RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Foi
em ambiente de “memória e respeito”, nas palavras do Bispo das Forças Armadas,
D. Januário Torgal Ferreira, que o Exército Português celebrou o seu Dia, com
uma homenagem, singela mas digníssima, na Igreja de Santa Cruz, a Dom Afonso
Henriques, seu patrono. E ali dei comigo a pensar que todos e cada um de nós
deveria poder aceder a momentos como aquele, em que um frémito de orgulho
pátrio nos invade, sentimento a que temos indispensavelmente de ancorar o nosso
querer para ganharmos forças e levar de vencida as razões do opróbrio que nos
constrange quando olhamos o estado a que deixámos chegar a Nação.
Património
e Reabilitação Urbana foi tema de relevante iniciativa que serviu para o
presidente da Câmara dizer que recuperar o centro histórico da cidade “custa
dinheiro, mas não assim tanto”, e, mais, que “recuperar casas e bairros é
recuperar a alma coletiva”. Entretanto, em jantar no Clube dos Empresários, o
presidente da CCDRC afirmava que o “Jessica”, programa de reabilitação urbana
com taxas de juro generosas a 20 anos, tem “80 milhões para o Centro”, para os
quais “não há nenhum contrato celebrado até agora”. A ser assim, e julgando eu
estarmos todos a falar do mesmo, apetece perguntar porque não está aí, pujante,
a afinal barata e com financiamento assegurado, revitalização do casco
histórico da urbe! Será que às sentidas palavras de Barbosa de Melo e às
esclarecedoras asserções de Pedro Saraiva se sobrepõe, avisada, a conclusão de
Celeste Amaro, logo no início do certame, quando sublinhava, apelando a um
compromisso entre todas as entidades envolvidas, que “muitas jornadas destas
não dão em nada?” Em Viseu, para o ano, saberemos o quanto conseguimos avançar…
Bem
interpretando o sentir da tertúlia que o Lions está a promover sobre a baixa e
a candidatura da universidade a património mundial, Carlos Cidade propôs, na
reunião camarária desta semana, a transladação dos restos mortais de Luiz Goes
para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Cruz. Também sem sabermos se e como
será possível o desiderato – a que juntamos, concordante, a nossa voz –,
importa, faltou dizê-lo, ou pelo menos não o lemos em lugar algum – agora os
jornalistas, ao contrário do que acontecia no meu tempo, já não acedem a todas
as sessões da edilidade – precisar, em abono da verdade inteira, que foi Nuno
Encarnação quem sugeriu a ideia a Carlos Carranca que, por sua vez,
proclamando-o alto e bom som, a trouxe àquela assembleia.
Que
bem está a Orquestra Clássica do Centro, que fui ouvir, deliciado, em concerto
de abertura dos VI Encontros Internacionais da Guitarra Portuguesa. Mas
estranhei (e tanto não quererá significar, não significa com certeza, de forma
alguma, desinteresse) a ausência da Câmara Municipal na iniciativa. É que, como
nunca, nestes tempos difíceis, temos de nos capacitar, todos, de que o apoio à
cultura é postura indispensável para sairmos desta crise nacional. Em
colaboração, vinda necessariamente de municípios e instituições oficiais,
também da sociedade civil, sem a qual poderemos vir a comprometer a música erudita
da e na nossa região.
Esta
semana voltei ao teatro para estar, na Cerca de S. Bernardo, com a minha dileta
Escola da Noite que, com a qualidade felizmente habitual, tem em cena,
imperdível, a peça “Nunca estive em Bagdad”. Entretanto, em termos teatrais,
tenho ainda de ver, não nos esqueçamos, “Os últimos dias de Emanuel Kant”, que
a Bonifrates apresenta no seu estúdio da Casa da Cultura, igualmente “Um grito
parado no ar”, que o Teatrão leva ao palco na Oficina Municipal, no Vale das
Flores.
Em
paralelo, para continuar a falar em cultura – o tal setor, lembram-se, onde, segundo
alguns, nada acontece em Coimbra – referência, agora cinematográfica, para a já
tradicional e excelente Festa do Cinema Francês, a decorrer, até ao final do
mês, no Gil Vicente, isto enquanto se anuncia, para 9 a 17 de novembro, o
festival Caminhos do Cinema Português, única mostra exclusivamente nacional.
Linhares
Furtado, pioneiro em transplantes hepáticos em Portugal, assinalou, imenso
orgulho nosso, 20 sobre a sua primeira intervenção nos HUC; a tertúlia Fausto
Correia lembrou, no Trianon, o político que tanta falta faz ao seu PS,
outrossim à nossa cidade; Boaventura de Sousa Santos, em reconhecimento do
mérito científico, vai ser distinguido pela Universidade de Brasília com o título
de Doutor Honoris Causa; Francisco
Amaral – um abraço – foi justamente homenageado pela Escola Superior de Educação
onde, há uma dúzia de anos, vem coordenando o estimulante projeto televisivo
ESAC TV; e a morte de Patrocínio Tavares, os meus respeitos, tornou bem mais
pobre o empresariado de Coimbra.António Cabral de Oliveira
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