RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Um dia destes, a minha filha, muito ligada à sua terra, e a
frequentar um qualquer curso de formação, confiou-me, verdadeiramente
impressionada, o que ouvia dizer aos seus colegas sobre Coimbra. Opiniões muito
negativas quanto à vida na urbe, de um imenso desencanto sobretudo no que se
refere à possibilidade de emprego. Temos aqui, Manuel Machado, para resolução
urgente, problemas seriíssimos, parece, ao derredor, desde logo, do
"patriotismo da cidade".
A universidade de Salamanca, a mais antiga do país vizinho,
prossegue, depois de Estrasburgo, a sua política de abrir escolas de castelhano
em cidades como Lisboa, agora, no Porto, no próximo ano. Considerada como o
"berço da língua espanhola" – e são já duas, assim, as similitudes
com Coimbra – fico a pensar, vá lá saber-se porquê, que, enquanto uns a
procuram, outros praticam-na. A globalização, está bem de ver...
Sem aeroporto não lograremos trazer até nós o novo turismo, sem
alcançarmos colocar o Centro de Portugal na moda não conseguiremos fixar quem,
de passagem, nos visita. Continua difícil, Pedro Machado, cá dentro e lá fora,
pôr a nossa Beira à sua beira...
Em recente polémica com o governo sobre o número de
investigadores que se dedicam ao mar, Ana Paula Vitorino, agora deputada,
referia, nas suas elucubrações, que "o que existe atualmente resulta da
quase carolice de quem está na carreira académica, no Algarve, em Aveiro, e de
alguns no Técnico". Esquecendo, entre tantos outros, os centros de
Coimbra, logo dois, e os seus cientistas. Se calhar, digo eu, é por termos tão
bons políticos, assim profundamente conhecedores das nossas realidades, que o
país, nomeadamente na área dos transportes, de que Vitorino foi secretária de
Estado, está como está. De que é exemplo, aliás, a situação do Metro Mondego...
Caso "inédito" que não acontecia desde 1965, mas
também "reposição de justiça", o Grão Vasco, em Viseu, uma excelente
notícia para a Beira inteira, vai ser classificado como Museu Nacional. E,
neste país onde todos querem ser e ter tudo o que os outros já são ou têm –
atente-se no que se passa com as "candidaturas" a património mundial
– estou curioso para ver certas reações regionais. Como, por exemplo, a de
Aveiro no que respeita ao seu Museu Santa Joana Princesa.
O município está a promover, até outubro, um conjunto de visitas
temáticas guiadas por entre percursos que abrangem, designadamente, o
património construído, a Coimbra dos escritores, a Alta e a Baixa, jardins e
fontes. Parece-me bem, muito bem mesmo, esta contribuição autárquica para
ficarmos a conhecer melhor a cidade, a nossa, tão ignorada por tantos que nela
vivem.
A secção Lazer, do jornal online Observador, traz todas as
sextas feiras sugestões para, diz, um fim de semana em cheio, em três zonas do
país: norte, centro e sul. Tão habituados que estamos à lamentável dicotomia
Lisboa/Porto, que se lê em todos os outros, até estranho que um meio de
comunicação social de âmbito nacional – obrigado David Dinis – olhe o país como
um todo.
De visita à urbe, António Costa foi "sensibilizado"
pelos pares socialistas (mas ainda é necessário, depois das suas anteriores
responsabilidades no governo e dos muitos anos que o processo já leva?) para o
problema do Metro; João Ataíde, no primeiro aniversário da CIM de terras
mondeguinas, a que preside, quer – espero que sem prejuízo para as autarquias
município e região – as comunidades intermunicipais constitucionalmente
consagradas; se calhar porque se tratava de modernização e inovação, não foram
mais de três dezenas os comerciantes de Coimbra, assim sempre ativíssimos, que
estiveram na sessão promovida pela CMC, Agência de Promoção da Baixa e IAPMEI
sobre a medida de apoio Comércio Investe; também em louvor das obras só
aparentemente pequenas, aplauso para a recuperação e iluminação – uma linha contínua
de luz passa a marcar os sucessivos troços – da muralha de Coimbra; e, depois
do que por aí corre sobre a capital da juventude, e enquanto vemos no que isto
vai dar, comecemos, com tempo, ponderada e sustentadamente, a trabalhar na candidatura
à Capital da Cultura 2020.
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