quarta-feira, 24 de novembro de 2010

500 anos de reflexos: Goa e Portugal, 1510-2010

No próximo dia 25 de Novembro, na Biblioteca da FEUC, pelas 11horas, LCO em colaboração com a Dra Ana Serrano (bibliotecária da Faculdade), assinalam os «500 anos da fixação dos portugueses em Goa» com uma mostra bibliográfica simbólica, que estará patente ao público durante duas semanas.

O texto que se segue, de autoria de LCO, explica o propósito desta iniciativa.

500 anos de reflexos: Goa e Portugal, 1510-2010

Há já alguns anos, escreveu António Manuel Hespanha que “a ideia de que a cultura portuguesa está impregnada de evocações do Oriente é um tópico corrente. Tal como o é o de que o Oriente está cheio de evocações de Portugal”. E, considerando que “de facto, esta ideia tem aspectos plausíveis”, envereda por uma busca da origem e razão de ser do modo – um tanto mítico, bastante idealizado, mas em nós profundamente enraizado – como contemplamos as longínquas paragens asiáticas com as quais, desde o século XVI, procuramos ir mantendo contacto.
Este fascínio pelo Oriente (seja ele um Oriente real, seja o que resulta da construção imaginária que dele fazemos e acabamos por, inconscientemente ou não, transmitir) sustenta-se também numa visão francamente romantizada do outrora opulento Estado da Índia. Hoje, porém, cada vez mais se defende que uma das principais riquezas do mesmo – e da sua antiga cabeça, Goa – é a multiplicidade de olhares que sobre eles coexistem.
A presente mostra bibliográfica – pequena ilustração do manancial que os investigadores da Goa de outrora têm à sua disposição – pretende dar conta do muito que, desde há séculos, se tem publicado sobre aquelas terras e suas gentes. E mesmo que a palavra impressa não seja suficiente para caracterizar a mais conhecida parcela do antigo Estado da índia (a documentação manuscrita, conservada em arquivos públicos ou privados, e as memórias pessoais de vários goeses vivos assumem, também, um papel relevante), constitui, naturalmente, um meio privilegiado para melhor a compreendermos.
No próximo dia 25 de Novembro assinalar-se-ão 500 anos da fixação dos portugueses em Goa, na sequência da conquista da cidade e suas cercanias pelas forças conjuntas de Afonso de Albuquerque e de vários locais hindus.
Não desejando comemorar um acto bélico, mas sim assinalar o início de cinco séculos de relações – muitas vezes tensas, não raro extremamente proveitosas – entre dois povos tão distintos como são o português e o goês, e tendo em atenção o facto de terem sido vários os goeses que, a partir do século XIX, estudaram (e ensinaram) na Universidade de Coimbra, acreditamos que uma mostra deste género, na Biblioteca da FEUC (biblioteca de uma casa que tanto se dedica à comunidade lusófona), ganha especial sentido.
Iniciativas como a que agora se anuncia servem, desde logo, dois fins: por um lado, assinalam uma data; por outro, chamam a atenção para a importância do estudo da Goa do passado e para a manutenção de relações entre Portugal e a Goa de hoje. Isto para não confinarmos os espaços, as gentes, os testemunhos, a vida dos que lá estão ou dos que para cá vieram a um molho de artigos de entretenimento recheados de curiosidades e voltados quase exclusivamente para a promoção turística. Talvez assim não voltemos a sentir – já sem pretensões de conquista ou defesa territorial, ou apenas norteados por interesses económicos – o efeito das palavras de Eça: “Andávamos inteiramente esquecidos da Índia!”. De uma zona do mundo que, afinal, ainda faz parte do nosso imaginário enquanto país.
Luís Cabral de Oliveira

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Parabéns pela iniciativa (se, hoje em dia, não estivesse tão mal vista diria "parceria") LCO - UC. Tenho pena de estar a 200km de distância. Não estarei fisicamente, mas estarei em espírito e, com alguma sorte, com os olhos da MC!
    Boa afilhado!

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