RIO
ACIMA, SEM MOTOR
A
diretora do Machado de Castro não foi parca nos adjetivos encomiásticos a
propósito da reabertura daquele Museu Nacional: “coleções riquíssimas”, “peças
fundamentais”, “referência da museologia portuguesa”, “projeto exemplar”, “o grande
museu da escultura nacional”, a Capela do Tesoureiro a “proporcionar momento
único e emocionante”, enfim, o “sublime enquadramento” alcançado por Gonçalo
Byrne. E quando se poderia recear algum pecadilho por exagero, não é que, logo
após breve visita (Deus meu, quanto de tão belo para se apreciar, demoradamente,
em instalações superlativas), se concluía que Ana Alcoforado (as minhas
homenagens, também, e naturalmente, para Adília Alarcão) tem, afinal, razão
inteira! A magnificência a orgulhar Coimbra.
As
circunstâncias, dramáticas, em que ocorreu a morte de José Guerra – um acidente
brutal absolutamente inadmissível – foram um enorme murro no orgulho coimbrão.
E é impressionante como, para além do seu exemplo de vida, também no seu
passamento Guerra nos tenha querido deixar uma mensagem, uma chamada de atenção
para os imensos pequenos grandes pormenores – desde logo a ausência de um
suficiente muro de proteção, designadamente para invisuais – que fazem de
Coimbra uma cidade afinal não tão inclusiva quanto julgávamos e, por certo,
todos desejamos. Mais do que sempre oportunas iniciativas de sensibilização,
como o foram as recentes “por Coimbra às cegas”, de um grupo de estudantes, ou
a aceitação, por parte de técnicos da Câmara Municipal, de desafio da ACAPO
para andarem pela urbe de olhos vendados, quanto trabalho nos aguarda, quanto
empenhamento cidadão se nos exige…
Não
fora a excelência da atividade cultural da Escola da Noite – desculpem a
recorrência do tema, mas a culpa não é, de todo, minha – e quase poderíamos
dizer que a sua existência já se justificaria só para nos proporcionar,
promovendo-os, espetáculos como aqueles a que a cidade assistiu no findar da
passada semana. De facto, a presença do brasileiro Grupo TAPA, de São Paulo, e
a apresentação da peça “Doze Homens e uma Sentença”, constituíram, a meu ver,
um dos momentos altos da história recente, aliás muito rica, do teatro em
Coimbra. Excelente, já se sabia, o texto de Reginald Rose, magnífica, agora, a
teatralização, as interpretações que garantiram momentos de sublime encantamento.
Um abraço obrigado, gente, nesta nossa língua comum, para o lado di lá, e de
cá…
O
presidente da Federação Distrital do PS, reitera, em artigo de opinião, vontade
(política?!) de voltar a afirmar Coimbra como terceira cidade do país, projeto
que até poderia ter alguma valia… se a urbe o não fosse já, evidentemente.
Entretanto, porventura para não lhe ficar atrás, um alto dirigente da Câmara
Municipal, a propósito da aprovação do novo PDM, disse que Coimbra pretende
“reivindicar o seu papel de capital da Região Centro”, uma exigência definitivamente
abstrusa já que nem o mais empedernido detrator da cidade ousaria, sequer,
questionar a sua manifesta liderança regional. Com tais responsáveis, para que
precisa Coimbra de inimigos?
Um
despacho do Secretário de Estado da Saúde ordena (nem mais!) a redução do
número de camas nos hospitais do SNS – obviamente incluídos os de Coimbra –,
medida que, com certeza, e quem sou eu para o questionar, há de contribuir, em
muito, para melhorar a saúde no nosso país. Entretanto, aposto, para o ano, os
serviços de estatística vão aumentar a esperança de vida dos portugueses, tendo
em vista, também … idêntica melhoria das nossas aposentações!
A
ACIC, a braços com um passivo imenso – como é possível tamanho trambolhão de
entidade ainda há poucos anos financeiramente tão sólida? – procura alcançar um
programa de recuperação que viabilize a sua continuação como estrutura
representativa do tecido empresarial de Coimbra; Joana Amaral Dias, respondendo
a inquérito de jornal, especificava que em Coimbra, onde fez todo o seu
percurso académico, encontrou grandes professores que a “ensinaram a pensar”,
um reconhecimento que, vindo de voz geralmente contestatária, comprova ser o
ensino de excelência uma das principais vocações da cidade; a Região Centro,
sustenta-o uma investigação da UC, come carne de porco e de aves de qualidade
(se o frango está, assim, bom, então é porque, nestes tempos de crise, é o
pobre que está doente); e Manuel Machado, coisa intrigante, até pela aceitação,
foi oficialmente indicado pelas estruturas partidárias como candidato
socialista à Câmara Municipal de Coimbra.
Entretanto,
é Natal, e visitar o presépio dos Sapadores Bombeiros faz já parte das nossas
tradições…
António Cabral de Oliveira
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nota: só um membro deste blogue pode publicar um comentário.