segunda-feira, 22 de julho de 2013

20 de julho ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Para o Conselho Regional do Centro resulta consensual, como não podia deixar de ser, que a ligação ferroviária entre Aveiro e Salamanca é "imperativa". Estamos tanto de acordo, há tantos anos, que essa conexão já existe desde 1882, através da Linha da Beira Alta, também para garantir, como agora se demanda, "a intermodalidade com os portos de Aveiro e da Figueira da Foz". Só receamos, no novo riquismo que nem as atuais dificuldades esbatem, é que se queira fazer obra nova em vez de melhorar a estrutura existente. Sobretudo, não se unam esforços para, indispensável desde já, de uma vez por todas, exigirmos a Espanha a eletrificação da linha a seguir a Vilar Formoso...

A Estradas de Portugal fez um levantamento de equipamentos degradados pelo último inverno e vai reparar 282 quilómetros de vias através de 24 empreitadas com um custo estimado de 15,5 milhões de euros. Coimbra terá (a par com Viseu) uma única estrada intervencionada, e só em Viana do Castelo (550 mil euros) se investirá menos do que o nosso distrito, com gastos de 670 mil euros. Tal como dizia um antigo companheiro de escola, de duas, três: ou as intempéries não estragaram as nossas rodovias, ou, se calhar, não temos, sequer...estradas!

Para além de algumas circunstâncias atendíveis, são números assustadores: cerca de 80% das vagas de acesso ao ensino superior estão concentradas no litoral, e só Lisboa tem mais vagas que todo o interior. Eis, pois, também em termos de ensino universitário e politécnico, o efetivo retrato de um país homogéneo, territorialmente equilibrado!! Onde Coimbra ainda consegue, para além dos concentracionismos metropolitanos, manter (com quantas candidaturas e por quanto tempo?) as mesmas vagas do ano anterior.
Li, há dias, que um terço dos incêndios florestais eclode – horas seguramente muito perigosas pelos picos de calor! –, durante a noite. E, também, que em Arganil se investiga uma vaga de fogos, 16, que tiveram as suas ignições praticamente no mesmo local, à mesma hora e nos mesmos dias da semana. Deve ser por estas e por outras que os números oficiais quanto a causa das ocorrências apontam sempre para origens naturais e descuidos humanos, bem menos para crime...

Tenho uma segunda sobrinha neta. Depois da Isabel, nasceu, agora, igualmente deliciosa, a Matilde. Um encantamento apenas ensombrado pela realidade que, preocupantíssimo, hoje se reflete na generalidade das quase vazias maternidades portuguesas. Com Coimbra a não ser, lamentavelmente, como constatei ao longo de alguns dias, a exceção que gostaríamos fosse paradigmática.

A Associação dos Antigos Estudantes de Coimbra celebrou o seu Dia. A força, a influência, imensas, que, se quisermos – sou logo eu a dizê-lo, e nem sequer ainda me fiz sócio –, conseguiremos dar a uma instituição que estrategicamente tanto pode pugnar pela nossa universidade, também pela cidade que a acolhe.

Morreu Luís Pinheiro, homem bom, amigo antigo que me ensinou a gostar mais e melhor das árvores, e que serviu, como poucos, quase nenhum, a floresta portuguesa; com o falecimento de José Dias – perdi a minha melhor fonte para as questões teológicas – a Igreja de Coimbra fica mais pobre; e depois de Henriques Gaspar ter sido eleito presidente do Supremo Tribunal de Justiça, José de Faria Costa, outra escolha que nos distingue enquanto urbe e escola, será o novo provedor da Justiça.


Está aí, usufruamos de tão significativos momentos, o Festival das Artes, que, entretanto, com a apresentação, sem deslumbramento embora, da Sagração da Primavera pela Companhia Nacional de Bailado, já me reconciliou com o Gil Vicente em matéria de dança; imperdível (de Malhoa a Columbano, de Amadeo a Almada Negreiros, de Vieira a Silva a Cargaleiro, para referir apenas alguns dos melhores da nossa pintura) a magnífica a exposição "100 Anos de Arte Portuguesa nos 100 Anos do Museu Nacional de Machado", que o Millenium bcp ali nos proporciona, gratuitamente, até 29 de setembro; as Águas de Coimbra, em reconhecimento de qualidade inquestionável, voltam a liderar o Índice Nacional de Satisfação de Clientes; e a PSP –que celebrou os 135 anos do Comando Distrital –, oferecidas pelo município, vai passar a fazer patrulhamentos em bicicleta: pode ser que, com tal entusiasmo velocipédico, se construam as ciclovias que não temos, quem sabe, a Volta a Portugal regresse a Coimbra...

António Cabral de Oliveira

A 13 de julho ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Reabriu, depois de um profundo trabalho de recuperação, belíssimo na sua singeleza, o claustro da Sé Velha. Agora só falta, como defende António Mariz, eterno apaixonado por Coimbra e sua antiga catedral, escancarar, através de um gradeamento, a opaca porta que, na Rua da Ilha, ao lado da Imprensa da Universidade, esconde, de forma inadmissível, tamanha riqueza patrimonial.

Em peça que titulava, referindo-se às PPP, de "Pulhices perfidamente preparadas", Filipe Luís, editor executivo multimédia da Visão (as saudades que tenho dos tempos da hierarquia simples do diretor e chefes de redação e secção), para exemplificar os exageros efetivamente cometidos em termos de obras públicas, referia, não podia deixar de ser, que "atravessar a Serra da Estrela com um túnel era uma obsessão à qual – dizia Pedro Serra, antigo presidente da Estradas de Portugal – sempre resistimos". Pena foi que os Serras e os jornalistas da capital deste país não tivessem resistido e contrariado o emaranhado de autoestradas, pontes, túneis e viadutos que se construíram à volta de Lisboa. E, um pouco, do Porto. Com a região das Beiras, a Serra da Estrela, sem nada, a olhar de longe essas vias e estruturas agora vazias de trânsito. Enfim, desabafos, de que não me canso, cá da província...

Repararam nas primeiras páginas dos jornais (ditos) nacionais que se publicaram no dia 23 de junho e que reportavam a notícia da classificação da Universidade, Alta e Sofia como Património da Humanidade? Chamadas mínimas no JN e no CM, ainda pequena, mas um pouco mais destacada, no DN, e, valha-nos isso, uma bela capa – parabéns também pelos trabalhos a propósito editados – do Público. É por estas e por outras que há jornais e jornais... e os cada vez mais respeitados jornais de proximidade, a imprensa local.

A Académica terá, este ano, três equipas de futebol sénior masculino. E lembrar-me eu das dificuldades, do trabalho e empenhamento, das influências que foi preciso mover para termos, nesse tempo, uma única equipa, então o CAC, que mantivesse, bem alto, o histórico nome da Briosa.

Com a morte, tão prematura, de José Tavares, Coimbra perdeu um dos seus vultos da cozinha e da restauração. Que, contudo, continuarei a encontrar sempre que for a uma qualquer banca de peixe escolher entre um bom robalo ou desafiante cherne, sempre que beber um excelente tinto do Douro como aquela reserva da Quinta da Silveira cuja escolha um dia lhe recomendei e de que teve o cuidado, e a enorme atenção, de guardar as últimas garrafas que me reservava para quando ia refeiçoar ao Trovador.

Fui ouvir, ainda com algum prazer, (o que resta da voz de) Gal Costa, no Choupalinho, onde recordei, aboletado em providencial esplanada de uma marca de cafés, concertos, outros, ali, por exemplo com Maria Bethânia, cheios de dignidade e com os espetadores confortavelmente sentados. O que me leva a perguntar se falta ainda muito – contrariamente ao que é habitual parece que se está à espera que passem as autárquicas! – para, assim se obstando também aos pífios momentos pseudo sociais que bivaques como o ali montado permitem, nos podermos encontrar, antes, no vizinho Convento de S. Francisco.

Barbosa de Melo é, oficialmente, anunciou-o o Botânico, candidato à Câmara pela coligação "Juntos por Coimbra"; gostei de saber, nesta cidade ainda tão pouco dada à formação em bailado, da boa prestação de alunas do Colégio da Rainha Santa Isabel em concurso de dança escolar em Inglaterra, também da premiada participação, no Dance World Cup, em Brigthon, da Academia de Dança do Centro Norton de Matos; e julga-se que, finalmente, o loteamento Jardins do Mondego vai deixar de ser o mamarracho que, por demasiadas razões, nos envergonha.

A municipalidade, de forma justa, embora com ligeiro atraso, atribuiu (ou há moralidade...) o grau de ouro da Medalha do Mérito Cultural ao Centro de Artes Visuais; depois do sempre reconfortante êxito da Serenata Monumental dos Antigos Estudantes de Coimbra, a zona da Sé Velha volta a receber, nas noites de sexta e sábado, até setembro, muito bom, o Jazz@Quebra; e mais de 300 barbies – se uma é demasiadamente mau, pode ser que muitas, assim, não o sejam tanto – ficam expostas, em sucesso com certeza garantido no país que somos... no Portugal dos Pequenitos!

António Cabral de Oliveira

sábado, 6 de julho de 2013

A 6 de julho ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR    
A Câmara, para além de outras merecidas distinções autárquicas, entregou o seu melhor ouro, muito justamente, ao Museu Nacional de Machado de Castro e à Escola Superior Agrária de Coimbra. E, também, porventura por um qualquer passe de mágica – sabem, o ilusionismo, aqueles truques que mesmo quando no-los explicam muito bem nunca conseguimos entender absolutamente – a Luís de Matos. Tudo enquanto o restante do Dia do Município decorria, este ano centrado na excelente Rua da Sofia e no digno Claustro do Colégio do Carmo...de acordo com os trâmites normais!

A Estradas de Portugal, meio ano depois da sua instalação em Antanhol, lá conseguiu uma nesga de disponibilidade para vir inaugurar o Centro Operacional Centro Norte e a Delegação Regional de Coimbra, também para aqui promover (deitando assim por terra, reduzindo absolutamente a pó todas as nossas críticas de posturas napoleónicas) uma reunião descentralizada da administração. Só foi pena, muita pena que, quando expetávamos anúncio de obra que se visse – talvez a autoestrada para Viseu, prioritariamente a conclusão (?!) dos IC 6 e 7 como ligação a Seia e à Covilhã –, a EP se tivesse limitado a generalidades e banalidades conhecidas.

Muito a propósito, o Teatrão levou à cena, nas ruínas do Colégio da Trindade, a peça "Arruinados", com certeza para bem aproveitar o estado de total degradação em que o edifício ainda permanece. E quanta pública vergonha deveriam sentir os responsáveis que, ao longo de tantos anos (tão férteis em dinheiros), conseguiram ver sempre adiados os trabalhos de recuperação daquele espaço onde se pretende instalar, já nem consigo lembrar desde quando, o Tribunal Judicial e Universitário Europeu. Um opróbrio, apesar da promessa de obras que, agora, pressurosamente – se calhar, afinal, ainda há pudor! –, se anunciam lá mais para o fim do verão...

Portugal é um dos destinos mais seguros do mundo, proclamou o ministro da Administração Interna durante o "Seminário Turismo e Segurança na Cidade de Coimbra". Se, felizmente, assim é, o que não seria, pelo menos na nossa urbe, se, absolutamente lamentável, a PSP não lutasse, como sublinhava há dias o seu comandante, com dificuldades em meios e instalações – por igual, dizem-me, em termos de agentes –, a GNR, foi relevado nas comemorações do último aniversário, não apresentasse queixas de carência generalizada, sobretudo de efetivos e viaturas...

Voltar o castelo para a vila e facilitar a locomoção de uma população envelhecida foram os grandes propósitos de Miguel Figueira, arquiteto da Camara Municipal de Montemor-o-Velho, quando, em vez de uma estrada, teve a excelente ideia, aliás premiada, de ligar o centro histórico com o seu mais representativo monumento através, nem mais, de uma escada rolante. Ascensor, agora inaugurado pela autarquia, que resultará lindamente também em função dos que, quase turistas, ali nos deslocamos para, de vez em quando, espraiar o olhar sobre os vastos e magníficos campos do Mondego...

Duas mortes marcaram, indelevelmente, a última semana. Primeiro, a de D. João Alves, Bispo Emérito de Coimbra, que, inteligente e culto, tantas vezes encontrei nas minhas lides jornalísticas. Depois, a de Mário Nunes, homem do património e da cultura popular, que adorava a letra de forma, amigo de muitos anos, companheiro de tantas jornadas em prol de Coimbra e da comunicação social. As minhas sentidas homenagens.

Se a cidade não serve a milhares de jovens que, fruto sobretudo de políticas centralistas, têm de rumar a Lisboa para encontrar um emprego, Coimbra é, pelo menos, espaço de referência para o Envelhecimento Ativo e Saudável, galardão, muito relevante, único no país, agora atribuído pela União Europeia; o centenário Tiro e Sport, para celebrar o presente, promoveu, ideia curiosa, dois concertos com – recordam-se deles? – os Álamos; Faria de Abreu (que por algumas vezes me ajudou a poder ler melhor) foi justamente homenageado nos HUC; o estádio universitário comemorou – lembrem-se ao menos as efemérides – o seu 50º aniversário, oportunidade que serviu para se anunciar a candidatura, em 2018, de novo, esperemos que então com mais êxito, aos EUSA Games; e a Feira Popular, muito graças à persistência de José Simão, o presidente de Santa Clara, está aí, aguardando-nos, no que tem de essencial, até 14 de julho, no Choupalinho.

António Cabral de Oliveira
 

A 29 de junho ACO escreveu ...


RIO ACIMA,SEM MOTOR

Foi naturalmente enorme a emoção com que recebi a notícia da inscrição da Universidade, Alta e Sofia como Património da Humanidade. Indizíveis a alegria, a felicidade, o orgulho, sentimentos envoltos, confesso, por algum alívio. E tudo, afinal, pela coisa mais comezinha deste mundo: o reconhecimento (como muito bem dizia aquele cidadão de Granada, "achava que já era") do valor, imenso, que a nossa cidade encerra em todos os domínios, com certeza também em termos de património, material e imaterial. Saibamos agora nós, Portugal inteiro, bem aproveitar a simples existência de Coimbra.

Sendo certo que a classificação, em si mesma, pouco resolve mas muito nos responsabiliza, este é, seguramente, um momento de altíssima importância coletiva para Coimbra. Não tanto por o ser, sobretudo pelo que seria se não o fosse. E que levou a um coro, infindável, de júbilo e congratulação, da Presidência da República ao ministério dos Negócios Estrangeiros e à secretaria de Estado da Cultura, do governo à oposição, do país inteiro às forças locais. De quem esperamos, para além de palavras sempre saborosas e incentivadoras, ações concretas que celebrem, essas sim, a distinção. E de que me permito, desde já, destacar, relembrando-a – deste jeito ainda mais inadiável – a criação, em Coimbra (não o pode ser em mais nenhum outro lugar) não de um ... mas do Museu da Língua Portuguesa.

Entretanto, e ainda a propósito da reunião no Camboja, uma cópia coeva do diário de viagem de Vasco da Gama passou a integrar a Memória do Mundo da UNESCO, decisão que terá enchido de soberba a Biblioteca Municipal do Porto, depositária daquele tesouro bibliográfico. Que foi, digamos apenas assim, retirado, – não o esqueçamos nunca – do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, pela mão, de tal jeito "amiga", de Alexandre Herculano.

Com uma ponta de justificada vaidade, José Miguel Júdice apresentou, na sua – assim tornada também nossa – Quinta das Lágrimas, o 5º Festival das Artes que, desta feita, sob o tema " Natureza", vai decorrer em Coimbra de 16 a 23 de julho. Com um programa naturalmente mais curto (o primado da qualidade em detrimento da quantidade), são muitos os momentos culturalmente relevantes, designadamente, apenas alguns exemplos, as participações da Orquestra Gulbenkian e da Companhia Nacional de Bailado, a leitura encenada José Reis e o recital de piano de António Rosado. Enfim, tome o prático harmónio elaborado e, de entre a vasta oferta prevista, selecione as ações mais desafiantes. Depois, com certeza feliz por viver em Coimbra, deleite-se participando num festival que temos de continuar a merecer.

Regionalista como me afirmo, procuro sê-lo de forma tão esclarecida quanto possível. Entendo, por isso, que as direções dos vários serviços devem estar reunidas na sua capital regional, repartindo-se estruturas descentralizadas pelas principais urbes e pólos, de acordo com o princípio da subsidiariedade. Se o governo não pode ter, naturalmente, ministérios e secretarias de Estado distribuídas pelo país inteiro, também as regiões, para ganharem indispensável coordenação, não podem ver disseminados pelo território os seus centros de decisão. Tudo o que for para além disto é demagogia barata, porventura bairrismo. Ou, então, opção por formas de centralismo, tão queridas de uns quantos para manterem níveis de poder administrativo que devem estar, antes, próximos do cidadão. Dito isto, está encontrada, meu ver, a localização da sede da Entidade Regional de Turismo Centro de Portugal.

Absolutamente justa a – aliás muito participada – homenagem da Liga de Amigos do Museu Nacional de Machado de Castro a Adília Alarcão, anterior diretora e grande mentora, nas últimas décadas, daquela magnífica instituição cultural; também muito merecido o tributo prestado a Emília Cabral Martins, diretora da Orquestra Clássica do Centro e “alma mater” de um projeto que não raro me questiono como ainda sobrevive, e que se deve, essencialmente, ao seu persistente empenhamento; a Universidade voltou a alcançar, muito bem, as mais altas classificações – 4 e 5 estrelas – no QS Stars University Ratings; e a PSP chamou o Centro de Inativação de Engenhos Explosivos, o CIEE, localizado em Leiria, que se deslocou à Fernando Namora para levantar, imagine-se, uma simples munição de fogo antiaéreo – isso mesmo, um banalíssimo projétil ­, assim gastando o dinheiro que não temos, enquanto (afinal o ridículo já não mata), se chegava a fechar ao trânsito, como perímetro de segurança, uma das vias daquela avenida...
 
António Cabral de Oliveira

A 22 de junho ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR
Primeiro, foi atual Reitor a escrever que "independentemente da decisão final da UNESCO, esta candidatura já valeu a pena"; depois, o anterior Magnífico a reiterar que "se a candidatura não for aprovada "será uma grande desilusão", apesar a certeza de que "todo o processo valeu a pena, independentemente do seu desfecho"; agora, o vereador Paulo Leitão a sustentar que "existe a possibilidade do reconhecimento acontecer só no próximo ano". Quando alguns receiam o esquecimento de posições fundadoras na memória coletiva, estão aqueles a augurar o quê? Ou, apenas, precavidos, a tentar justificar, antecipadamente, insuficiências de empenho e trabalho no processo de candidatura a Património da Humanidade da Universidade, Alta e Sofia? Valha-nos, continuamos convencidos, o "valor do bem".
Empreendedorismo enquanto unidade curricular aberta a todas as faculdades da Universidade de Coimbra, empreendedorismo na Escola de Hotelaria, empreendedorismo na Escola Superior Agrária, empreendedorismo em Saúde, tertúlia de empreendedorismo na Praxis, enfim, uma bolha, imensa, de empreendedorismo a erguer-se, qual panaceia, por toda a parte. Um cansaço tornado moda que, esperamos, traga, pelo menos, algum resultado positivo em região com tão poucos empresários mas, pelos vistos, com muito, muito empreendedorismo.
Parece que Montemor-o-Velho gostaria de ter tido, para além da Eurosport (que belas imagens as transmitidas, gratuitas mas não universais, pela rede europeia), uma televisão nacional, de sinal aberto, a fazer, o que me parece óbvio, a cobertura em direto do Campeonato de Europa em Canoagem, que ali reuniu 700 atletas de uma trintena países. Mas, ironizemos, será que estas gentes – devem pensar os altos responsáveis centrais – não se enxergam e julgam que a vila do Baixo Mondego é Lisboa ou um qualquer subúrbio da capital?! Francamente...
À designação de II Mostra de Teatro Universitário, promovida pelo Gil Vicente, só faltará, mesmo, acrescentar o Local, já que, exceção feita ao Noite Bohemia, oriundo da Corunha, todos os quatro restantes grupos são de Coimbra. Mas não se leia qualquer propósito crítico nesta nota. Apenas quero significar que, lembrando realizações anteriores, urgem novos e maiores esforços – entretanto já prometidos – para tornar mais forte uma iniciativa que, vivamente, se saúda.
A Estradas de Portugal, dando o dito por não dito, considera que a construção de um nó rodoviário de ligação da variante Sul do IC2 ao planalto de Santa Clara, designadamente para melhorar o acesso ao IKEA que ali se quer instalar – e aliás previsto no projeto ­ seria agora prescindível devido à atual redução do trânsito automóvel. Sabendo nós os enormes fluxos de tráfego provocados por aquelas lojas, também o crescimento que se estima para o espaço urbano, só nos apetece rogar: Deus ajude, no Céu, tais luminárias da EP, porque na Terra, pelo menos nesta terra, cansados de tantas iniquidades, receio já não lhes podermos valer...
A edilidade (que pena as ausências da vereadora da cultura e de António Vilhena) aprovou, justíssima, a atribuição da medalha de mérito cultural à Orquestra Clássica do Centro; marchas populares e Noite Branca – parabéns a quem persiste – levaram uma multidão à Baixa; muito simpática (deliciosas aquelas minis sandes de leitão) a I Mostra de Gastronomia "Sabores do Mercado", com que se procura dinamizar o D. Pedro V; Coimbra promoveu – pode ser que agora, quando os dinheiros não abundam, se encontre outra utilidade nas geminações que não apenas as inerentes às agências de viagens – um encontro com as mais das suas muitas cidades irmãs; e a Câmara Municipal, hoje estes, amanhã aqueles, promove, em vésperas de autárquicas, folguemos pois, grande festança na cidade.

António Cabral de Oliveira

A 15 de junho ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR

 Diz a sabedoria popular que não há duas sem três. Assim, a somar às mais recentes derrotas da cidade – ambas, com certeza, injustas, mas muito penalizantes para o nosso orgulho coimbrão – quero acrescentar, conto também, com a perda, em 2012, para Guimarães, da Capital Europeia da Cultura, a que, depois de Lisboa e Porto, almejávamos naturalmente. E tudo isto para, finalmente livres da malapata, podermos, de hoje a oito dias, então em termos de Património Mundial, ser felizes...
O Magnífico Reitor, na sua óbvia propensão para contas, classificava os Jogos Europeus Universitários 2016, se se realizassem em Coimbra, como oportunidade excelente para a requalificação do belíssimo estádio em Santa Clara. Uma empresa que, agora, mais do que nunca, apesar das circunstâncias, nos deve motivar especialmente, para, de uma vez por todas, embora por fases, acabarmos com aquela decrepitude que nos envergonha. Com o apoio da cidade, é evidente, mas também do governo, que não se pode quedar pelas bonitas palavras proferidas, a propósito daquela candidatura, pelo secretário de Estado da Juventude Desporto (a ver vamos do que é capaz Emídio Guerreiro, tão próximo de Coimbra), mas, sobretudo, e inadiavelmente, sob a alçada e iniciativa da Universidade.
O desassoreamento do Mondego, do açude-ponte à Portela, está, ninguém duvida, depois de muitos anos de projetos, mais do que estudado. Não se entende, por isso, de todo, tantas águas passadas sob as pontes, que não haja – neste tempo de pouca ou nenhuma construção civil que torne aliciante o (outrora famoso) negócio das areias – plano alternativo para a eventualidade do concurso ficar vazio. Vazio, por um lado, de concorrentes, por outro, de capacidade gestionária. Enfim, constrangimentos de um rio que, numa saborosa (e parcialmente ultrapassada) antiga definição de Fernandes Martins, ao contrário dos outros que têm margens de areia e leito de água, tem, o nosso, leito de areia e margens de água...
Confinado ao espaço que diariamente frequento nas minhas caminhadas, depois de algumas experiências menos significativas, foi agora a vez de um outro prédio, o n. 68 da Carolina Michaelis, ver adotado, muito mais gritante, um arranjo minimalista na recuperação da respetiva fachada, trabalho com certeza mais barato para os seus proprietários, mas em absoluto descaracterizador da urbanização em que se insere. Não acreditando que a Câmara Municipal tenha autorizado tal agressão, receio não poder (ou será que afinal posso?) instalar na minha varanda uma chaminé extratora de fumos que viabilize a possibilidade de poder tabaquear, na sala que me é mais confortável, sempre prazeroso charuto.
Com ou sem cinco milhões de euros a caminho da baixa de Coimbra, a verdade é que nenhum projeto foi anunciado para reabilitação urbana na cidade durante a cerimónia que, com participação governamental, decorreu, curiosamente, na CCDRC, aqui sediada. Significativo. Pelo menos para mim...
Na sua incessante luta em defesa do arroz do Baixo Mondego, Carlos Laranjeira – e a sua associação de agricultores – promoveu a realização de um jantar, na Escola de Hotelaria de Coimbra, onde foi servido, não podia deixar de ser, o nosso excelente carolino. Um combate, que acompanho há tantos anos, em defesa de um valor económico, naturalmente, também cultural, obviamente.
Ardeu – leio e quase não acredito que até o sistema de deteção de incêndios esteja centralizado na capital, enquanto me pergunto se um dia destes não acionarão os bombeiros de Lisboa, talvez os do Porto que sempre estão um pouco mais perto – o Pingo Doce da Baixa; o IPO demarcou-se, semanas (ou meses?) depois, de uma campanha de angariação de donativos que tem andado por aí, à vista de (afinal) quase toda a gente; com utilização de madeiras das obras do convento de S. Francisco – que, afinal, apesar dos seus detratores, já serviu, brinquemos, para qualquer coisa – ficou concluída, a tempo da época balnear, a reconstrução da ponte pedonal Palheiros/Zorro; e houve absolvições e penas suspensas – o normal no nosso país – no julgamento dos CTT...

António Cabral de Oliveira

A 8 de junho ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR
Apesar da vitória moral com que sempre nos queremos consolar, Coimbra perdeu para Zagreb (já agora, senhor presidente, e a propósito, a "cidadezinha" que referia ter jogado naquele campeonato era a nossa?) a realização dos Jogos Europeus Universitários 2016. Pode ser que o amargo da derrota – foi disso que efetivamente se tratou, com efeitos negativíssimos para todos – nos ajude, coletivamente, a nível nacional, a arrepiar caminhos. Fala-se de geopolítica. Acredito que sim. O problema não terá sido tanto o da qualidade da nossa candidatura. É, com certeza, muito mais, o do estado a que deixámos chegar este país.
 
Como resposta aos objetivos da estratégia nacional entretanto traçada, a Universidade do Porto aposta no seu Pólo do Mar, em construção entre Leça da Palmeira e Leixões, através de núcleos de biotecnologia e engenharias, que alocará mais de 500 investigadores. Da Universidade de Coimbra – que acolhe o IMAR e o CEF, dois centros de investigação de reconhecida qualidade –, da sua aposta em tão determinante setor, designadamente através de extensão, naturalíssima, à Figueira da Foz, não há qualquer notícia. Isto enquanto, a propósito dos peixes e mariscos ultracongelados à venda nas nossas grandes superfícies, vindos de todo o mundo, mesmo das mais recônditas paragens, recordo palavras de João Quadros: o que não pouparíamos se Portugal tivesse mar...

Na gastronomia, o leitão, nas tradições e costumes, a Queima das Fitas, nos monumentos, a Universidade de Coimbra, na praias, a Figueira da Foz, estas, de acordo com uma investigação sobre a imagem de marca e notoriedade do Centro de Portugal, realizado por (obviamente insuspeita) empresa de Aveiro, as principais valias turísticas desta Região das Beiras. O estudo foi desenvolvido durante a Bolsa de Turismo de Lisboa, e nele se releva, ainda, apenas uma curiosidade, que os inquiridos consideram (também obviamente, acrescento eu) Coimbra como a cidade mais importante da região, com 31%, seguida de Aveiro, com 11%. Afinal, conclui-se, não estamos assim tão mal vistos aos olhos dos portugueses...

Para o maestro diretor do concerto comemorativo dos 500 anos da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, a iniciativa – no próximo dia 15, no Pátio das Escolas, com a interpretação da sinfonia n. 9 de Beethoven e uma "massa coral" de 150 vozes (Orfeon Académico, Coro Inês de Castro e Coro Misto), a que se juntam 50 músicos da Orquestra do Norte – "vai ser genial". Genial seria, permito-me corrigir, se, bem aproveitando o que de bom temos na cidade, em vez dos intérpretes migrados, se fizesse ouvir a nossa Orquestra Clássica do Centro. Mas que, provavelmente... não conhece a famosa composição do compositor alemão!

Trinta, ou mais, já nem consigo lembrar, anos depois de construída – e mais vale tarde do que nunca –, a Teófilo Braga lá teve finalmente direito a ver pintada sinalização horizontal no pavimento. Com a iluminação pública um pouco (embora insuficientemente) melhorada, só ficamos à espera, para a olharmos como uma verdadeira artéria urbana, do arranjo do passeio do lado da Escola de Hotelaria e, já agora, da plantação de árvores que substituam as entretanto derrubadas.

O presidente da Câmara, na sua proverbial bonomia, diz-se agora enganado pelos CTT quanto às estruturas da empresa em Coimbra; preocupantes, pelo menos para mim, as recentes referências, na comunicação social, à nossa empresa almirante nas novas tecnologias; a Brigada de Intervenção, resquício último (embora relevante) da presença militar em Coimbra, comemorou o seu sétimo aniversário; o Grupo Fado ao Centro venceu o Prémio Edmundo Bettencourt, atribuído pela Câmara Municipal; o Jazz ao Centro, no seu Encontro Internacional, trouxe à urbe – magnífico o espetáculo de Evan Parker em Santa Clara-a-Velha – uma bela programação; e hoje, não nos esqueçamos, realiza-se no largo da Sé Velha, imperdível, a sempre excelente Feira Medieval.
 
António Cabral de Oliveira