RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Um
quadro da distribuição geográfica das empresas alemãs em Portugal, no ano de
2010, mostra, nos três distritos melhor classificados, 111 empresas em Lisboa,
43 no Porto, e 25 em Braga. A partir daí, os valores, já com apenas um dígito,
vão-se esbatendo até atingirmos uma – leram bem, uma – única unidade em
Coimbra. Se fosse necessária, eis a prova, evidentíssima, de como temos sido
destratados, de um ponto de vista de desenvolvimento económico, de localização
de empresas, pelas estruturas governamentais responsáveis pelo progresso sustentado
e harmonioso (isto agora sou eu a poetar) do todo português. São números que
deviam encher de vergonha (se a tivessem) quem nos administra a partir do
Terreiro do Paço, é uma verdadeira ignomínia que, em favor da equidade
democrática, tem de ser rapidamente corrigida nestes tempos, dizem, de indispensável
reindustrialização, desde logo através dos investimentos alegadamente
prometidos por Angela Merkel. E não aceitaremos que nos acusem de falta de
capacidade empreendedora quando sabemos da nossa privilegiada localização, do
imenso saber que a universidade detém, também da qualidade infra estrutural de
espaços disponíveis como o Coimbra Inovação Parque. Se tem sido assim estando
Coimbra no litoral, o que não seria se estivéssemos no interior profundo? Se
calhar, em vez de uma, tínhamos … nenhuma empresa alemã aqui instalada!
Uma
das crónicas que o jornal madrileno ABC incluiu (na edição do passado dia 8) sobre
o jogo Académica-Atlético abria dando especial destaque ao facto do encontro se
disputar, cito, na “cidade dos seis reis”. E referia-se, nem mais, acreditem
que sim, a Coimbra. Perguntando-me quantos de nós sabemos que aqui nasceram, de
facto, seis monarcas da primeira dinastia – coisa sem interesse algum, dirão
uns, que nunca ninguém mo recordou, alegarão outros – a verdade é que a antiga
urbe não honra a memória nem dos reis seus conterrâneos. Mas se não alcançámos,
sequer, levantar, com dignidade inteira (velho sonho, nunca realizado,
designadamente de Mendes Silva), uma estátua equestre ao Fundador, D. Afonso
Henriques, que nos fez capital do reino, como haveríamos nós de ter preservado,
com peças de escultura – que poderiam ser erguidas, na habitual míngua de
dinheiro, uma por ano –, a memória de Afonso II, Afonso III, Sancho I, Sancho
II, D. Pedro e D. Fernando? Bendita cidade que tais filhos tem: os que a
dignificaram, e os que não a honram…
Primeiro,
uma visita ao Centro de Artes Visuais – sempre bem cuidado, um exemplo, Albano
– para ver obras de selecionadas de Daniel Malhão e “O Amor de Alcibíades”, de
Eduardo Guerra; depois, passagem pelo Salão Brazil, novo espaço cultural do
Jazz ao Centro, onde ouvi Sofia Ribeiro, belíssima voz acompanhada por ótimos
instrumentistas; por fim, ida ao Teatro da Cerca para apreciar, desta vez não a
residente Escola da Noite, mas o Centro Dramático Galego que ali apresentou,
excelente, a peça “O Profesional”. Perfeito, tudo perfeito (para inveja vossa,
que permitiram salas quase vazias) no final da (e não fim de) semana … em
Coimbra.
Nestas
contas de sumir que nos submetem e constrangem, parece ninguém querer reparar
no que de fundamental releva para o futuro comum do país. Ninguém é uma forma
de dizer, de expressão, já que o Movimento Ideais do Centro teve por bem, e
muito bem, debater, aprofundadamente, a baixa natalidade em Portugal,
seguramente um dos problemas maiores, talvez mesmo o maior, que se abate sobre
o nosso porvir colectivo.
Na
passada terça feira fui refeiçoar à Casa dos Pobres – que belíssimas
instalações para velhotes significativamente sorridentes –, assim me juntando
aos costumados “românticos”, fórmula que Aníbal Duarte de Almeida encontrou,
com o jeito com que afinal ergueu aquela instituição, para, angariando alguns
fundos, nos levar (quantos mais melhor) a fazer o bem … almoçando bem.
Se
a ideia – e, lá no fundo, até a compreendo – é fazer diferir no tempo a compra
dos presentes, para os quais teremos cada vez menos dinheiro, então percebo a
colocação tão temporã, nos nossos centros comerciais, das ornamentações
natalícias. Mas atenção porque um ano destes, ainda mal chegados da praia, aí
estarão elas, a cintilar, as luzinhas que já pouco nos dirão quando,
finalmente, for Natal.
Um
dia, juro, roubo a exposição fotográfica dos chapéus de palha ao Carlos Jorge
(agora patente na Lousã), como forma última de impedir, um cansaço, que ela
volte a ser mostrada onde quer que seja. Pior, ou melhor, nem sei, só Jaime
Soares – para ambos, grande, um abraço – quando, noutros tempos, inaugurava,
vezes sem conta, mas sempre com alguma vantagem para as suas populações, talvez
com mais porta ou menos janela, um e o mesmo equipamento…
António Cabral de Oliveira
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