da UNESCO enquanto herança fundamental e projeto coletivo inadiável; a bandeira verde ECOXXI, que premeia as boas práticas em prol do desenvolvimento sustentável, não distinguiu, percebe-se porquê, Coimbra; para além da certificação de gestão de qualidade, parece haver, sem se apurarem culpados – mas como é possível?! – desvio de verbas nos Serviços de Transportes Urbanos; e, obrigado José Eduardo Simões, já chegou à Solum (ao pavilhão da Académica), "valorizando-a" comercialmente, a primeira loja chinesa!


António Cabral de Oliveira

A 20 de setembro ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR
Maurício Marques terá recebido, da parte do governo, a garantia de que, a muito curto prazo, será concretizada a nova estação ferroviária de Coimbra, "mais funcional e com melhor capacidade intermodal". Num tempo em que duas ou três recentes idas à estação de Aveiro me provocaram uma sadia inveja, continuo a aguardar, não por novos recados, sequer planos, antes pelo início dos trabalhos de construção. Recordando, entrementes, que a Refer, recentemente, se tinha comprometido a apresentar o projeto até julho (deste ano, é óbvio!), também que a cidade e a região recusam um qualquer arremedo de obra, antes exigem uma estrutura âncora para o seu desenvolvimento que responda às necessidades do presente, sobretudo às demandas do futuro.

O Conselho Geral da Universidade de Coimbra deu início ao processo de eleição do próximo reitor, que deverá ocorrer em fevereiro próximo. Em valor da tradição, "tudo como dantes, quartel general em Abrantes", ou será que já alguém faz contas...para deixarmos de fazer, sobretudo, contas?...

Aparentemente nostálgica do passado – o anterior executivo aprovou, o atual materializou – a câmara municipal restituiu a circulação automóvel em Santa Clara e na Guarda Inglesa à sua antiga fórmula, com trânsito em ambos os sentidos. Incapaz, sem a indispensável (ainda tardará muito?) colaboração da universidade, de concretizar a melhor solução viária através de uma artéria a nascer no interior do estádio, junto do pavilhão 1, assim se adia a devolução do Rossio a exclusivo uso pedonal, assim se vai deitando, já o escrevi e reitero, dinheiro à rua.

Ao contrário do anúncio ("duas entradas para uma saída feliz", lembram-se?) dos Armazéns Grandella, o parque de estacionamento do convento de S. Francisco devia ter, antes, uma entrada para duas saídas felizes. Mas não. O acesso único far-se-á ao nível da avenida, a saída através de rampa que nasce lá nos fundos, e obrigatoriamente em direção a Bencanta, até se inverter a marcha na rotunda mais próxima. Uma pena, pois, não haver, para além daquela escapatória para norte, outra no sentido do Portugal dos Pequenitos. Mas numa cidade onde no edifício das Químicas se esqueceram dos ácidos quando fizeram as tubagens; os autocarros não entram no estádio por causa dos aparelhos de ar condicionado; a ponte Rainha Santa, com aquela dimensão, privilegia não a circulação externa mas o centro da urbe, que mais poderíamos esperar?...

Não posso estar mais de acordo com Manuel Machado quando decidiu a não adesão de Coimbra à Semana Europeia da Mobilidade (ou Dia Europeu Sem Carros, o que seja). Sustentando, muito bem, que o que a cidade quer são novos autocarros e o Metro Mondego – e para ambos a administração central está-se nas tintas – é caso para acrescentar que folclore só o de raiz etnográfica, e genuíno!

Como o comprovam os pedidos feitos pelo presidente do município de Viseu aquando da recente visita do primeiro-ministro, Coimbra está sozinha na reivindicação da autoestrada de ligação entre as duas cidades. Será que Fernando Ruas não poderia explicar qualquer coisa sobre a região a Almeida Henriques, nem que seja fazendo-lhe um desenho?...

Como a Universidade de Coimbra não tem, sozinha, a verba de 150 mil euros para renovar as cadeiras do Gil Vicente, os responsáveis daquele teatro académico, com certeza desesperados, pediram ajuda à cidade. E embora julgue inacreditável a situação – não é isto bater no fundo? – serei o primeiro a adquirir um bilhete solidário, por exemplo de dez euros, para espetáculo imaginário, em gesto que corporize um agradecimento, seguramente por parte de muitos de nós, pelo tanto que o TAGV vem fazendo em prol da cultura.

Gosto de beldroegas. Mas prefiro-as, receita alentejana, numa boa sopa, não nos passeios de tantas ruas da nossa cidade. Onde, inadmissível, crescem, ainda, ervas altas e imensas, a transformarem os espaços – exagere-se para sublinhar – numa quase selva que ninguém capina.

O Confirmado de 1991, um baga que a Adega de Cantanhede ressuscitou das suas caves, é, na exigente ótica do Mundus Vini, este ano, o melhor vinho tinto de Portugal. Tão só! Parabéns imensos.


António Cabral de Oliveira