III) Mil Anjos pairando sobre a Risca-Silva
O piíssimo biografado desta semana deixou dois legados significativos em VNP. Por um lado, aos seus descendentes (a sua filha e aos filhos desta), um volumoso lote de propriedades rendosas, que percorria todo o concelho, desde o extremo da Arrifana até ao limite de Santo André. Por outro, aos que se dedicam ao estudo da região, molhos e molhos de papéis amarelados contendo notas das larguíssimas centenas de missas que, ao longo da vida, foi sistematicamente encomendando aos párocos locais. Isto porque a lógica que norteou a sua existência tinha nessa dinâmica uma das suas pedras angulares: o constante enriquecimento da família (em prol do qual o biografado de hoje labutava perseverantemente) era, a seu ver, resultado de inegáveis graças celestes. Por isso, era forçoso agradecer tantas benesses caídas sobre a Risca-Silva. Ora, como fazê-lo? Beneficiando largamente o intermediário nessa relação Risca-Silva/Céu - ou seja, a Igreja. De que forma? Através de doações pias e, sobretudo, da celebração de missas, muitas missas, previamente encomendadas. E dessas mesmas missas, para além do agradecimento sentido do seu encomendante, outros benefícios se podiam retirar: se serviam de agradecimento, serviam também de forma de "enternecimento" da corte celestial, que, dessa forma, "olharia" de forma especialmente agradada para o encomendante e família, concedendo-lhe mais graças. E assim, neste perpétuo círculo devoção/enriquecimento, viveu este homem que, se foi baptizado José Pedroso, foi quase toda a sua vida conhecido por José Pedroso Mil-Anjos (o que é constante até mesmo dos registos notariais e restante papelada oficial) - assim chamado por ser tão pio, tão pio, tão pio que, quando praguejava, em vez dos clássicos "mil diabos" exclamava:
"Com mil anjos!!"
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