RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Maurício Marques terá recebido, da
parte do governo, a garantia de que, a muito curto prazo, será concretizada a
nova estação ferroviária de Coimbra, "mais funcional e com melhor
capacidade intermodal". Num tempo em que duas ou três recentes idas à
estação de Aveiro me provocaram uma sadia inveja, continuo a aguardar, não por
novos recados, sequer planos, antes pelo início dos trabalhos de construção.
Recordando, entrementes, que a Refer, recentemente, se tinha comprometido a
apresentar o projeto até julho (deste ano, é óbvio!), também que a cidade e a
região recusam um qualquer arremedo de obra, antes exigem uma estrutura âncora
para o seu desenvolvimento que responda às necessidades do presente, sobretudo
às demandas do futuro.
O Conselho Geral da Universidade de Coimbra deu início ao
processo de eleição do próximo reitor, que deverá ocorrer em fevereiro próximo.
Em valor da tradição, "tudo como dantes, quartel general em
Abrantes", ou será que já alguém faz contas...para deixarmos de fazer, sobretudo,
contas?...
Aparentemente nostálgica do passado – o anterior executivo
aprovou, o atual materializou – a câmara municipal restituiu a circulação
automóvel em Santa Clara e na Guarda Inglesa à sua antiga fórmula, com trânsito
em ambos os sentidos. Incapaz, sem a indispensável (ainda tardará muito?)
colaboração da universidade, de concretizar a melhor solução viária através de
uma artéria a nascer no interior do estádio, junto do pavilhão 1, assim se adia
a devolução do Rossio a exclusivo uso pedonal, assim se vai deitando, já o
escrevi e reitero, dinheiro à rua.
Ao contrário do anúncio ("duas entradas para uma saída
feliz", lembram-se?) dos Armazéns Grandella, o parque de estacionamento do
convento de S. Francisco devia ter, antes, uma entrada para duas saídas
felizes. Mas não. O acesso único far-se-á ao nível da avenida, a saída através
de rampa que nasce lá nos fundos, e obrigatoriamente em direção a Bencanta, até
se inverter a marcha na rotunda mais próxima. Uma pena, pois, não haver, para
além daquela escapatória para norte, outra no sentido do Portugal dos
Pequenitos. Mas numa cidade onde no edifício das Químicas se esqueceram dos
ácidos quando fizeram as tubagens; os autocarros não entram no estádio por
causa dos aparelhos de ar condicionado; a ponte Rainha Santa, com aquela
dimensão, privilegia não a circulação externa mas o centro da urbe, que mais
poderíamos esperar?...
Não posso estar mais de acordo com Manuel Machado quando decidiu
a não adesão de Coimbra à Semana Europeia da Mobilidade (ou Dia Europeu Sem
Carros, o que seja). Sustentando, muito bem, que o que a cidade quer são novos
autocarros e o Metro Mondego – e para ambos a administração central está-se nas
tintas – é caso para acrescentar que folclore só o de raiz etnográfica, e
genuíno!
Como o comprovam os pedidos feitos pelo presidente do município
de Viseu aquando da recente visita do primeiro-ministro, Coimbra está sozinha na
reivindicação da autoestrada de ligação entre as duas cidades. Será que
Fernando Ruas não poderia explicar qualquer coisa sobre a região a Almeida
Henriques, nem que seja fazendo-lhe um desenho?...
Como a Universidade de Coimbra não tem, sozinha, a verba de 150
mil euros para renovar as cadeiras do Gil Vicente, os responsáveis daquele
teatro académico, com certeza desesperados, pediram ajuda à cidade. E embora
julgue inacreditável a situação – não é isto bater no fundo? – serei o primeiro
a adquirir um bilhete solidário, por exemplo de dez euros, para espetáculo
imaginário, em gesto que corporize um agradecimento, seguramente por parte de
muitos de nós, pelo tanto que o TAGV vem fazendo em prol da cultura.
Gosto de beldroegas. Mas prefiro-as, receita alentejana, numa
boa sopa, não nos passeios de tantas ruas da nossa cidade. Onde, inadmissível,
crescem, ainda, ervas altas e imensas, a transformarem os espaços – exagere-se
para sublinhar – numa quase selva que ninguém capina.
O Confirmado de 1991, um baga que a
Adega de Cantanhede ressuscitou das suas caves, é, na exigente ótica do Mundus
Vini, este ano, o melhor vinho tinto de Portugal. Tão só! Parabéns imensos.
António Cabral de Oliveira
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