terça-feira, 10 de novembro de 2009

Quem era na realidade o terrível "casal mistério"?


Não, não é ainda o tão esperado quiz "que personagem dos livros da Nela és tu?".
Nem sequer é o aguardadíssimo anúncio das Oeuvres Complètes de MNL nas edições Pleiáde.
Por enquanto, proponho apenas que se lance um primeiro debate acerca da mítica colecção de livros e eu? Recorde-se que era este o título original do primeiro livro mas que a Verbo, com o seu agudo sentido comercial, achou melhor trocar por Os outros e eu (por falar nisso, acho que realmente ficou melhor desta maneira, mas desconfio que isto pode gerar discussão).


É sabido que os dois romances de MNL (por que não publicar alguns excertos do 3º volume neste blog? Ou, se preferirem, podem enviar-me uma cópia em pdf, porque eu acho que nunca li o Ele e Eu) têm uma mais ou menos assumida dimensão autobiográfica. Aliás, entre os leitores mais entusiasmados havia quem se entretivesse a fazer paralelismos entre as personagens ficcionais e as pessoas reais onde, supostamente, a autora teria ido buscar a inspiração.
Enfim, é neste contexto que aqui deixo o repto: quem era na realidade o terrível casal mistério de Os outros e eu (Lisboa, Verbo, 1974)?
Reconheço que a imagem não saiu muito bem, mas sempre serve para adensar o mistério.
Não se lembram deste famoso episódio? Para mim, é de longe um dos melhores capítulos do primeiro livro da autora. De resto, é aquele que prefiro. Na verdade, e como dizia certeiramente alguém já evocado em Maré Cheia, depois da publicação de A liberdade e eu (Lisboa, Verbo, 1977): «Ó filha, gostei mais do outro, tinha menos política!».
De facto, e esta é a minha perspectiva pessoal, acho que Os outros e eu envelheceu melhor, apesar de alguns pormenores datados, como, por exemplo, o assalto da Rita (outro dos melhores episódios do romance, mas com uma expressão - assalto - que hoje nenhum novo leitor perceberá..., digo eu).

Mas repito a pergunta: quem era, na realidade, o terrível casal mistério de Os outros e eu?
Será pura criação de MNL ou, pelo contrário, baseia-se em alguns moradores do nº 31 da Arantes de Oliveira (depois Humberto Delgado)?
Passo a bola aos leitores de Maré Cheia.


5 comentários:

  1. O Terrível Casal Mistério não pode ser revelado pois está implicado no Processo Face Oculta, ou seja, está em segredo de justiça...
    Mas, apesar de tudo, e para não fugir à regra, posso adiantar algumas pistas:
    1 - Dr. Hipólito e esposa (pais do Astronauta, viviam mesmo ao nosso lado e chegaram a colocar uma estrutura na varanda para ficar uma marquise);
    2 - Casal de brasileiros que vieram para estudar direito na UC, mas sem sucesso (pais de uma criança chamada Junho);
    3 - Dr. Peninha e esposa (alcunha posta pelo Pai devido à sua calvície quase total), também viviam no 31-A;
    4 - Mágico e esposa (Dr. Condorcet ?), viviam no nº 47;
    5 - Pais do Pica (o senhor era muito parecido com o Freitas do Amaral e, em pleno PREC, foi vítima de uma ocupação selvagem: o seu automóvel foi invadido por jovens vizinhos em fúria que queriam ficar com o dito só por causa das semelhanças fisionómicas do dono com o antigo líder do CDS).
    Haverá outros candidatos...

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  2. ainda hoje quando empresto o livro a um dos meus amigos (faz sempre sucesso dizer que tenho uma avó escritora!)a primeira pergunta que me fazem no final da leitura é: qual é a tua mãe? tu és a Bé?
    Quanto ao mistério, sigo atentamente o seu desenrolar! :)

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  3. Gostei muito deste post - e assumo que as minhas preferências também vão para "Os Outro e Eu"! Só não acho grande graça(já agora, aproveito para esclarecer) ao capítulo da Doença da Mãe.

    Quanto ao casal mistério - é OBVIO que eu não faço a mais pequena ideia de quem são. Mas sei que o tal casal, bem como todos os restantes intervenientes que vão aparecendo no livro, me têm dado, nos últimos tempos, muito jeito. Eu explico: o país foi tomado por uma paixão (para mim, incompreensível!) por aquela série horrorosa e deprimente chamada "Conta-me como foi". Ok, ok, eu sei que a MAIORIA dos portugueses era como aquela família irritante (aliás, apenas isso justificava uma mudança drástica das coisas!) - mas não TODOS! Ora, todos sabemos que "Os Outros e Eu" são contemporâneos de "Conta-me como foi" - pelo que é muito salutar constatar que havia uma franja (por muito pequena e insignificante que fosse) que escapava aquele modelo.

    É claro que este comment podia ser entendido num sentido que NÃO é o pretendido. Para tal, basta recordar que a mãe do "Conta-me como foi" fazia calças para uma certa empresa (que podemos designar como C.A.), que, afinal, era a empresa da família do "alter ego" da Nela. Fica desde já a advertência! ;)

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  4. Quando JT diz que «Os outros e eu envelheceu melhor, apesar de alguns pormenores datados» tenho que discordar, pois, na verdade, parece-me que - tal como a Mãe dizia - todos os 3 livros são muito datados.
    Acabei de reler o primeiro e senti-me a fazer uma viagem aos anos setenta! O que aliás foi muito divertido. Ora passaram mais de 30 anos ...
    Como sabem gosto imenso dos livros, acho que os diálogos são óptimos, mas quase todas as cenas (para não dizer todas) me fazem recordar algum episódio familiar com personagens e/ou calendários trocados.
    Quem não se lembra da capacidade invejável que a Mãe (com o Pai, pois não esqueçamos que eram uma dupla invejável) tinha para romancear tudo e mais alguma coisa.
    Na Brasileira, nas Termas do Vimeiro, na Esplanada da Costa Nova, mais recentemente, na Apúlia ou no Aeroporto, quando estávamos num local com mais pessoas era quase certo a Mãe começar a dizer: «Olhem para aquele casal. Ele deve ser oficial da Marinha reformado, ela deve ser uma menina prendada ...» ou outra coisa do género.
    Enfim, só para dizer que me parece que os livros não são, felizmente, actualizáveis, mas constituirão sempre um testemunho muito impressivo de uma época.

    A terminar, só acrescentar que o «casal mistério» não resulta de um, mas dos vários milhares que a Mãe construiu, ao longo destes anos, para nos divertir ou, simplesmente, para se divertir!

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  5. Concordo inteiramente com a Teresa.
    O espírito mordaz e observador dos pais tornavam os episódios banais em autênticos cartoons.
    Para além das espectaculares alcunhas com que foram baptizando as pessoas que nos rodeavam (Friponets, Petit Voisin, Spray - esta da autoria do Chico!) não posso deixar de vos recordar o perfil psicológico que a Mãe traçou a um traseunte da Costa Nova: um habitué da praia, cinquentão (na altura) com pêra branca e cabelo bastante preto (provavelmente pintado, julgo agora eu, a esta distância)e que frequentemente jogava raquetes de praia e falava alto para toda a gente ouvir. A Mãe: "Lá está um homem que fala muito e pensa pouco!". Brilhante...

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