RIO
ACIMA, SEM MOTOR
As
campas do cemitério de Souselas – será premonição ou simples acaso? –
apareceram, de novo, cobertas de um pó esbranquiçado proveniente de descarga
poluente da cimenteira. Talvez seja um outro aviso para não esquecermos (bem
pelo contrário, lembrarmos sempre) a luta perdida contra a única grande aposta
“estruturante” governamental para a região de Coimbra: lixo tóxico em vez de
equipamentos de desenvolvimento económico e progresso social. E, também, para
recordamos aqueles que, ao arrepio do bem-estar colectivo, privilegiaram,
então, conveniências pessoais, e têm, ainda, a desfaçatez de se passearem,
publicamente, mesmo em cerimónias oficiais, por aí…
Numa
cidade em que quase não há opinião publicada em que valha muito a pena atentar,
reconfortou-me ler a oposição exigente, frontal e corajosa de Norberto Canha,
revoltadíssimo, e bem, contra o fecho, por parte do Bispo da Diocese, do
Seminário Maior de Coimbra. Cortando a direito, como a tanto obriga a
verticalidade do respeitável Professor – coisas de diferentes eras, parece –,
zurziu forte já que D. Virgílio Antunes, de facto (e para além das
hierarquias), sem delegação do povo diocesano, não deveria, nunca, encerrar uma
instituição com quase 250 anos de História, mesmo que com tal se procurasse
beneficiar outra entidade, com certeza respeitável, a Universidade Católica,
que, recorde-se, nunca quis instalar qualquer polo na universitária Coimbra.
Está
completo o Conselho Consultivo do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra,
órgão que integra, reconheça-se, uma maioria de nomes de insuspeitado
prestígio. Que se espera possam contribuir, com os seus diversos saberes, para
uma melhor ação das diversas unidades do imenso CHUC. Influenciando,
positivamente, a decisão, como naturalmente se espera, mas não interferindo, de
facto, na sua gestão, que, em exclusivo, deve ser garantida internamente.
Quando
a Presidente da Agência Nacional para a Gestão do Programa de Aprendizagem ao
Longo da Vida (valha ao menos a certeza de que tamanho não falta ao título da
senhora!) desafiou Coimbra a tornar-se, a par de Lisboa e do Porto, numa Cidade
Erasmus, estava, não duvidamos, a querer mostrar-se simpática para connosco.
Mas se Coimbra não é já espaço marcante no panorama dos programas
internacionais de mobilidade de estudantes, que outra cidade o será? O que não
inviabiliza, contudo, antes exige, renovados e permanentes empenhamentos para
se ir mais além, sobretudo quando são cada vez menos os alunos nacionais que
acedem à universidade.
Organizado
por não interessa que raiz partidária, decorreu, em Coimbra, um debate sobre a
cidade. Fica a referência, naturalmente elogiosa, na certeza da importância de
todos nós analisarmos, interventivamente, o futuro colectivo da antiga urbe.
Mas, Helena Freitas, aquela ideia de fazer substituir uma horrível estação de
autocarros por um horripilante e inimaginável parque de estacionamento num dos
mais nobres (e graças a Deus, apenas precariamente aproveitado) espaço, foi
mesmo sugerida?!
Em
iniciativa absolutamente saborosa – aqui na verdadeira acepção da palavra -,
decorreu, com grande dignidade, este ano ao longo de três dias, a Mostra de
Doçaria Conventual e Regional de Coimbra, dando, de novo, na esteira aliás da
melhor tradição da força militar sediada no antigo Convento de Sant’Ana, também
bom uso civil às instalações da Brigada de Intervenção; concretizando
desiderato antigo, o Jazz ao Centro apresentou o seu novo espaço de programação
cultural, o Salão Brazil, em plena baixa da cidade, em prova de inequívoca
vitalidade apenas contrariada pela suspensão da revista Jazz.pt que,
lamentavelmente, mais por colectiva culpa nossa do que sua, não conseguiu sustentar;
e a Assembleia Municipal de Coimbra deliberou, convenientemente, e por unanimidade,
- mas será que, para além das conjunturas políticas, vamos desperdiçar a oportunidade
(por muito que se discorde do conteúdo da proposta), para se redimensionarem
autarquias insustentáveis como o são, no miolo histórico, a Sé Nova, Almedina e
S. Bartolomeu? – não se pronunciar quanto à pretensão governamental de redução do
número de freguesias.
António Cabral de Oliveira
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