RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Um dia destes, como se fosse grande novidade e desafio ainda
maior, ouvi referir, durante uma sessão sobre museus, a possibilidade de
Coimbra vir a ser, no nosso país, a próxima Capital Europeia da Cultura. Estou,
como estive em relação a 2012, ano em que foi escolhida Guimarães (e agora já
se fala em Évora), inteiramente de acordo. Mas, primeiro – e não esqueçamos que
nem um simples quadro recentemente adquirido pelo Estado conseguimos colocar no
Machado de Castro –, temos de afirmar peso político, de que, de momento, tão
desprovidos andamos. Só então estaremos em condições para dar ao governo,
leia-se sobretudo ao primeiro-ministro, as "garantias" de que a cidade
é a melhor escolha. Isto se Portugal tiver "condições", e houver ainda
tais capitais...
Foi um Manuel Alegre
emocionado – ainda há, felizmente, cidadãos que sentem Coimbra de maneira assim
muito especial – que recebeu, "a mais importante na minha vida", a
Medalha de Ouro do município. E para todos nos darmos bem conta da forma
particular com que acolheu a distinção, o seu autor fez entrega à cidade –
"a quem pertence desde sempre e para sempre", diria – do manuscrito
original da Trova do Vento Que Passa. Em boa hora encontrado pelo poeta, ocasionalmente,
dois meses atrás. Gostei, gostámos todos, da agradável e valiosa surpresa.
Obrigado, Manuel Alegre.
O presidente da Associação Comercial e Industrial da Figueira da
Foz disse, cheio de razão, não se compreender que a Universidade de Coimbra, ao
longo dos seus 725 anos, "ainda não tenha considerado suficientemente
apetecível a biodiversidade única do estuário do rio Mondego e a costa da
Figueira para criar um pólo marítimo de excelência nesta cidade, e se reduza a
recolher amostras para colocarem apresentações de power point e teses".
Pertinentes palavras. Não será, de facto, mais do que tempo de as ouvir?
O ranking da Bloom Consulting, que nos consolida no quinto lugar
entre os municípios portugueses (e não cidades, leia-se bem) deve ser olhado
como um instrumento de trabalho para a definição de prioridades políticas
autárquicas, para o alcançar de lugar outrossim consentâneo com a realidade.
Mais do que ser o melhor município da Beira, deve interessar-nos, sobremodo,
que Coimbra se empenhe e trabalhe para atingir, sempre, aquela que é a sua
posição natural no quadro nacional: ser a melhor. Ultrapassando, sabemos, os
constrangimentos estruturais, as dificuldades criadas administrativamente, os
propósitos de esvaziamento em que os sucessivos governos centrais têm apostado.
Mas também, reconheçamos, vencendo a fraqueza – nossa – das suas gentes!
A Fundação Francisco Manuel dos Santos, na sua magnífica ação em
favor da sustentação do desenvolvimento nacional, juntou-se ao Diário de
Noticias para, através da oferta de livros de sua edição, garantir "mais
cultura e informação" aos portugueses. E fizeram bem. Pena
circunscreverem-se, sempre o mesmo, à mesma Lisboa. E não trazerem a
iniciativa, por exemplo, igualmente a Coimbra, onde, em simultâneo, decorria a
nossa Feira do Livro. É que aqui também há cidadãos – desde logo a
administradora da FFMS, Maria Manuel Leitão Marques –, também leitores do DN.
Talvez para o ano...
Com receios estultos quanto a Coimbra, e por culpa dos políticos
que temos, primeiro foi Aveiro a ver-se quase transformada no território
suburbano que hoje é em relação ao Porto. Perante tamanha adulação pela urbe do
Norte por parte de responsáveis autárquicos – a nova linha ferroviária, agora o
turismo –, tememos bem, enquanto beirão, que um dia destes seja Viseu que,
pelas mesmas razões, lhe venha a seguir as pisadas.
Com dignidade, mas sem o luzimento que a efeméride amplamente
justificava e merecia – nem ministra, comandante-geral, sequer o presidente da
câmara –, a GNR comemorou o centenário da sua presença em Coimbra; a Casa dos
Pobres festejou os 80 anos enquanto homenageava, parabéns para ambos, Aníbal
Duarte de Almeida; o "mendigo Basílius", ator benfazejo, foi
justamente distinguido pela cidade; os espumantes da Bairrada em Coimbra
voltaram a ter o (agradável) esperado êxito; foi excelente a resposta da região
ao Banco Alimentar; e parece que este ano não se realiza, pode lá ser!, a Festa
da Sardinha, na Figueira da Foz.
António Cabral de Oliveira
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