RIO
ACIMA, SEM MOTOR
Para o governo, a construção da autoestrada Coimbra-Viseu só é
possível com dinheiros privados. Para Passos Coelho, aviação civil na Base
Aérea de Monte Real só será viável através de investimento privado. Que
belíssima maneira, esta, recusando o público, de, após o castigo da não
construção de equipamentos que superabundam noutras zonas do país, dizer que o
Estado não vai concretizar nada de estrutural e relevante na região. O nosso
Bem-Haja, pois, olhando o bilhete de identidade, a tão dileto filho desta cidade...
Foi chamada de primeira página, quase generalizada, na
comunicação social: Coimbra, diz o INE, tem seis vezes mais médicos (também
enfermeiros) do que a média do país. Assim mesmo, sem grandes explicações, nem sequer
referir a importância do setor e a sua dimensão, muitas vezes única, nacional e
regional, fica o sensacionalismo dos títulos. E são eles, não o esqueçamos
nunca, na esmagadora maioria dos casos, a única informação que os portugueses
leem. Queira Deus que tudo não seja mais do que justificação para futuros novos
cortes, para uma maior redução dos quadros da saúde na cidade. Para, poderia
até pensar-se, combater "desigualdades"...
Primeiro foi a surpresa, enorme, de que o Estado adquirira –
estamos mais habituados a vê-lo vender – manuscritos inéditos de Garrett.
Depois, maior ainda a estupefação que os documentos, imagine-se, serão
"objeto de um contrato de depósito na Biblioteca Geral da Universidade de
Coimbra". Um espanto! Melhor, dois!
Coimbra B, esse equipamento de excelência que tão bem serve a
cidade e a região, acaba de ser dotado com um renovado parque de estacionamento
de curta duração e uma praça de táxis ampla e confortável. Um contributo do
município que põe fim a uma das pouquíssimas limitações – ironizemos – de que
sofria o melhor apeadeiro, mas também a pior estação ferroviária de Portugal.
Um novo hotel de 4 estrelas e cem quartos – não é de todo
menosprezível, mas o que Coimbra precisa, indispensavelmente, para ajudar a
qualificar o turismo, é de uma unidade de 5 estrelas – irá nascer, anuncia-se, valorizando-o
de um ponto de vista urbanístico (para quando uma solução para a antiga fábrica
de curtumes?), no gaveto da Fernão de Magalhães com a Rua da Figueira da Foz.
Depois de Braga – o que é natural já que alfabeticamente o B vem
antes do C –, o Jornal de Negócios dedicou a Coimbra o dossier "Negócios é
Portugal". Onde se faz, de leitura indispensável, uma profunda radiografia
(o saber, a saúde, a tecnologia) da realidade económica, também social, da
terceira cidade do país.
A Académica de hoje "entristece-me imenso porque é um clube
como outro qualquer, e muitos sócios afastaram-se e outros não se reveem no que
está a ser feito", lamentou, cheio de razão, o presidente do Núcleo de
Veteranos da Briosa, aquando de justíssima homenagem a João Maló. Ficamos
agora, Valido – em boa verdade estamos, desde há muito, à espera –, que quem,
com toda a legitimidade, sente assim a camisola preta, dê, assumidamente, afinal
com a cidade, indispensável passo em frente em caminho que tantos muito
ambicionamos...
A construção de um "ferry" para Timor deu reinício,
neste dezembro, à atividade de construção naval na Figueira da Foz, nos
Estaleiros do Mondego. Um momento marcante não só para aquela cidade, mas
ainda, congratulemo-nos, para toda a região.
O território mais envelhecido de toda a União Europeia é o
Pinhal Interior Sul, aqui no centro do país. E não o será, seguramente, pela
excelência dos serviços de saúde, pelas estruturas de assistência social,
enfim, pela garantia de uma longa qualidade de vida. É-o, sabemos bem, em
resultado de políticas que tudo concentram em Lisboa, pela desertificação
humana, pelo abandono de todos os que – "adeus aldeia, que eu levo na
ideia, não mais cá voltar" – sentem ainda forças para partir.
Bom Ano Novo para todos.
António Cabral de Oliveira
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