RIO ACIMA, SEM MOTOR
Parece que a cidade, e os seus políticos, descobriram, agora, por fim, um trabalho que vem sendo preparado sob os auspícios da Fundação Gulbenkian e que prevê, numa primeira fase, a criação de dois Arcos Metropolitanos, os de Lisboa e Porto (ou do Noroeste, também lhe chamam), "macrorregiões" e "grandes motores do desenvolvimento do país", que, ao Centro, aquela até Leiria, esta até Aveiro, quase tudo absorvem. Mas sem referirem, como li há tempos, que mais tarde será analisado o espaço metropolitano de Coimbra, quando, digo eu, e em boa verdade, já nada de relevante houver para observar em termos do que poderemos chamar, então, de restos do país. Contudo, se este estudo não será mais do que isso mesmo, um estudo, mais preocupante é a decisão política do atual governo de fazer eleger diretamente, já nas próximas autárquicas – "equiparando-as" às Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional –, os futuros presidentes das Áreas Metropolitanas das duas maiores cidades, assim marginalizando todos os restantes agrupamentos de municípios, as Comunidades Intermunicipais. E então, se o permitirmos, estará acabado, em definitivo, o Portugal uno, coeso e harmoniosamente progressivo com que, pelo menos alguns, ainda sonhamos.
A prometida "Sagração da Primavera" no Convento de São Francisco, bem mais tradicional do que a do modernista Stravinsky, está, afinal, aí. Manuel Machado anunciou, no primeiro dia da mais venturosa estação do ano, o espetáculo de abertura – não de inauguração, diz, que essa foi nos idos de 1600 – da reutilização daquele espaço cultural, com a subida a cena, significativamente, mas no pior sentido (provincianinho e partidariamente correto), de uma reposição dos "Bichos", de Miguel Torga. Enquanto se ficava a saber, e alguns há muito desafiantes, sobre espetáculos já programados. Ainda não é a vinda de bailarinos do Bolshoi, de músicos da Filarmónica de Berlim, de cantores de ópera do Scala de Milão. Mas, cheios de esperança, contudo exigentes, dêmos (um pouco de) tempo ao tempo.
Depois de o Santo Padre ter anunciado a vinda, no próximo ano, para as celebrações do centenário das aparições de Fátima, o Presidente da República, naquela que foi a sua primeira deslocação oficial, esteve em Roma, designadamente para convidar o Papa Francisco a visitar-nos. Alegando, muito corretamente, que o papado foi, com Alexandre III, a primeva entidade internacional a reconhecer a nossa independência, em 1179, espero que Marcelo Rebelo de Sousa não se esqueça de fazer incluir Coimbra no roteiro da estadia já que era aqui, oitocentos anos atrás, então capital do Reino – durante mais de um século –, que nascia Portugal. D. Afonso Henriques, no seu túmulo, ali em Santa Cruz, merece o gesto. Nós, os da cidade e região, também.
O Jubileu da Misericórdia ou um apelo á oração pelas vocações, são razões que levaram a Igreja a colocar enormes painéis, imagine-se, nas fachadas ou paredes laterais de monumentos nacionais. Como acontece, por exemplo, em Santa Cruz, na Sé Velha, em Santiago. Será, valha-nos Deus, que não havia outra forma, igualmente impressiva mas menos agressiva e mais respeitadora do património, de o fazer?
Ainda pensei, assim otimista, que as árvores oferecidas pela câmara e que Carlos Cidade ajudou a plantar no Centro Escolar da Solum, como forma de celebrar a primavera, fossem, finalmente, o princípio, ali ao lado, do novo jardim. Afinal, expectativas goradas, não. O esquecido espaço continua isso mesmo. Ao abandono.
A Universidade de Coimbra continua bem posicionada, entre a elite mundial, no ranking QS by subject, sendo (ainda só) em algumas áreas a melhor portuguesa; tomaram posse os órgãos sociais do Centro Académico e Clínico de Coimbra, consórcio de enorme importância que, agregando o maior hospital português e a sua mais relevante universidade, em muito irá contribuir, auguramos, para o desenvolvimento da ciência e do país; Armando da Silva Carvalho venceu o prémio literário Fundação Inês de Castro 2015; e, para todos, boa Páscoa.
António Cabral de Oliveira