RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Na
frieza dos números, o retrato, irrefragável, de uma realidade que se
pressentia: Coimbra continua a perder população – menos cinco mil habitantes,
de acordo com os resultados definitivos do censo 2011, agora divulgados – em contraponto
com todos os outros distritos litorâneos do arco atlântico que vai de Braga até
Setúbal. E de duas, uma: ou os responsáveis olham com particular atenção para
este fenómeno de desertificação, agora também no litoral, comprometendo-se com
a sua correção, ou, na inversa, teremos de dar os parabéns àqueles que,
politicamente, se têm empenhado em obscurecer Coimbra enquanto terceira cidade
do país. É que, paulatinamente (e não são nada boas as perspetivas de futuro
próximo, designadamente no setor da saúde) parecem estar a conseguir os seus
maquiavélicos propósitos…
As
declarações de Isabel Jonet quando dizia, em substância, não devermos “ter
expectativas de que poderemos viver com mais do que necessitamos, pois não há
dinheiro para isso”, provocaram um conjunto de dislates por parte de gente ignota
e ignara que importa desvalorizar. De facto, embora naturalmente contrariados,
é bom convencermo-nos, todos, também ao nível local, que mesmo crescendo um
pouco, no futuro, em termos económicos, não voltaremos a ter, cada um de nós, o
“el dorado” que, pura ilusão, julgávamos haver alcançado há alguns anos. Vamos,
indispensavelmente, viver com menos dinheiro, também, auguramos, com maior
dignidade humana, sem tiques de sobranceria, de novo riquismo. Nem em Portugal,
nem em lugar algum, receamo-lo, do nosso mundo ocidental. E, já agora, a
propósito do aventado boicote à recolha do Banco Alimentar contra a fome, a
decorrer neste fim de semana, vou, com esforço, procurar dar em dobro. Por
respeito para com o empenhamento comprovado de Isabel Jonet e seus, tantos,
colaboradores, também, sobretudo, pelas necessidades de portugueses mais
carenciados.
Helena
Freitas recordou, defendendo-o, o projeto do anel verde da cidade – em
essência, a ligação entre a Quinta das Lágrimas, Parque do Mondego, Botânico,
Sereia e Sá da Bandeira, já referido por Costa Lobo, mas que Cristina Castel
Branco, no seu enlevo por jardins, apresentou a Coimbra em 2006 – e que,
inexplicavelmente, não se conseguiu ainda concretizar, sobremodo, julgo, por
dificuldades na abertura da mata do Jardim Botânico, uma limitação que, sendo
diretora do equipamento, e atendido o interesse agora reiterado, poderá vir a
ser ultrapassada a brevíssimo trecho. Entretanto, e a propósito, que diabo de
ideia aquela a de pôr, qual imenso piquenique, os conimbricenses a “marmitar”
e, porque não, a “internetar”, logo naquele espaço nobre que é o Botânico. Já
estou a ver os cidadãos a transpor, finalmente, o portão que “preto é, Galinha
o fez”, para, de portátil ou IPad na mão, deitarem mão à perna de frango que a
crise obriga, honradamente, a trazer, na lancheira, de casa…
Por
falar em Quinta das Lágrimas, o Arcadas da Capela perdeu – uma pena para a restauração
de Coimbra e da Região Centro, mas de todo não surpreendente – a estrela
Michelin que detinha há anos, como resultado, natural, de políticas de redução
de custos, nomeadamente com cortes no pessoal, com evidentes repercussões (não
há milagres!) na qualidade do serviço prestado.
A
Bluepharma, empresa de Coimbra especializada na produção de medicamentos genéricos
recebeu – parabéns Paulo Barradas – o Prémio PME Inovação COTEC, enquanto a
Fundação Bissaya Barreto entregou a José Mattoso e a João Salaviza o Prémio
Nuno Viegas do Nascimento. Em paralelo, João Gouveia Monteiro foi distinguido
com o Prémio Gulbenkian “História da Europa” da Academia Portuguesa de História
e, também felicitações, Adérito esteves é o primeiro vencedor do Prémio de
Jornalismo Adriano Lucas.
A
Estação Nova foi qualificada, e bem, pela Câmara Municipal de Coimbra como
monumento de interesse público. Queira Deus que um dia destes a edilidade não
venha a classificar um qualquer barracão da Estação Velha – afinal sempre é
mais antiga – o que daria azo à Refer para nunca mais construir uma nova e
moderna estrutura, antes fazer perdurar, ainda por mais tempo, o inenarrável
apeadeiro onde, em Coimbra, vergonha nossa, costumam parar os comboios…
António Cabral de Oliveira
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.