domingo, 14 de junho de 2015

A 6 de junho ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Um dia destes, como se fosse grande novidade e desafio ainda maior, ouvi referir, durante uma sessão sobre museus, a possibilidade de Coimbra vir a ser, no nosso país, a próxima Capital Europeia da Cultura. Estou, como estive em relação a 2012, ano em que foi escolhida Guimarães (e agora já se fala em Évora), inteiramente de acordo. Mas, primeiro – e não esqueçamos que nem um simples quadro recentemente adquirido pelo Estado conseguimos colocar no Machado de Castro –, temos de afirmar peso político, de que, de momento, tão desprovidos andamos. Só então estaremos em condições para dar ao governo, leia-se sobretudo ao primeiro-ministro, as "garantias" de que a cidade é a melhor escolha. Isto se Portugal tiver "condições", e houver ainda tais capitais...

Foi um Manuel Alegre emocionado – ainda há, felizmente, cidadãos que sentem Coimbra de maneira assim muito especial – que recebeu, "a mais importante na minha vida", a Medalha de Ouro do município. E para todos nos darmos bem conta da forma particular com que acolheu a distinção, o seu autor fez entrega à cidade – "a quem pertence desde sempre e para sempre", diria – do manuscrito original da Trova do Vento Que Passa. Em boa hora encontrado pelo poeta, ocasionalmente, dois meses atrás. Gostei, gostámos todos, da agradável e valiosa surpresa. Obrigado, Manuel Alegre.

O presidente da Associação Comercial e Industrial da Figueira da Foz disse, cheio de razão, não se compreender que a Universidade de Coimbra, ao longo dos seus 725 anos, "ainda não tenha considerado suficientemente apetecível a biodiversidade única do estuário do rio Mondego e a costa da Figueira para criar um pólo marítimo de excelência nesta cidade, e se reduza a recolher amostras para colocarem apresentações de power point e teses". Pertinentes palavras. Não será, de facto, mais do que tempo de as ouvir?

O ranking da Bloom Consulting, que nos consolida no quinto lugar entre os municípios portugueses (e não cidades, leia-se bem) deve ser olhado como um instrumento de trabalho para a definição de prioridades políticas autárquicas, para o alcançar de lugar outrossim consentâneo com a realidade. Mais do que ser o melhor município da Beira, deve interessar-nos, sobremodo, que Coimbra se empenhe e trabalhe para atingir, sempre, aquela que é a sua posição natural no quadro nacional: ser a melhor. Ultrapassando, sabemos, os constrangimentos estruturais, as dificuldades criadas administrativamente, os propósitos de esvaziamento em que os sucessivos governos centrais têm apostado. Mas também, reconheçamos, vencendo a fraqueza – nossa – das suas gentes!

A Fundação Francisco Manuel dos Santos, na sua magnífica ação em favor da sustentação do desenvolvimento nacional, juntou-se ao Diário de Noticias para, através da oferta de livros de sua edição, garantir "mais cultura e informação" aos portugueses. E fizeram bem. Pena circunscreverem-se, sempre o mesmo, à mesma Lisboa. E não trazerem a iniciativa, por exemplo, igualmente a Coimbra, onde, em simultâneo, decorria a nossa Feira do Livro. É que aqui também há cidadãos – desde logo a administradora da FFMS, Maria Manuel Leitão Marques –, também leitores do DN. Talvez para o ano...

Com receios estultos quanto a Coimbra, e por culpa dos políticos que temos, primeiro foi Aveiro a ver-se quase transformada no território suburbano que hoje é em relação ao Porto. Perante tamanha adulação pela urbe do Norte por parte de responsáveis autárquicos – a nova linha ferroviária, agora o turismo –, tememos bem, enquanto beirão, que um dia destes seja Viseu que, pelas mesmas razões, lhe venha a seguir as pisadas.

Com dignidade, mas sem o luzimento que a efeméride amplamente justificava e merecia – nem ministra, comandante-geral, sequer o presidente da câmara –, a GNR comemorou o centenário da sua presença em Coimbra; a Casa dos Pobres festejou os 80 anos enquanto homenageava, parabéns para ambos, Aníbal Duarte de Almeida; o "mendigo Basílius", ator benfazejo, foi justamente distinguido pela cidade; os espumantes da Bairrada em Coimbra voltaram a ter o (agradável) esperado êxito; foi excelente a resposta da região ao Banco Alimentar; e parece que este ano não se realiza, pode lá ser!, a Festa da Sardinha, na Figueira da Foz.


António Cabral de Oliveira

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