RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Quando as capitais dos distritos se limitarem a ser meras
"Lojas do Cidadão", os municípios ficarem reduzidos a pouco mais do
que "Espaços do Cidadão", e as freguesias forem apenas, também do
"cidadão", balcões – tudo, seguramente, sempre em favor do acesso
rápido e generalizado aos serviços da administração pública e não, cruzes
canhoto, enquanto medida para centralizarmos ainda mais – , talvez olhemos,
então, com certeza perplexos, para Lisboa, cidade-país. E, depois das inúmeras
festas que alegremente fizemos Portugal fora, choremos, muito por culpa de
tanta negligência nossa, amargas lágrimas de...crocodilo. Sobre o leite
derramado!
Estão consignados os trabalhos – desfazer o nó górdio lhe
chamava, com propriedade, Manuel Machado – de conclusão, finalmente, do (também
a extensão do nome dá bem conta da dimensão da obra magnífica) Centro de
Congressos e Espaço Cultural de S. Francisco. No valor de quase oito mil
milhões de euros, a empreitada tem de estar concluída dentro de 150 dias, data
em que – com ou sem celebração, antes, ali, como desafiava o presidente, do 5
de outubro, dia da implantação da República em 1910, também da Fundação de
Portugal em 1143 – lá estarei para franquear, com inusitado aprazimento, portas
de futuro da cidade, região e do país.
A centralização está de tal forma enquistada no nosso pensamento
que até dirigentes políticos e económicos de Poiares e da serra da Lousã – a
propósito de uma nova ligação rodoviária de Penacova à A13, pela margem
esquerda do Mondego, ideia já preconizada e entretanto abandonada pelo
presidente de Viseu, e que, espero, em tempo possa vir a ser construída –
defendem, logo eles, vizinhos e tão umbilicalmente (digamos apenas assim)
ligados à cidade, que, hoje em dia, para muitos, Coimbra...é um ponto de
passagem!
Carlos Cidade pagou, de forma voluntária, 1500 euros ao Estado,
suspendendo assim um processo-crime que tinha pendente por ter substituído
trabalhadores da recolha de lixo durante uma greve. "Cumpri a minha
obrigação ao pagar. E a cidade, nos quatro dias da greve, esteve limpa",
diria. Saiu-lhe caro. Mas gostei de ouvir, e anoto, a preocupação maior,
afinal, do autarca: servir Coimbra e a sua população. Muito bem.
O escultor Alves André, entre nós já muito representado – busto
de Cabral Antunes, na Sereia, a tricana e a guitarra, em Almedina, a Irmã
Lúcia, junto ao Carmelo –, dizia, há dias, em entrevista, que lhe falta ainda
criar uma grande peça na nossa urbe. Não sei se estaria a pensar na estátua
equestre que Coimbra deve a D. Afonso Henriques, Rei Fundador que fez a cidade
capital do reino, e aqui quis ser sepultado. Mas eu estou. E quanto gostaria
que Manuel Machado e a municipalidade me acompanhassem nestas cogitações.
"Não tem sido fácil", reconhecia a vereadora Carina
Gomes sobre a concretização desse projeto antigo (porque será que outras
cidades, também com instituições de diferentes regimes e diversas tutelas conseguem
e nós não?) que é a criação, em Coimbra, de um bilhete turístico único. Mas
parece que a coisa, agora, vai. Tem de ir, diria eu. Com todos, ou apenas
aqueles que o desejarem...
Porventura com programação excessiva – sobrará tempo ou
oportunidade para folhear, passar sequer os olhos pelas letras deste ou daquele
autor? – foi anunciada uma grande iniciativa cultural, de 30 de maio a 7 de
junho, no parque Manuel Braga, com artesanato, gastronomia, artes plásticas e
performativas, indústrias criativas, música e, ainda…feira do livro.
A Noite e o Dia dos Museus foram – uma pena não o ter sido
também no nacional Machado de Castro, com os funcionários em greve às horas
extraordinárias – uma participada festa na cidade; em terra, dizem, sem vida
empresarial, a Coimbra Genomics foi distinguida como a segunda maior promessa
europeia de entre as PME's na área das soluções eletrónicas para os cuidados de
saúde; mais de um mês depois da data da sua fundação (7 de abril de 1889), os
Bombeiros Voluntários de Coimbra lá celebraram, parabéns, 126 anos de vida; a
Académica, um abraço José Viterbo, bem no declinar do campeonato – até quando
este permanente sofrimento? – garantiu a permanência na primeira liga; e, por
ocasião do seu 85º aniversário, celebremos, hoje, tantas vezes criticado, mas
cada vez mais e mais indispensável, o "Diário de Coimbra".
António Cabral de Oliveira
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