RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Deviam ter vergonha na cara para, pelo menos, não sujeitarem os
jovens desempregados – tenham eles doutoramento, ou apenas, como se dizia no
meu tempo, a quarta classe – a tais despautérios, a tamanho opróbrio. Se o
Centro de Emprego e Formação Profissional de Coimbra não consegue arranjar-lhes
trabalho, ao menos não atente contra a sua dignidade (a dignidade humana, sabem
o que é?) quando os obriga à frequência de uma "formação" de 25
horas, de muito escassa valia prática, pela qual recebem 28,25 euros. O que
significa, porventura, uma remuneração de um euro por hora, acrescido de 3,25
euros, quiçá para os transportes, talvez como contributo para o desgaste da
sola dos sapatos, única forma, a apeada, de, com tais valores, chegarem,
naqueles 7 dias, ao local da formação! Deus os e nos ajude...
Cheio de razão nos motivos que advoga – e quero cingir-me a
apenas esses – o atual presidente da CCDR do Centro não se candidata a novo
mandato. Entretanto, pelo meio de desmentidos e de silêncios anuentes, começam
a ser conhecidos os nomes dos que, licenciados há pelo menos 12 anos,
pretendem, com inteira legitimidade, liderar, por uma forma pretensamente
administrativa, uma instância que deveria ser, persisto, política, e
democraticamente eleita.
Durante a última visita do secretário de Estado das
Infraestruturas e Transportes a Coimbra, parece que o presidente da EP teria
explicado que a autoestrada de ligação a Viseu não poderá ser comparticipada
por dinheiros europeus já que a Comunidade classifica Portugal (confundindo a
parte com o todo) como um país superdesenvolvido nesta área. Perante as
dificuldades resultantes da falta de dinheiro do Estado, e a indispensabilidade
da construção daquela rodovia, pergunto se não será possível vender uma das AE
que abundam, sem tráfego que as justifique, na região de Lisboa, para, com o
proveito, se concretizar aquela estrutura e, talvez ainda, se o negócio correr
bem, os IC das esquecidas terras da serra da Estrela.
Aí está, em toda a sua aparente plenitude, seja ela o que for, a
saga Câmara Municipal/MRG a propósito do convento de S. Francisco (da Ponte,
como, bem, Manuel Machado insiste em lhe chamar), da sua transformação em
Centro de Convenções. E enquanto ficamos a aguardar os próximos folhetins –
que, entre pedido de indemnizações e resolução de contratos, por certo, digo eu,
não levarão a nada de jeito –, Coimbra, adiada, continua à espera. A ver a
cultura, também o turismo, a passar. Pela ponte, talvez, a caminho de outras
mais diligentes paragens...
Para além do resultado concreto da iniciativa – a exposição de
fotografias patente nos claustros do Colégio de Santo Agostinho – fica,
sobretudo, a riqueza humana, a relação de ternura (não tenhamos medo das
palavras) estabelecida entre os jovens universitários e os idosos da Alta
envolvidos do Projeto REALidades, em boa hora promovido pelo CEIFAC. Num espaço
urbano que se quer mais acolhedor para quem lá vive, a intergeracionalidade e
os afetos à volta de uma máquina fotográfica.
O bispo de Aveiro é o novo bispo do Porto. Cidade, esta, que
continua, assim, até em termos de igreja, a haurir aquela. Sempre em benefício
do Norte, com prejuízo para o Centro. Sobretudo para aquele território – e
cultura – que integra (identidades antigas, recordam-se?) a Beira Alta, a Beira
Baixa e a Beira Litoral...
Quando a Universidade comemora,
parabéns, 724 anos, inicia-se, também hoje, com uma programação rica e imensa,
participe, a Semana Cultural; o Quebra, bar histórico de tantas vivências,
reabriu, remodelado; incapazes de manter estruturas regionais que nos
diferenciem, a AHRESP, para substituir a Associação dos Industriais de
Hotelaria e Restauração do Centro, inaugurou, não a sede, mas a sua delegação
na cidade; o secretário de Estado do Desporto mostrou-se determinado para, Deus
o guarde, angariar verbas do QREN (as únicas de facto existentes) para a
renovação do estádio universitário; perdemos, diria naturalmente, para Leiria,
do mal o menos uma urbe da região, a final, coisa com certeza insignificante,
da Taça da Liga; e o PS organiza, em Coimbra – embora a nossa situação preocupe,
também não é caso para tanto –, uma conferência nacional sobre...proteção
civil.
António Cabral de Oliveira
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