RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Sinal primeiro da degradação última de um tecido urbano, o
estacionamento em cima de passeios tem vindo a ganhar uma dimensão crescente em
Coimbra. A que urge por cobro através de uma ação efetiva das polícias – elas
que, por vezes, na primeira oportunidade, seja qual for a com certeza
incontestável justificação, são as primeiras a prevaricar –, de segurança
pública ou municipal, tanto nos importa.
Se li bem, Álvaro Amaro dizia, um dia destes, em artigo de
opinião no Sol, e substantivamente, que as atuais CCDR são estruturas
técnico-administrativas que apenas podem servir para uma, porém necessária, desconcentração
de serviços. A regionalização, que aliás defende, é, enquanto instância
político-administrativa, coisa diversa, e terá, embora nos mesmos limites
espaciais – mas não através democratização daquelas Comissões –, de ser objeto
de um processo, outro, e diferente. Quer dizer: o território das regiões até
podia ser o das atuais NUT II, a capital das ditas, por exemplo, essa, desde
logo, pelo menos aqui no Centro, é que não deveria - por Deus não haveríamos de
concentrar a decisão e o planeamento operacional, tudo aqui! – ser em Coimbra.
No agasalhar de projetos particulares, valem quanto pesam, como se dizia na
minha terra, estes nossos políticos. E é por valerem tanto, tanto, que
continuamos a ter tudo decidido nos salões de Lisboa...
Cavaco Silva quis homenagear, justamente, alguns antigos
presidentes de câmara – um abraço Carlos Encarnação – e relevar, na cerimónia
de entrega das comendas, o "contributo decisivo das autarquias locais para
o desenvolvimento do país, a melhoria das condições de vida da população, para
a coesão social". Tudo verdade. Continuo é a não perceber, assim, o porquê
de quase ter destruído o municipalismo democrático, quando foi
primeiro-ministro, designadamente com a retirada dos dirigentes social-democratas
da direção da ANMP. E como pode pactuar, dizendo entretanto o que diz, agora
Supremo Magistrado da Nação, com as agressões que o governo tem vindo a perpetrar
contra a autonomia do poder local?
Não é, sequer, uma marcante coleção de arte – se o fosse,
desconfio, não tinha cá ficado quadro algum – , feita quase toda de autores
locais. Mas a exposição "O legado artístico do Governo Civil",
patente na Sala da Cidade, permitiu-me regressar, por momentos, à casa que Raul
Lino desenhou para Ângelo da Fonseca (a mais bonita de Coimbra, diz o meu
filho), sede, durante tantas décadas, de parte relevante da nossa vida
política. Uma revisitação, agora possível através da pintura e do ferro
forjado, a uma instituição que, para além da delonga da regionalização, não me
deixa saudades.
O Turismo Centro de Portugal vai ter novo logotipo. Que será,
com certeza, esteticamente perfeito, dinâmico, claro e agregador. Mas uma nova
imagem, por melhor que alcance ser nas exigências técnicas e nos seus
propósitos, não é suficiente, nunca, para se ultrapassarem impasses, anquilosamentos
e modas de há uns, pelo menos, trinta anos. Se me faço entender...
Enquanto era notícia a retoma da construção de novas vias (A26)
de ligação a Sines, cerca de Lisboa, o primeiro-ministro anunciava, para não
longe do Porto, um novo eixo rodoviário Famalicão-Trofa. Boas notícias, pois, a
norte e a sul. Aqui pelo centro – a AE Coimbra /Viseu, os IC 6 e 7, na serra da
Estrela – , tudo na mesma, isto é, nada. Obrigado, governo de Portugal.
Já nem posso ouvir, lembrando a frase que escreveram em Alqueva
(construam-me, p….), as tretas governamentais sobre o ramal da Lousã/ Metro
Mondego; depois de recuperado, finalmente, o piso, até dei duas voltas
completas à oblonga rotunda de Santana; concordo inteiramente – sem esquecer,
embora, idêntico projeto para a Cultura, que já tem cidades designadas até 2019
– com a candidatura de Coimbra a Capital Europeia da Juventude 2018; muito
curiosa a iniciativa turística que recria, visitável, a casa medieval da Baixa;
não será, nunca foi, aliás, por falta de terrenos (a câmara acaba de expropriar
mais parcelas) que o iParque tarda em ser o êxito esperado; depois de Paulo
Sérgio, ei-los que partem, José Eduardo Simões?; o fogo, não era pressa,
ameaçou a Mata de Vale de Canas; e gostei de ver a força aglomeradora da
Orquestra Clássica do Centro (parabéns Emília Cabral Martins) quando consegue
juntar num mesmo projeto, assim de facto regional, entidades de tantas terras
de muitos distritos da Beira.
António Cabral de Oliveira
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