RIO
ACIMA, SEM MOTOR
No encantamento desta Coimbra, nossa,
sejamos todos, orgulhosamente, leão de Ataces ou dragão de Hermerico, para
elevarmos, bem alto, no dia em que celebramos o município, a taça que integra,
com Cindazunda, quem seja, com as lusas quinas, as armas da cidade.
No Portugal sem dinheiro mas rico em inadmissíveis dificuldades
institucionais, neste país da inépcia e das meias tintas, o protocolo assinado
entre a universidade e a Silva Gaio de cedência de dois blocos desta escola
(com tanta área disponível), para as Ciências do Desporto e Educação Física, é,
seguramente, um bom passo no sentido da resolução dos problemas daquela – em
espaços tão carenciada – faculdade. E era tudo tão evidente, tão necessariamente
fácil, que só surpreende a alongada demora. Não tanto, certamente, por ruídos
ou pelas organizações em si mesmas, antes, sempre, por limitações do próprio
homem. De alguns, pelo menos.
Martin Schulz, presidente do Parlamento Europeu, falando a
jornalistas em Estrasburgo sobre o desenvolvimento de Portugal após a adesão à
União Europeia, citava, como paradigmas do que é, hoje,
"incomparável", as cidades de Lisboa, do Porto e de Coimbra. Ora eis
mais uma evidência de que a realidade nacional só é bem – ou pelo menos é-o
muito melhor – compreendida quando olhada lá de fora...
O secretário de Estado Adjunto do ministro da Saúde veio um dia
destes a Coimbra para anunciar que está já determinado o modelo físico da nova
maternidade, inaugurar uma nova USF de Eiras, e voltar a afirmar abertura, com
certeza não por ser este um tempo pré-eleitoral, para a construção de raiz de
um edifício, no estacionamento da Segurança Social, para o Centro de Saúde da
Fernão de Magalhães. E assim, uma no cravo, outra na ferradura, lá vamos,
julgam eles, cantando e rindo...
O facto de, no âmbito do
"Desenvolvimento Local de Base Comunitária" – instrumento do Portugal
2020 que visa o empreendedorismo e a criação de postos de trabalho –, não ter
sido aprovado, na região Centro, uma única candidatura na vertente urbana (das
100 apresentadas só o foram 20 em Lisboa e 4 no Algarve), prefigura-se para
Manuel Machado, cheio de razão, como muito estranho. Da minha parte, contudo,
olhando o país em que este e os anteriores governos nos transformou, porventura
mais sarcástico, não estranho nada. Absolutamente nada...
Depressa me desenganei. Afinal, ao contrário do que li, a
parceria com o Santander não é suficiente para renovar todas as cadeiras do
Teatro Académico de Gil Vicente. Parece que temos de nos contentar – para além
da remodelação de alcatifas e, relevante, de equipamentos técnicos do palco –
apenas com o arranjo da plateia. Com o balcão a ficar à espera de melhores
dias, ou (olá câmara municipal) de outra resposta da cidade. Uma enorme pena.
Dando a conhecer, através de um outro olhar, um pouco da
história da cidade, José Moura Távora (azar para quem não se disponibilizar a
uma visita), tem patente, no Dolce Vita, uma exposição de deliciosas miniaturas
de alguns dos mais emblemáticos edifícios de Coimbra, poucos já desaparecidos
na voragem do tempo. Riquíssimo nos pormenores, feitos de um trabalho imenso em
arte, paciência e, também, persistência, o resultado é, simplesmente, uma
imperdível maravilha. Ou melhor, uma dúzia delas...
Se em terras de Coimbra, assim "cultas", metade das
famílias têm apenas a antiga quarta classe, o que não será no resto do país;
nesta cidade onde, errando absolutamente, julgávamos não haver bom ensino de
bailado, temos de estar atentos, muito mais atentos, ao que se faz,
repetidamente premiado, no Centro Norton de Matos; a Assembleia Municipal
chumbou (naturalmente, apetece dizer), o novo tarifário dos resíduos urbanos;
aí está, com um museu perpetuador da ligação de Coimbra à cerveja (uma saudade,
Carlos Fabião, aqueles finos, com António Simões, na fábrica), perfeita na
qualidade cervejeira, a agora mais moderna e ampla Praxis; e, em festa –
"o cavalheiro dança?"–, a cidade dançou, noite fora, no Baile da
Rosa...
António Cabral de Oliveira
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