sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A 3 de novembro ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR

A queda de um elemento em pedra da abóbada do Convento de Santa Clara-a-Velha e a praga de térmitas da madeira que atinge o altar mor do Mosteiro da Rainha Santa são realidades diversas, mas concorrentes, no desmoronar do património histórico que, desassossegando todos, preocupam, naturalmente, e sobretudo, os seus mais diretos responsáveis. A quem têm de ser garantidos os instrumentos indispensáveis à sua inadiável recuperação pois não podemos, coletivamente, deixar derrocar o país, temos de ser capazes de contrariar, também do ponto de vista cultural, o esboroamento do edifício fundador em que nos sustentamos enquanto Nação.

Atendendo a que ela própria se denomina de “Tertúlia Memória e Literacia”, não surpreende que o primeiro convidado para a reunião do próximo dia 8 seja Edmundo Pedro, que, do alto dos seus 94 anos, é, com certeza, senhor de memória imensa. Entretanto, já espanta ver a escolha de conferencistas para a iniciativa “A Democracia e o Futuro”, a decorrer, com um programa muito rico, na Casa da Escrita, em cada sábado deste novembro corrente, todos eles respeitabilíssimos, sem exceção, mas, apesar de se celebrar Rousseau, talvez com um pouco (não será só Mia Couto a inventar palavras) de senadorismo a mais. Afinal, no seu melhor, “Coimbra, passado com futuro”.

Não há manual de jornalismo que não refira que notícia é quando o homem morde o cão. Foi, mais ou menos, o que aconteceu há dias quando um segurança (?!) se feriu, assim mesmo, ao fugir de um meliante que, parece, estaria a assaltar o antigo pediátrico. É certo que aqueles vigilantes não dispõem de estatuto nem de meios para prevenirem o crime, mas, já agora, e se mais não fora para se obstar a tão caricatas situações, também para se pôr termo à degradação das instalações, quando daremos destino ao antigo hospital? Não poderia ele ser útil, Manuel António, lembrei-me assim de repente, para expansão física do IPO?

Li, declarações do presidente da Câmara, que o IKEA pretende instalar a sua loja em Coimbra apenas numa localização: o planalto de Santa Clara. “Ou é ali e eles investem, ou não é ali e eles não investem”, sintetizava Barbosa de Melo. Nesta conformidade, e porque a localização do equipamento naquele espaço não constitui, do meu ponto de vista, qualquer insanável agressão urbanística, espero bem que haja – ou, mesmo, tenha já havido – resposta rápida ao desiderato da multinacional, por forma a que a cidade não perca, como tem acontecido, agora uma estrutura económica diferenciadora em termos regionais. Sem se repetirem as indecisões que, entre tantas outras, permitiram, recentemente, (as obras deveriam estar já num ponto irreversível de construção) a anulação do troço Ceira-Trouxemil do IC 3, a autoestrada que ligará Coimbra a Setúbal.

Quando, dando com certeza cumprimento à sua missão de serviço público, a Lusa fechou o escritório de Coimbra, poucos ergueram a sua voz. Quando a RTP emagreceu a delegação regional que aqui mantém, foi o silêncio total. Quando a RDP calou os noticiários que emitia da e para a região Centro, não se ouviu um protesto solidário. Agora, com a guilhotina dos cortes de verbas governamentais a atingir Lisboa, andam por aí mosquitos por cordas. A fazer-me lembrar Martin Niemoller ao dizer, adaptando eu, que “quando levaram o meu vizinho, calei-me e não me incomodei; quando me levaram, já não havia quem reclamasse”…

O Programa das Aldeias de Xisto, promovido pela CCDRC, que beneficiou já 700 casas de 27 povoações, é um projeto de desenvolvimento do meio rural recentemente apresentado em Bruxelas (parabéns Pedro Saraiva) como exemplo de boas práticas em política regional; arrancou, com uma programação vasta e diversificada, que privilegia o piano e também o jazz, o Festival de Música de Coimbra, que se prolonga, a não perder, até 8 de dezembro; a AAC celebrou, da forma possível, pobremente, efeméride relevante, os seus 125 anos; e num dia em que a espiritualidade ganha particular relevo e nos permite uma reflexão sobre o sentido da vida, os cemitérios, talvez pela última vez, encheram-se de flores.
António Cabral de Oliveira

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