domingo, 14 de junho de 2015

A 16 de maio ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Pouco valorizados, para não dizer nada prezados, Coimbra dispõe de um amplo e muito rico conjunto de claustros. De Celas aos tantos dos edifícios da Universidade, da Sé Velha a Santa Cruz, dos Colégios da Rua da Sofia aos dos Conventos Velho e Novo da Santa Clara, serão mais de vinte, conto por alto, aquelas estruturas arquitetónicas. Uma verdadeira rota que nunca soubemos bem aproveitar de um ponto de vista cultural, eventualmente, até, em circuitos turísticos que nos levassem, aqui, surpreendidos por breve peça teatral, a uma bebida refrescante; ali, beberricando uma bica, entre dois acordes musicais, a um tempo de contemplação da nossa riqueza patrimonial; acolá, a uma especialidade gastronómica, talvez apenas um dos nossos deliciosos doces conventuais; mais além, entrecortado, quem sabe, por momento de bailado, ao jardim recuperador de conceitos de beleza que a azáfama do dia-a-dia nos impede de olhar. Mas, caio em mim, tudo isto será, porventura, pedir demasiado numa cidade, também falando de claustros, com excessivas "quintas"...

A possível – e, julgo, desejável – passagem da Silva Gaio para a faculdade de Ciências do Desporto não deixa de provocar algum constrangimento a pais e professores da atual escola. É natural. Mas quando é a própria diretora a dizer que o estabelecimento de ensino apenas alberga cerca de 200 de um total dos dois mil alunos para que tem capacidade, quando são conhecidas as disponibilidades em instalações face ao decréscimo de alunos do básico e secundário, e quando as instalações se localizam mesmo ao lado do estádio universitário, tudo indica o quê?

Não conheço senão as linhas gerais do projeto do Instituto Multidisciplinar do Envelhecimento, a instalar, desejavelmente, no antigo hospital pediátrico. Sei é que os terrenos cedidos para a ampliação daquele estabelecimento de saúde são pertença da câmara, e deviam ter já revertido, depois da transferência da unidade para os novos e modernos espaços, ao seu destino inicial: zona verde. A Quinta de Voimararães ficará mais aprazível, a cidade agradecerá. Muito.

Um cidadão fez cerca de 50 quilómetros em sentido inverso na A13, no troço entre Tomar e Coimbra. Situação, impensável, em grande parte só possível pelo pouco movimento rodoviário que aquela autoestrada apresenta hoje em dia. É também por isso – tornar-se afinal menos perigosa pelas longas distâncias em que pode ser percorrida em contramão – que urge a sua conclusão de Ceira até ao IP3, cerca de Souselas (e, ao contrário do que por aí se alvitra, em perfil de via dupla) para ver ampliados, com certeza, os fluxos de trânsito que assim impediriam, em tal extensão, tamanho insólito.

Sempre que penso em rotários, a imagem dominante – eventualmente errada, admito-o – era (e em boa parte ainda é) a de uns jantares mais ou menos tertulianos. Contudo, e neste tempo em que as atenções sobre aquele espaço verde estão mais centradas em novas ligações universidade/Baixa, impressionou-me muito favoravelmente uma ação, entretanto concluída, que aqueles companheiros, assim se tratam, concretizaram, em tantas manhãs de domingo: os trabalhos, voluntários – e talvez por isso mesmo mais empenhados – de limpeza e valorização da mata do Jardim Botânico. E que foi, de facto, uma marcante iniciativa de cidadania, exemplo do quanto poderíamos fazer em favor do interesse comunitário. Se quiséssemos.

A problemática do apoio camarário à esterilização dos urbanos felinos é, antes, um saco de gatos de outras e mais antigas questões nunca resolvidas ali para os lados da Sofia; os bancários, também eles, ainda sindicalmente agregados por regiões, defendem que o que é nacional é bom; culturalmente, o cavaquinho, comprove-o no antigo refeitório crúzio, pode também ser, para além de instrumento musical, suporte de intervenção plástica; os Dolce Vita faliram e foram ou estão à venda (em breve será o de Coimbra), sempre sem interferência, garantem, no desenvolvimento e gestão diária; gostei da ideia da torre da universidade ser iluminada, a cada noite da Queima, com a cor das diversas faculdades; e no dia de cortejo – por fim, para a generalidade da comunicação social dita nacional, o enfoque noticioso dos poucos que mais ou menos brevemente se lhe referiram já não foi tanto o excesso de álcool –, a cidade quase transbordou com muitos milhares a reiterarem a certeza de que a tradição ainda é o que era.

António Cabral de Oliveira

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