sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A 17 de novembro ACO escreveu ...


RIO ACIMA, SEM MOTOR
Um quadro da distribuição geográfica das empresas alemãs em Portugal, no ano de 2010, mostra, nos três distritos melhor classificados, 111 empresas em Lisboa, 43 no Porto, e 25 em Braga. A partir daí, os valores, já com apenas um dígito, vão-se esbatendo até atingirmos uma – leram bem, uma – única unidade em Coimbra. Se fosse necessária, eis a prova, evidentíssima, de como temos sido destratados, de um ponto de vista de desenvolvimento económico, de localização de empresas, pelas estruturas governamentais responsáveis pelo progresso sustentado e harmonioso (isto agora sou eu a poetar) do todo português. São números que deviam encher de vergonha (se a tivessem) quem nos administra a partir do Terreiro do Paço, é uma verdadeira ignomínia que, em favor da equidade democrática, tem de ser rapidamente corrigida nestes tempos, dizem, de indispensável reindustrialização, desde logo através dos investimentos alegadamente prometidos por Angela Merkel. E não aceitaremos que nos acusem de falta de capacidade empreendedora quando sabemos da nossa privilegiada localização, do imenso saber que a universidade detém, também da qualidade infra estrutural de espaços disponíveis como o Coimbra Inovação Parque. Se tem sido assim estando Coimbra no litoral, o que não seria se estivéssemos no interior profundo? Se calhar, em vez de uma, tínhamos … nenhuma empresa alemã aqui instalada!
Uma das crónicas que o jornal madrileno ABC incluiu (na edição do passado dia 8) sobre o jogo Académica-Atlético abria dando especial destaque ao facto do encontro se disputar, cito, na “cidade dos seis reis”. E referia-se, nem mais, acreditem que sim, a Coimbra. Perguntando-me quantos de nós sabemos que aqui nasceram, de facto, seis monarcas da primeira dinastia – coisa sem interesse algum, dirão uns, que nunca ninguém mo recordou, alegarão outros – a verdade é que a antiga urbe não honra a memória nem dos reis seus conterrâneos. Mas se não alcançámos, sequer, levantar, com dignidade inteira (velho sonho, nunca realizado, designadamente de Mendes Silva), uma estátua equestre ao Fundador, D. Afonso Henriques, que nos fez capital do reino, como haveríamos nós de ter preservado, com peças de escultura – que poderiam ser erguidas, na habitual míngua de dinheiro, uma por ano –, a memória de Afonso II, Afonso III, Sancho I, Sancho II, D. Pedro e D. Fernando? Bendita cidade que tais filhos tem: os que a dignificaram, e os que não a honram…
Primeiro, uma visita ao Centro de Artes Visuais – sempre bem cuidado, um exemplo, Albano – para ver obras de selecionadas de Daniel Malhão e “O Amor de Alcibíades”, de Eduardo Guerra; depois, passagem pelo Salão Brazil, novo espaço cultural do Jazz ao Centro, onde ouvi Sofia Ribeiro, belíssima voz acompanhada por ótimos instrumentistas; por fim, ida ao Teatro da Cerca para apreciar, desta vez não a residente Escola da Noite, mas o Centro Dramático Galego que ali apresentou, excelente, a peça “O Profesional”. Perfeito, tudo perfeito (para inveja vossa, que permitiram salas quase vazias) no final da (e não fim de) semana … em Coimbra.
Nestas contas de sumir que nos submetem e constrangem, parece ninguém querer reparar no que de fundamental releva para o futuro comum do país. Ninguém é uma forma de dizer, de expressão, já que o Movimento Ideais do Centro teve por bem, e muito bem, debater, aprofundadamente, a baixa natalidade em Portugal, seguramente um dos problemas maiores, talvez mesmo o maior, que se abate sobre o nosso porvir colectivo.
Na passada terça feira fui refeiçoar à Casa dos Pobres – que belíssimas instalações para velhotes significativamente sorridentes –, assim me juntando aos costumados “românticos”, fórmula que Aníbal Duarte de Almeida encontrou, com o jeito com que afinal ergueu aquela instituição, para, angariando alguns fundos, nos levar (quantos mais melhor) a fazer o bem … almoçando bem.
Se a ideia – e, lá no fundo, até a compreendo – é fazer diferir no tempo a compra dos presentes, para os quais teremos cada vez menos dinheiro, então percebo a colocação tão temporã, nos nossos centros comerciais, das ornamentações natalícias. Mas atenção porque um ano destes, ainda mal chegados da praia, aí estarão elas, a cintilar, as luzinhas que já pouco nos dirão quando, finalmente, for Natal.
Um dia, juro, roubo a exposição fotográfica dos chapéus de palha ao Carlos Jorge (agora patente na Lousã), como forma última de impedir, um cansaço, que ela volte a ser mostrada onde quer que seja. Pior, ou melhor, nem sei, só Jaime Soares – para ambos, grande, um abraço – quando, noutros tempos, inaugurava, vezes sem conta, mas sempre com alguma vantagem para as suas populações, talvez com mais porta ou menos janela, um e o mesmo equipamento…
António Cabral de Oliveira

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