VII) A Prima Marquinhas e os "primos do Lugar"
De regresso às bio-light (que andaram adormecidas durante uns meses - prometemos tentar manter uma maior periodicidade, agora que o Verão chegou e o calor começa a fazer-se finalmente sentir!) retomamos o fio à meada. No já longínquo mês de Janeiro, falámos em Maria de Jesus PL e no seu marido (e primo) José Joaquim de Carvalho. Hoje, começaremos a juntar umas linhas sobre os filhos do casal. Estes dividem-se em dois grupos: os casados e os solteiros, sendo que, por agora, nos voltaremos para os segundos. Pois bem: filhos solteiros destes tios (portanto, primos direitos de Armando Mathias PL) havia 3: o Julinho, a Julinha e a Prima Marquinhas. Viviam todos juntos no casarão que haviam herdado dos pais, no centro do ínfimo povoado da Risca-Silva. Por isso, para os seus parentes que moravam na "estrada do Meio" (ie, os filhos do capitalista PL) eram aqueles que moravam na localidade propriamente dita - eram, então, os "primos do lugar" (como todos lhes chamavam). Ora, dos "primos do lugar", dos Julinhos pouco ou nada há a contar. Nasceram, envelheceram e morreram na sua velha casa, vivendo uma existência sem história de proprietários abastados da região de Coimbra. Mais interessante, porém, é a existência da Prima Marquinhas. Não que esta tenha viajado muito mais do que os seus manos: na verdade, que saibamos, o grosso da sua existência passou-se em Poiares, com ocasionais idas a Coimbra e à Figueira. No entanto, destacou-se, desde logo, por ser a mais sumítica numa família de gente poupadérrima, a ponto de alguns dos episódios que protagonizou terem permanecido vivos até hoje. Educada - ao contrário dos irmãos, que viviam com os progenitores, e que assinavam "Carvalho" - em casa do seu tio e padrinho Padre Bernardo PL, adoptou, e sempre usou, o apelido PL: foi sempre Maria Emília de Jesus PL. Viveu em casa daquele eclesiástico até este falecer, e conta-se que foi com ele que desenvolveu dois traços dominantes do seu carácter: um profundo amor ao capital amealhado, e uma profunda devoção à capela de NS das Necessidades (única beneficiária digna de parte desse mesmo capital). Quando o tio morreu, regressou à casa paterna (creio que os pais também já tinham morrido), onde rapidamente assumiu a gestão da mesma. Não só das lides domésticas, mas também da exploração das muitíssimas propriedades que lhe andavam anexas. Em tudo, porém, era guiada por uma ideal soberano: poupar ao máximo, amealhar ao máximo (com os devidos descontos para a capela das Necessidades, claro está)! Duas historietas ilustram esta sua maneira de ser. Apesar de ser a mais rica da vizinhança, mandava sempre pedir fósforos à paupérrima vizinha do lado, para não gastar os seus. Ou, por outro lado: para alimentar os muitos jornaleiros a que davam emprego, mandava cozer broas com sardinha (o que era, regra geral, o que se dava a esses empregados), mas, antes de as distribuir, determinava que as colocassem ao sol durante umas horas? Para quê, pode-se perguntar? Para as tornar mais saborosas? Não: para estas endurecerem e, assim, os jornaleiros comerem menos.
O que fazia esta sumiticíssima senhora ao capital que tão devotadamente amealhava? Guardava-o, evidentemente! Mas onde? Ninguém sabe, nem nunca ninguém soube! Parte dele estava escondido num velho relógio de pé, mas esse não era o "filão" principal. No entanto, o sobrinho lisboeta que, após pediu aquela antiguidade como recordação estava bem longe de imaginar que, após a morte da anciã, nas suas entranhas, encontraria uma quantia avultada para a época.
Restava, porém, o "núcleo" da fortuna. Em que lugar teria a Prima Marquinhas escondido o seu tesouro?
Todos os PL da altura conheciam a sua constante preocupação com a salvaguarda do mesmo. Se, por exemplo, alguém lhe falava das terríveis consequências de um vendaval enfurecido, a Prima Marquinhas respondia: "Estou descansada: se fosse em Poiares não levava o meu dinheiro"; se alguém que dava conta das vítimas de uma tenebrosa enxurrada e consequentes cheias, a Prima Marquinhas replicava: "Estou descansada: se fosse em Poiares não levava o meu dinheiro"; se alguém aludia às degraças resultantes de um fogo descontrolado, a Prima Marquinhas contestava: "Estou descansada: se fosse em Poiares não levava o meu dinheiro"; se, ainda, alguém expunha os seus temores face aos ladrões, limitava-se a repetir: "Estou descansada: se fosse em Poiares não levava o meu dinheiro".
Em que cofre forte inexpugnável estaria tal fortuna?
Ninguém sabe, porque nunca ninguém a encontrou!
Quando a Prima Marquinhas morreu, todos se lançaram furiosamente à procura, durante anos. Vasculharam a vasta casa, percorreram as muitas propriedades, creio até que terão passado pela capela das Necessidades.
Mas nada!
O dinheiro por lá ainda andará. Será que algum PL alguma vez o encontrará?
Ou será que a Prima Marquinhas o gastou todo, e enganou a família durante décadas?
hmm... misterio...
ResponderEliminarJa tinha saudades destas biografias light dos PL. ;)
Beijinhos primo.
Excelente bio-light!
ResponderEliminarMas não será a figura da Prima Marquinhas baseada na Violante Saramago?
Um abraço deste fã-leitor.