RIO ACIMA,SEM MOTOR
Foi
naturalmente enorme a emoção com que recebi a notícia da inscrição da
Universidade, Alta e Sofia como Património da Humanidade. Indizíveis a alegria,
a felicidade, o orgulho, sentimentos envoltos, confesso, por algum alívio. E
tudo, afinal, pela coisa mais comezinha deste mundo: o reconhecimento (como
muito bem dizia aquele cidadão de Granada, "achava que já era") do
valor, imenso, que a nossa cidade encerra em todos os domínios, com certeza
também em termos de património, material e imaterial. Saibamos agora nós,
Portugal inteiro, bem aproveitar a simples existência de Coimbra.
Sendo
certo que a classificação, em si mesma, pouco resolve mas muito nos
responsabiliza, este é, seguramente, um momento de altíssima importância coletiva
para Coimbra. Não tanto por o ser, sobretudo pelo que seria se não o fosse. E
que levou a um coro, infindável, de júbilo e congratulação, da Presidência da
República ao ministério dos Negócios Estrangeiros e à secretaria de Estado da
Cultura, do governo à oposição, do país inteiro às forças locais. De quem
esperamos, para além de palavras sempre saborosas e incentivadoras, ações
concretas que celebrem, essas sim, a distinção. E de que me permito, desde já,
destacar, relembrando-a – deste jeito ainda mais inadiável – a criação, em
Coimbra (não o pode ser em mais nenhum outro lugar) não de um ... mas do Museu
da Língua Portuguesa.
Entretanto,
e ainda a propósito da reunião no Camboja, uma cópia coeva do diário de viagem
de Vasco da Gama passou a integrar a Memória do Mundo da UNESCO, decisão que
terá enchido de soberba a Biblioteca Municipal do Porto, depositária daquele
tesouro bibliográfico. Que foi, digamos apenas assim, retirado, – não o
esqueçamos nunca – do Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra, pela mão, de tal jeito
"amiga", de Alexandre Herculano.
Com
uma ponta de justificada vaidade, José Miguel Júdice apresentou, na sua – assim
tornada também nossa – Quinta das Lágrimas, o 5º Festival das Artes que, desta
feita, sob o tema " Natureza", vai decorrer em Coimbra de 16 a 23 de
julho. Com um programa naturalmente mais curto (o primado da qualidade em
detrimento da quantidade), são muitos os momentos culturalmente relevantes,
designadamente, apenas alguns exemplos, as participações da Orquestra
Gulbenkian e da Companhia Nacional de Bailado, a leitura encenada José Reis e o
recital de piano de António Rosado. Enfim, tome o prático harmónio elaborado e,
de entre a vasta oferta prevista, selecione as ações mais desafiantes. Depois, com
certeza feliz por viver em Coimbra, deleite-se participando num festival que
temos de continuar a merecer.
Regionalista
como me afirmo, procuro sê-lo de forma tão esclarecida quanto possível.
Entendo, por isso, que as direções dos vários serviços devem estar reunidas na
sua capital regional, repartindo-se estruturas descentralizadas pelas
principais urbes e pólos, de acordo com o princípio da subsidiariedade. Se o
governo não pode ter, naturalmente, ministérios e secretarias de Estado
distribuídas pelo país inteiro, também as regiões, para ganharem indispensável coordenação,
não podem ver disseminados pelo território os seus centros de decisão. Tudo o
que for para além disto é demagogia barata, porventura bairrismo. Ou, então,
opção por formas de centralismo, tão queridas de uns quantos para manterem
níveis de poder administrativo que devem estar, antes, próximos do cidadão.
Dito isto, está encontrada, meu ver, a localização da sede da Entidade Regional
de Turismo Centro de Portugal.
Absolutamente
justa a – aliás muito participada – homenagem da Liga de Amigos do Museu
Nacional de Machado de Castro a Adília Alarcão, anterior diretora e grande
mentora, nas últimas décadas, daquela magnífica instituição cultural; também
muito merecido o tributo prestado a Emília Cabral Martins, diretora da
Orquestra Clássica do Centro e “alma mater” de um projeto que não raro me
questiono como ainda sobrevive, e que se deve, essencialmente, ao seu
persistente empenhamento; a Universidade voltou a alcançar, muito bem, as mais
altas classificações – 4 e 5 estrelas – no QS Stars University Ratings; e a PSP
chamou o Centro de Inativação de Engenhos Explosivos, o CIEE, localizado em
Leiria, que se deslocou à Fernando Namora para levantar, imagine-se, uma simples
munição de fogo antiaéreo – isso mesmo, um banalíssimo projétil , assim
gastando o dinheiro que não temos, enquanto (afinal o ridículo já não mata), se
chegava a fechar ao trânsito, como perímetro de segurança, uma das vias daquela
avenida...
António Cabral de Oliveira
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