RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Quando Rui Vilar, presidente do Conselho
Geral, falando a propósito dos 725 anos da Universidade de Coimbra, denunciava,
do alto das suas enormes responsabilidades, "as inércias e os bloqueios
dos interesses instalados", referia-se a quê e a quem?...
Neste, desde ontem, tempo de primavera,
lembro a Tité e aquele dia em que me falou, sublinhando o contraste com outras
urbes, do perfume que em regra envolve Coimbra. Sem sabermos bem apreciar o que
de excelente temos, fica a sugestão para passarmos a atentar melhor nos
cheiros, magníficos, das flores e das árvores, agora ainda mais bonitas, nos
nossos jardins e ruas. Que são tantas. E serão com certeza mais quando Manuel
Machado, ele que as aprecia especialmente, cumprir por inteiro a promessa de
plantar não interessa quantas, mas muitas, novas árvores (e flores) por essa
cidade fora...
O óleo sobre madeira "Nossa Senhora
com o Menino Jesus e dois anjos", pintura rara e de grande importância,
agora, e em boa hora, comprado pelo Estado, é um trabalho de finais do séc. XV,
de uma oficina de Coimbra. Mas, para onde julga que vai a obra do Mestre de
Santa Clara? Se está a pensar no seu regresso a esta urbe, tire daí o sentido.
É que a Direção-Geral do Património Cultural, inimaginável, outro opróbrio para
todos nós, destinou-a, nem mais, não ao Machado de Castro, antes ao Museu de
Arte Antiga. Em Lisboa, está claro. Isto, digo também eu, se a cidade e as suas
instituições, por uma vez, cansadas de tanto centralismo, não exigirem a óbvia
restituição. E, já agora, acompanhada pela Cruz de D. Sancho, também,
incompreensivelmente, ali mantida.
As "Business School" do Porto
e da Nova de Lisboa – peço desculpa, mas agora chamam assim a algumas escolas
de gestão – vão, selecionadas por quem tem poder, e no âmbito de um programa
comunitário, dar cursos de "capacitação avançada de líderes " a
autarcas. Lembram-se ainda de quando Coimbra, centro nevrálgico do poder local,
sede da ANMP e do CEFA, tinha na sua faculdade de Economia uma escola de
referência que privilegiava estas questões? Agora, parece, servimos apenas
para, apoucando até a nossa universidade, virem cá, não sem algum despudor,
anunciar, para longe, programas de formação.
O lançamento do concurso para a
construção da nova ponte de Corge, na ligação ferroviária Covilhã-Guarda,
desativada há seis anos, é uma excelente notícia para toda a região. A menos
que – e não quero sequer acreditar – , depois de construída, se decida,
politicamente, como acontece com as obras no Ramal da Lousã, ser o projeto
insustentável. Ali se criando, ao abandono, como os viadutos do alentejano IP8,
mais um monumento à incapacidade governativa nacional.
Por empenhamento do município e
interesse do concessionário, parece que vamos ter, assim otimizado, um parque
de campismo de cinco estrelas. Fica a faltar igual atitude camarária – e também
da entidade regional de turismo, julgo – para se alcançar a construção, na
cidade, de um outro cinco estrelas, mas na hotelaria. Indispensavelmente, em
favor, repito-o, da qualificação do nosso turismo.
Morreu, antigo reitor, Cotelo Neiva; o
simulador de condução dos SMTUC, afinal, depois de tão jocosas críticas da
atual maioria camarária, agora que se soube que a Europa o paga quase por
completo, sempre serve para alguma coisa: garantir formação prática, melhor e
menos onerosa, a motoristas; há estudantes do ensino superior a passar fome em
Coimbra, diz, sem rebuço, para vergonha coletiva (mas mais de uns do que de
outros), sacerdote ligado ao Instituto Justiça e Paz; para nosso alívio, não
terá havido ingerência política – apenas erro, tardiamente reconhecido embora –
na redação de ata de reunião do executivo camarário; com criatividade e
inovação, mais sustentável, verde e com melhor eficiência, também eu quero
Coimbra, para sermos ainda mais felizes, Cidade Analítica; foi apresentado,
imperdível por lindíssimo, o livro sobre o Botânico "No Jardim há
histórias sem fim"; e uma funcionária da Metro Mondego saiu da sociedade
por – surpresa para quem? – não ter nada para fazer…
António Cabral de Oliveira
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