sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Livraria do Mondego - em resposta a JT




Quando estou deprimido, pego nas Jóias de Castafiore, quando me sinto o melhor do Mundo, nas 7 Bolas de Cristal. Quando penso em Goa (portanto, este é um álbum muito usado nos últimos tempos!) não dispenso Os Charutos do Faraó, e quando mergulho nos problemas da Macau dos do século XIX, percorro as páginas do Lótus Azul. Antes de partir para qualquer destino Europeu, não dispenso uma releitura do Dossier Tournesol. Para mim, a Escócia (que não conheço) será sempre a terra inóspita da Ilha Negra, e os monges budistas do Nepal serão merecedores (pelo menos numa primeira aproximação!) da minha mais sincera simpatia. Um eclipse lembra-me invariavelmente as desaparecidas civilizações da América Latina, os ditadores que por aquelas bandas puluraram serão, a meu ver, e instintivamente, sempre refracções de Generais Alcazares e Tapiocas, e gosto de acreditar que nas selvas daquelas terras ainda se encontrarão muitos fétiches arumbayas, com a orelha quebrada e cheios de mistérios. Os japoneses são piores que os chineses? Provavelmente não - mas o sr. Mitsuhirato e os seus comparsas criaram em mim alguma aversão pelos nipónicos (e correspondente simpatia pelos chineses), que por vezes difícil de superar. Há problemas com os árabes radicados na Europa? Ah! Se lessem o Caranguejo das Tenazes de Ouro, perceberiam melhor! O preço do barril do petróleo aumenta e as guerras na Arábia em torno do Ouro Negro não cessam? Será tudo culpa dos xeques - mesmo que tenhamos de suportar os seus insuportáveis Abdalahs mimados - ou algum Dr. Muller andará envolvido na contenda? Os índios são intrinsecamente bons, mas os brancos cobiçosos é que os irritam, nos PALOPs as imagens de Coco e do missionário simpático mas duro dificilmente me abandonarão, e Carvão no porão será sempre sinónimo do mais repugnante dos tráficos! Quando olho para a lua, imagino aquela que o foguetão vermelho e branco explorou e, a meio de um projecto científico, por vezes sinto-me num universo paralelo ao da Estrela Misteriosa. E, quando tenho de fazer uma viagem que não me apetece, penso nos muitos portugueses que, nas páginas dos álbuns, palmilharam o mundo: desde o inevitável Oliveira da Figueira ao correspondente lisboeta em NY, não esquecendo o ilustre Professor Santos, da UC!


Tintim - digam o que disserem do personagem, da obra e do seu autor (que é gay, que é fascista, que é colonialista, que é irreal, que não muda de roupa, que não envelhece, que oprime os desgraçadinhos, que não tem namorada, que é um sonso tótó, etc, etc, etc) é o meu herói. Em inúmeros momentos da minha vida (e eu lembro-me do Tintim desde sempre) relembro personagens, paisagens, gags. Por exemplo: quando estive em Goa, lembrei-me terrivelmente de Tintim e de alguns dos personagens dos seus álbuns. Mais: em alguns casos, a estranheza que eventualmente senti perante alguns locais e algumas pessoas foi muito mitigada pela tintinofilia.




De alguma forma, não concebo a minha maneira de estar sem um Tintim à mão - e tudo isso começou na célebre Livraria a que JT faz menção no seu magnífico post! Pobres JT, ZN (este um grande responsável pelo meu gosto pela BD e pela minha tintinofilia) e outros tios, que massacrei para me traduzirem os Tintins em francês, vezes e vezes sem conta! E pobre Mãe, também, que também mos releu repetidamente, e me comprou a versão brasileira (a única disponível no magro mercado português nos early 80's), à qual hoje ainda recorro com enorme frequência, apesar do mau estado de alguns (de muitos, na verdade) dos seus volumes!




Foi na Livraria PL que - e eis a razão da ilustração deste post - aprendi a importância do estudo das papeladas velhas, que hoje tão caro me é! Quando, nos restos do Licorne, Tintim descobriu uma arca repleta de manuscritos, a decepção geral foi imensa . No entanto, o paciente Professor Tournesol (ou Girassol, como preferirem) levou os papéis para a sua cabine. Enquanto, no exterior, os demais iam queimando as suas esperanças de encontrarem o famoso tesouro, Tournesol estudava os papéis. Quando, desalentados, retornaram à Bélgica, Tournesol continuou o seu labor. Após a chegada, prossegiu, sem hesitar. Até que, num belo dia, fez-se luz! O segredo dos Três Irmãos Unidos, dos Três Licornes Juntos e da Cruz da Águia estavam, afinal, nos ditos manuscritos! Tintim demandou ilhotas desabitadas e palmilhou o fundo do mar, mas o tesouro estava em Moulinsart - como explicavam os papéis!


No AHU, sinto-me um pouco Tournesol. Quando acabar a tese (já falta pouco!), chegarei a Moulinsart! Na bagagem, levarei decerto os velhos Tintins PL! E àqueles que quiser impressionar com a minha sabedoria, perguntarei: Quem é a Águia de Patmos? ;)

1 comentário:

  1. Extraordinário Post Luís!
    Concordas, certamente, com a afirmação de que as aventuras de Tintin são uma autêntica enciclopédia do século XX!
    Sobre a personalidade do Tintin muito haveria a dizer. Mas é um jovem, provavelmente com menos de 18 anos, que não há maneira de envelhecer no tempo e, sobretudo, é uma personagem de ficção mas que nos prende a uma realidade de alta definição, cinematográfica e brilhantemente bem iluminada. Todos os pormenores importantes estão lá. Tudo o resto é ruído, que só podem atrapalhar a narrativa, tendo sido, por isso, filtrado dos quadradinhos desenhados pelo Hergé.
    A aventura do Tintin que melhor explica aquilo que disse é, sem dúvida, As Jóias de Castafiore.
    Também sou fã do Tintin. Muitas vezes exibo uma gravata do Tintin no meu pescoço!
    Como deves saber, o Tintin tem uma ligação umbilical com os PL! Atrevo-me a dizer que são os pilares (ilhargas?) das estantes da Livraria PL! O que até não está mal para uma rica enciclopédia do século XX!
    Vou investigar a Águia de Patmos...confesso que não sei o que é, nem quando aparece.

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