RIO ACIMA, SEM MOTOR
Com a chegada dos caloiros, e face às
novas interpretações do que chamam praxe, a quase barbárie voltou à cidade. E é
ver, uma outra vez, o conjunto de indignidades, as tormentas por que passam
aqueles a quem deveriam ser dadas, antes, civilizadamente, as boas vindas. Em
caloroso acolhimento por estarem a estudar em Coimbra. Entretanto, com tais
leituras das "tradições", definitivamente intoleráveis, alguém,
universidade e politécnico, sobretudo estruturas académicas, tem de tomar as
rédeas da situação para por termo a tão alarve incivilidade.
Parece que alguns autarcas
social-democratas tiveram dificuldade em se conformar com a decisão do ministro
Poiares Maduro de não encabeçar a lista de Coimbra da coligação PSD/CDS às
próximas legislativas. Pelo "trabalho desenvolvido", diziam, por
"uma lógica de grande diálogo, proximidade e atenção aos problemas e
especificidades da região". E deve ser seguramente por isso, tenho para
mim, pela intervenção direta do ministro do "Desenvolvimento"
Regional, que, para além do atual "revigoramento" da instituição
municipal, temos já "resolvidas" todas as grandes questões com que
nos vimos debatendo desde há anos. Sem deixar saudade (o que fez, em boa
verdade, por estas terras?), regressará a Florença, à vida académica. De onde,
se calhar, nunca deveria ter saído. Felicidades, pois.
Uma auditoria solicitada pela Agência de
Promoção da Baixa de Coimbra fez – e ainda bem que, afinal, era eu que andava
enganado! –, uma avaliação positiva do setor. Contudo, aconselhava horários
pós-laborais; a abertura aos fins de semana; a atualização e modernização da
imagem e de alguns conceitos de negócio. E ainda (daqui a pouco a culpa do
desaire económico e da decrepitude não é dos comerciantes, é antes do município)
defendia como pontos de melhoria uma maior oferta de estacionamento(?), mais
caixotes de lixo e ecopontos, e intervenções em espaços visivelmente
degradados. Enfim...
De acordo com um estudo recente da
Turismo Centro de Portugal – agora eleita, parabéns Pedro Machado, como a
melhor região nacional –, Coimbra é, por enorme maioria, naturalmente, a cidade
mais identificada quando se fala do território beirão. O que também acontece
quanto aos pontos de atração, a Universidade, e nas tradições e costumes, com a
Queima das Fitas. Sabendo-se bem que estes trabalhos valem o que valem – e, não
raro, muito pouco –, dá, de novo, para questionar, a propósito, sobretudo por
tamanhas evidências também turísticas, porque não está, então, a sede daquela
estrutura regional em Coimbra? Onde, por óbvio, devia ter permanecido,
acrescente-se.
Coimbra, diz-se generalizadamente, é uma
terra que cuida mal das suas memórias. Talvez também por isso gosto de pensar
(presunção e água benta...) que a croniqueta poderá, de algum jeito, ficar a
retratar, em letra de forma, guardando-a, relativa a determinado espaço de
tempo, um pouco da vida da cidade. Mas o que não deixará, com certeza, de se
constituir em repositório excelente do muito que por aqui acontece é o trabalho
fotográfico e em vídeo que Diniz Alves vem produzindo no âmbito – agora,
felizmente, num olhar um pouco mais alargado, para além da vida autárquica –,
de uma sua colaboração com o município. Técnica, estética e documentalmente
relevantes. Já hoje, com certeza. Mas sobretudo para as gerações vindouras. Um
abraço, pois.
Para aí uns trezentos anos depois –
permita-se o exagero após tão longa demora – , veio finalmente abaixo a ruína
que estrangulava a ligação da rua das Parreiras com a Bernardo de Albuquerque;
a Águas de Coimbra continua a ser – mas até quando depois das mexidas ditadas
pela "corte" lisboeta? – empresa líder na satisfação do cliente; a
nossa cidade, valham-nos personalidades como Duarte Nuno Vieira, será sede da
Academia de Medicina Legal e Ciências Forenses dos PALOP; e, que mal pergunte,
e à atenção do Gil Vicente, a Festa do Cinema Chinês, que está a decorrer em
Lisboa, não poderia, em caminhos de descentralização cultural (à semelhança da
francesa, aprazada para os dias 6 a 10 de outubro), ter uma extensão a Coimbra?
António Cabral de Oliveira
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