sábado, 2 de abril de 2016

A 26 de março ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Parece que a cidade, e os seus políticos, descobriram, agora, por fim, um trabalho que vem sendo preparado sob os auspícios da Fundação Gulbenkian e que prevê, numa primeira fase, a criação de dois Arcos Metropolitanos, os de Lisboa e Porto (ou do Noroeste, também lhe chamam), "macrorregiões" e "grandes motores do desenvolvimento do país", que, ao Centro, aquela até Leiria, esta até Aveiro, quase tudo absorvem. Mas sem referirem, como li há tempos, que mais tarde será analisado o espaço metropolitano de Coimbra, quando, digo eu, e em boa verdade, já nada de relevante houver para observar em termos do que poderemos chamar, então, de restos do país. Contudo, se este estudo não será mais do que isso mesmo, um estudo, mais preocupante é a decisão política do atual governo de fazer eleger diretamente, já nas próximas autárquicas – "equiparando-as" às Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional –, os futuros presidentes das Áreas Metropolitanas das duas maiores cidades, assim marginalizando todos os restantes agrupamentos de municípios, as Comunidades Intermunicipais. E então, se o permitirmos, estará acabado, em definitivo, o Portugal uno, coeso e harmoniosamente progressivo com que, pelo menos alguns, ainda sonhamos.

A prometida "Sagração da Primavera" no Convento de São Francisco, bem mais tradicional do que a do modernista Stravinsky, está, afinal, aí. Manuel Machado anunciou, no primeiro dia da mais venturosa estação do ano, o espetáculo de abertura – não de inauguração, diz, que essa foi nos idos de 1600 – da reutilização daquele espaço cultural, com a subida a cena, significativamente, mas no pior sentido (provincianinho e partidariamente correto), de uma reposição dos "Bichos", de Miguel Torga. Enquanto se ficava a saber, e alguns há muito desafiantes, sobre espetáculos já programados. Ainda não é a vinda de bailarinos do Bolshoi, de músicos da Filarmónica de Berlim, de cantores de ópera do Scala de Milão. Mas, cheios de esperança, contudo exigentes, dêmos (um pouco de) tempo ao tempo.

Depois de o Santo Padre ter anunciado a vinda, no próximo ano, para as celebrações do centenário das aparições de Fátima, o Presidente da República, naquela que foi a sua primeira deslocação oficial, esteve em Roma, designadamente para convidar o Papa Francisco a visitar-nos. Alegando, muito corretamente, que o papado foi, com Alexandre III, a primeva entidade internacional a reconhecer a nossa independência, em 1179, espero que Marcelo Rebelo de Sousa não se esqueça de fazer incluir Coimbra no roteiro da estadia já que era aqui, oitocentos anos atrás, então capital do Reino – durante mais de um século –, que nascia Portugal. D. Afonso Henriques, no seu túmulo, ali em Santa Cruz, merece o gesto. Nós, os da cidade e região, também.

O Jubileu da Misericórdia ou um apelo á oração pelas vocações, são razões que levaram a Igreja a colocar enormes painéis, imagine-se, nas fachadas ou paredes laterais de monumentos nacionais. Como acontece, por exemplo, em Santa Cruz, na Sé Velha, em Santiago. Será, valha-nos Deus, que não havia outra forma, igualmente impressiva mas menos agressiva e mais respeitadora do património, de o fazer?

Ainda pensei, assim otimista, que as árvores oferecidas pela câmara e que Carlos Cidade ajudou a plantar no Centro Escolar da Solum, como forma de celebrar a primavera, fossem, finalmente, o princípio, ali ao lado, do novo jardim. Afinal, expectativas goradas, não. O esquecido espaço continua isso mesmo. Ao abandono.

A Universidade de Coimbra continua bem posicionada, entre a elite mundial, no ranking QS by subject, sendo (ainda só) em algumas áreas a melhor portuguesa; tomaram posse os órgãos sociais do Centro Académico e Clínico de Coimbra, consórcio de enorme importância que, agregando o maior hospital português e a sua mais relevante universidade, em muito irá contribuir, auguramos, para o desenvolvimento da ciência e do país; Armando da Silva Carvalho venceu o prémio literário Fundação Inês de Castro 2015; e, para todos, boa Páscoa.

António Cabral de Oliveira

A 19 de março ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

A Infraestruturas de Portugal vai estudar uma solução para a remodelação da gare ferroviária de Coimbra B, deu-nos conta, sem pudor, o secretário de Estado Oliveira Martins. Depois de tantos anos, e dos projetos já elaborados, o governo tem o desplante de vir dizer, e em público, que a IP "irá apresentar soluções" para, ainda nesta legislatura – também só faltava que não! – se ver como resolver o problema da, cuidamos, mais vergonhosa estação da rede dos caminhos de ferro portugueses. Mas nós ajudamos: construindo, moderna, intermodal e multifuncional, a estrutura que Joan Busquets desenhou. E não, definitivamente, inventar, baratinho, um qualquer arremedo de solução para melhorar um pouco os já anunciados...arranjos de telhados e das caixilharias!

Continuamos bem – estivéssemos nós assim em todas valências que nos definem enquanto cidade – em matéria de saúde. Com o Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra a alcançar a excelência em áreas diversas, a ser, de acordo com os critérios do ministério, Centro de Referência em 14 especialidades médicas. E em algumas, como acontece com os transplantes cardíacos, mesmo único. Agora só falta a reposição dos níveis de qualidade nas mais simples e pequenas, mas não menos importantes, exigências.

O vereador substituto Bingre do Amaral, numa das suas (assim felizmente raras) aparições nas reuniões do executivo camarário, ajudou a viabilizar, substantivamente, com os edis socialistas, um desqualificado mamarracho para nele se instalar, em plena Guarda Inglesa, ao lado do Convento de S.Francisco e aos pés de Santa Clara-a-Nova, impensável, um suburbano supermercado. Sem querermos especular sobre o porquê da rendição de Ferreira da Silva, a decisão do autarca seu suplente, obviamente legítima, é, julgamos, uma nódoa negra, inapagável, na ação esclarecida e exigente que vinha caracterizando a intervenção política dos "Cidadãos por Coimbra" na vida do município.

A recuperação do largo das Cortes, em Santa Clara, vai ser muito mais parque de estacionamento do que praça, e, também, uma pena, não será ainda ocasião para dali retirar o barraco "cultural" a que insistem em chamar de "museu", substituindo-o, obviamente, por conjunto escultórico que fique a perpetuar a relevância histórica das Cortes de Coimbra de 1385, ainda de João das Regras.

Num tempo, há dias, de grande atenção noticiosa para com aquele grupo sueco, se o Expresso Economia dava como certo que "Coimbra está na agenda" de próximas inaugurações, e o Diário Económico acrescentava que "Coimbra pode ser uma solução", já o Público punha a questão de "no centro, Aveiro ou Coimbra?". E nós, pelo sim e pelo não, interessados numa loja Ikea, de facto diferenciadora em termos regionais, deixamos a informação...ao cuidado de Manuel Machado.

Com o início, amanhã, da primavera, com a chegada das suas primeiras flores que, lindíssimas e perfumadas, tanto as embelezam, pode ser que quem de direito, assim enlevado, passe (ou volte) a olhar as árvores da cidade como uma mais-valia, imensa, para a sua afirmação encantatória, para a qualidade de vida de Coimbra.

A SRU, sociedade de reabilitação urbana, sem ter uma única obra feita, morreu de morte natural; o município anunciou o seu programa de visitas temáticas guiadas, iniciativa de grande interesse que este ano, muito bem, surge ainda valorizada em relação às edições anteriores; a Feira dos Lázaros, sempre bem-vinda, revisitou, no Largo D. Dinis e no bairro de Celas, a cidade; a ACIC, lamentável, requereu a sua insolvência; amanhã decorre mais uma edição, vamos à vila, da Feira do Bolo de Ançã; e, sem conseguir, aqui na terra, toda a expansão que se augura e temos como possível, a tecnologia coimbrã lá vai...em direção a Marte.

António Cabral de Oliveira

A 12 de março ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Helena Freitas – já que não foi ministra, alguma coisa de relevante e vistosa teria naturalmente de receber – é a coordenadora da Unidade de Missão de Valorização para o Interior, um novo ente político agora apresentado, com pompa e circunstância, no Portugal profundo. Propondo-se, e quanto êxito lhe auguro, refazer a coesão territorial através de medidas de desenvolvimento do interior (aquele espaço, vastíssimo, quase o país inteiro, abandonado, desprezado, naturalmente desertificado em favor da cidade-Estado), a anterior vice reitora de Coimbra tem entre mãos a mais difícil e exigente missão da governança deste assimétrico Portugal. Mas, com certeza, também, a mais desafiadora e exaltante.

Adiada logo a primeira, em Coimbra, começam mal – bem sei que as razões hão de ser ponderosas – as anunciadas reuniões mensais descentralizadas do governo.

O professor Manuel Tão, do alto do seu muito saber, afirma que, ao contrário da requalificação da Linha da Beira Alta, a construção de uma nova ferrovia Aveiro-Viseu-Espanha, caríssima, “não respeita as necessidades de estruturação interna” da Região Centro. É uma “miragem fantasiosa” sem “qualquer tipo de fundamentação”, enfatiza ainda. Ora eis.

Pensando não valer a pena – já escrevi repetidamente criticando em absoluto o desinteresse ou a incapacidade dos comerciantes da Baixa – não fui, naquele dia, a mais uma reunião organizada pela sua esforçada Agência de Promoção. E, pelo que li, estava, desgostoso embora, cheio de razão: a mesma apatia (40 entre centenas); as queixas de sempre, sobretudo contra a autarquia; o lançar de culpas a todos os outros, mas não aos próprios. E, assim, num tempo indiciador do regresso ao comércio tradicional, continuamos à espera de uma revoada de gente nova que, com alguns, poucos, dos atuais empresários, possam modernizar e dinamizar todo aquele tecido económico e social. Obrigando a câmara, de tal jeito, a um mais efetivo e indispensável empenhamento na requalificação urbana da zona.

Para uns – e estamos a falar do sistema de mobilidade do Mondego – é a defesa dos verdadeiros interesses regionais através do carril; para outros, o pugnar por conveniências que envolvem o pneu; para alguns, ainda, as imensas dúvidas técnicas que implica uma solução, o "busway", obviamente mais barata em razão de custos diretos, que não, de todo, em termos de sustentação, de desenvolvimento, afinal de futuro.

Podemos estranhar a demora na utilização do espaço, ao fundo da Paulo Quintela, para a construção de casas para magistrados (o ministério da Justiça nem as faz nem devolve terreno ao município), discordar-se, mesmo, do seu uso para localização, ali, de uma feira semanal de levante. Mas, neste longo entretanto, uma coisa é certa: os trabalhos de pavimentação agora realizados pela câmara valorizaram a área e retiraram-lhe, na medida do possível, mas substantivamente, aquele ar terceiro mundista que a todos nos envergonhava.

Garantia-se para o final do verão passado a ligação entre a Baixa e a Alta através da mata do Botânico. Entretanto, apesar de concluída – e lembro recente e oportuna reportagem, aqui, de Ana Margalho –, continuamos à espera pelo ultimar das obras na Praça da Alegria e da chegada dos pequenos autocarros elétricos que irão fazer o percurso. Talvez lá para o princípio do próximo verão, não chega bem a um ano depois do prometido, possamos, enfim, redescobrir outros segredos do nosso mais belo jardim. Alegremo-nos, pois.

Muito bem esteve a JSD quando, para lembrar aos governos (nacional, "regional", local) e à Presidência da República que, sem Afonso Henriques e Coimbra, primeira capital do reino, não haveria Portugal, depositou uma coroa de flores junto ao túmulo do Rei Fundador; nem sou entendido nem aprecio especialmente a arte da banda desenhada, mas gostei de visitar a CoimbraBD que, diz-me quem sabe, se constituiu numa ótima iniciativa; foi consignada a construção da rotunda da Guarda Inglesa, por certo importante para a segurança da circulação, também valorizadora (mas não, por favor, de um qualquer outro equipamento) do convento de S. Francisco e da faculdade de Desporto; a escola de Medicina, justíssimo, atribuiu a sua medalha de ouro a Catarina Resende de Oliveira; e a festa da Francofonia tem vindo a celebrar, também na (por ela) nunca esquecida Coimbra, a cultura francesa.

António Cabral de Oliveira

A 5 de março ACO escreveu ...

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Porque se está a poucos meses, admitamos, de saber o que se vai fazer do "metro", deveríamos talvez esperar pela solução que for encontrada para se definir, então, a agora chamada Via Central. Mas não podemos esquecer os vários "compromissos assumidos", dizia Manuel Machado, sobretudo, acrescento eu, as responsabilidades financeiras que advirão, ou poderiam advir, que é o que se quer evitar, do canal entre a Fernão de Magalhães e a Sofia deixar de ter um uso (quase) exclusivamente ferroviário, para ser rodoviário. Daí, e antes que o governo decida qual a opção para o sistema de mobilidade do Mondego, a urgência de se aprovar – a sua execução, com a recuperação urbanística do degradado espaço, logo se verá – um projeto, com alargamento para os cinco metros, de natureza "rodoferroviária", seja isso o que for, indispensável para "consolidar"... os tais "compromissos". Estamos, enfim, a procurar reverter o que está aprovado, patrimonial e ambientalmente, para não termos, penso, de gastar o dinheiro não a fazer o metropolitano de superfície, mas...a pagar indemnizações!

Entretanto, e que mal pergunte, se o ministro do Ambiente, Matos Fernandes, quer que os projetos de investimento dos metros do Porto e de Lisboa sejam candidatos a financiamento no âmbito do Plano Juncker no próximo ano, porque não o é também o de Coimbra? E até lá, com as verbas que possibilitariam (apenas) as camionetas elétricas, íamos avançando, já de pronto, com a interrompida obra.

Em corretíssima, gostaria de acreditar, "estratégia de descentralização e proximidade", o primeiro-ministro anunciou reuniões mensais do governo nas diversas capitais de distrito e regiões autónomas. E António Costa deu conta que a primeira, já neste mês de março, vai realizar-se em Coimbra. Uma primazia que, reconheço, é algo de notável e surpreendente, sobretudo quando atendemos ao esquecimento a que generalizadamente temos sido votados, à permanente desconsideração política com que os sucessivos executivos têm distinguido a cidade e região. E quedo-me, assim surpreso com "tamanha" deferência, questionando o que de tão relevante nos vai ser por fim anunciado; se o gesto nasce apenas por causa da oposição interna à liderança socialista aqui partidariamente afirmada; se tudo não passa de mera estratégia comunicacional; ou se, sonhemos ainda, se volta a olhar para Coimbra com a atenção indispensável ao seu pleno desenvolvimento no valorizar de potencialidades imensas. Em favor de um país harmonioso e territorialmente coeso.

Afinal – e mais do que uma qualquer opção técnica, o que for, isto só pode ser falta de discernimento –, o inadmissível acontece! Depois dos enormes transtornos que provocaram, na semana passada, os trabalhos de alcatroamento da rotunda Artur Paredes, não satisfeitos ainda, eis que se repete, nestas segunda e terça, idêntica empresa, agora na rotunda da ACIC, no cruzamento da Carolina Michaelis com a Humberto Delgado, assim voltando a viver-se, em toda a zona, (qual será a da próxima semana?) um verdadeiro e exasperante pandemónio em termos de trânsito. Diz o nosso Povo, mas o autêntico, que, em boa verdade, pelas suas opções de vida e escolhas, cada um tem aquilo que merece. Os munícipes de Coimbra, politicamente, se calhar, também...

Com a celebração de mais um aniversário dos antigos Estudos Gerais, o 726.º, a Universidade de Coimbra deu início – com um alegre e divertido espetáculo de bailado, bem dançado pela companhia de Paulo Ribeiro, no Gil Vicente – a nova edição da sua Semana Cultural, valiosa iniciativa que, este ano sob o feliz tema "O livro: no princípio, era o conhecimento", nos propicia, ao longo de dois meses, uma centena de ações que inscrevem espetáculos, teatro, cinema, exposições, conferências, debates, conversas e oficinas. Numa profusão e riqueza que implicam, indispensavelmente, uma enorme adesão dos públicos, também o universitário, da cidade.

Um concerto da Orquestra Clássica do Centro, dirigido pelo seu novo maestro titular, José Eduardo Gomes, marcou, e muito bem, o início das celebrações do 15.º aniversário de uma formação que tarda em ter o merecido e indispensável apoio por parte do Estado; os Escuteiros de Ceira, justificadamente orgulhosos, estão a celebrar os seus 50 anos de vida; decorre até amanhã, a não perder, a BD Coimbra; está aí, no Dolce Vita, com visita recomendável, a Expo Clássicos; e a cidade não acordou, no passado fim de semana, como alguns expectavam, outros anunciaram, vestida de branco.

António Cabral de Oliveira

A 27 de feveiro ACO escreveu …

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Cansa-me, absolutamente, esta saga da construção da autoestrada Coimbra-Viseu, ou Via dos Infantes, o que seja. Projetos em cima de projetos, intenções políticas, todas as promessas, diversidade de soluções técnicas e financeiras, que sei eu. E a nova ligação, considerada como primeira prioridade no Plano Rodoviário Nacional, sempre adiada. Como continua a parecer – julgo que ninguém entendeu muito bem o que quis dizer o secretário de Estado das Infraestruturas, se é que quis dizer alguma coisa – depois da intervenção de Oliveira Martins aquando do último Conselho Regional da CCDRC, em Castelo Branco. Está visto: mesmo que viva ainda muitos anos, não hei de estrear a indispensável e urgente alternativa ao IP3...

Sem querer retirar importância ao trabalho, o Plano de Mobilidade Urbana Sustentada da CIM da "Região" de Coimbra é, pelo menos muito do que ouvimos na sua apresentação, mais do mesmo e a confirmação do que já conhecíamos. A requalificação da ferrovia entre a Pampilhosa e Vilar Formoso, a autoestrada para Viseu, a conclusão do IC6 até à Covilhã, o porto da Figueira da Foz, o Metropolitano do Mondego, mas também as ciclovias, transportes públicos, vias pedonais, a intermodalidade e um sistema de bilhética comum são, de facto, fundamentais para a competividade, para a coesão do território, para a melhoria do ar, para a qualidade de vida dos cidadãos. Mas, afinal, tirando porventura o apresentador do trabalho – que, seguramente não por falta de massa crítica em Coimbra, fomos buscar nem interessa onde – alguém não o sabia já?

Era enorme o bulício, e ainda maior o constrangimento no trânsito, na rotunda Artur Paredes, na confluência da Elísio de Moura, Fernando Namora e Humberto Delgado. O que não deixava de ser absolutamente natural quando se decide mudar o piso da via a partir das 9 da manhã, em dois dias úteis seguidos. Fazer as obras à noite? Fora das horas de ponta? Em fim de semana? Num tempo sem aulas? Devo estar tolinho, ou a sonhar, quando admito qualquer das hipóteses. Mas talvez não sobretudo porque se constata que os trabalhos, possivelmente necessários, não eram, de todo, urgentes. Enfim, o nosso município no seu melhor!

Hoje, não quero, além da minha, “saber línguas” para, no caso, ler um livro sobre uma faculdade, a de Direito, de uma universidade, a de Coimbra, que se diz global e se quer a maior de expressão portuguesa. Publicado, assim mesmo, pela sua Imprensa, com edição apenas em inglês!

As ligações aéreas regionais Bragança - Vila Real - Viseu - Cascais - Portimão têm tido uma taxa de ocupação de 30% (5,5 passageiros por viagem em aviões com capacidade para 18 pessoas), procurando os concessionários a sua duplicação. Talvez esteja na altura, com valorização da oferta, e sem querermos assim almejar a "altos voos", de passar a incluir Coimbra, por óbvio, na rota...

Fantástica aquela noite, na Coimbra de que ele gosta muito e que muito gosta dele, a do concerto, de Ricardo Toscano – seu quarteto e convidado –, celebrador, no Gil Vicente, dos 50 anos do "Cinco Minutos de Jazz". Memorável. Na cidade onde, em Portugal, ainda antes de Lisboa e Porto, di-lo quem sabe, José Duarte, primeiro se começou a ouvir jazz.

Cozinha cuidada e serviço agradável, preços honestos, espaço de qualidade e ambiente simpático, eis bastantes razões para nos levarem ao Terraço da Alta, ali ao cimo da Padre António Vieira. Gosto, realmente, destas apostas de gente nova – e com gente nova – da moderna restauração coimbrã.

A saúde em Coimbra, pública e privada, mantém-se em patamares de excelência clínica; renasce a esperança com a promessa governamental de desassoreamento do Mondego; o Tribunal Constitucional confirmou a insolvência do União de Coimbra, que, refundado, com outro nome, quer continuar a fazer desporto na cidade; a pintora Isabel Pavão ofereceu ao município um quadro, "valiosíssimo" na opinião de Manuel Machado, que deu azo (o que seria se se tratasse, por exemplo, de um Maria Helena Vieira da Silva?) a desmoderada divulgação mediática; e, em jornada de afirmação regional, muito bem, Oliveira do Hospital veio até Coimbra – outros preferem Lisboa! – promover, lá iremos, a sua Festa do Queijo.

António Cabral de Oliveira

A 20 de feveiro ACO escreveu …

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Dos 2,7 mil milhões com que se vai melhorar a ferrovia nacional, o projeto que exige maior investimento será o da modernização da Linha da Beira Alta. A sua adaptação para comboios de 750 metros (contra os atuais 500), as concordâncias na Pampilhosa e na Guarda, o fecho da Linha da Beira Baixa desde a Covilhã, custam 691 milhões de euros. O bom senso político vence, afinal. Os pareceres técnicos, a racionalização dos meios financeiros, batem o arrivismo oportunista de um lóbi sub-regional, conluiado com o Norte, que poderia ter prejudicado seriamente os interesses de todo o Centro. E a jornada, tardia mas positiva, da CIM da "Região" de Coimbra que a levou até Mortágua para reivindicar aquele mesmo projeto – há que lutar agora, designadamente, pela requalificação da Linha do Oeste – era, afinal, e felizmente, o corolário de uma certeza que, a bem da nossa sanidade coletiva, não podia ser outra.

Olho, através da janela, as esfiapadas bandeiras do município de Coimbra que ondulam no alto dos mastros publicitários. E, sem me interessar como está o contrato com a JC Decaux, indigno-me, assim maltratado, com o estado do pavilhão da minha cidade. Onde, chego a recear, já nem dos seus símbolos sabemos cuidar. Se quem não tem panos não arma tendas, então, quem não tem tendas...não levanta panos!

Julgo que os municípios podem, em determinadas condições, executar obras coercivas em imóveis degradados e depois apresentar a conta aos proprietários, ou mandar retirar, por exemplo, propaganda política e fazer-se pagar posteriormente, junto dos partidos, pelas despesas efetuadas. Se assim é, pergunto-me se a câmara de Coimbra não poderia – estou a ironizar, ou se calhar não –, pôr uma draga a retirar as areias acumuladas no leito do Mondego e apresentar no fim de cada mês a conta ao ministro do Ambiente (que agora, aquando das últimas inundações se mostrou, garantia Machado, permanentemente disponível), a quem seja da administração central. Isto para, finalmente, se fazer o imprescindível desassoreamento do rio, sem o que os problemas das cheias serão sempre mais gravosos do que o admissível.

O presidente da câmara, cheio de esperança, informava que o Orçamento de Estado 2016 contempla uma verba de mais de dois milhões de euros, correspondentes, parece, à comparticipação nacional no projeto. Mas qual projeto? O do metro de superfície ou o das camionetas elétricas?

Enquanto o governo, no seu programa, se diz disposto a reverter a fusão das empresas no setor da água, o secretário de Estado do Ambiente dava conta, em encontro de trabalho em Coimbra, ser aquele um processo com contornos legislativos e financeiros complexos, mas que, está convicto, será resolvido "o mais brevemente possível". Ficamos à espera, pois, que se devolva aos municípios a capacidade de decisão que legalmente é do poder local, também que se acabe com mais essa esdrúxula divisão de se partir a nossa Beira ao meio, metade para o litoral, o resto...para Lisboa e a sua EPAL.

Atento, nas capas dos quatro jornais diários das nossas cidades beirãs, nos números das pequenas e médias empresas de excelência, distinção, seguramente séria, da responsabilidade do IAPMEI. E constato que Aveiro viu premiadas 199, Leiria 118, Coimbra (apenas) 58. Bem sei que Viseu, mais no interior, tem menos, 39, mas aqueles valores – e penso especialmente no Gabinete de Apoio ao Investidor do município – significam o quê?

Se quase todos se abstiveram quanto à extinção da Sociedade Metro Mondego, só o PS manteve (o peso de ser governo!) o mesmo sentido de voto em relação à reposição, modernização e eletrificação do Ramal da Lousã, agora proposta pelo PCP e aprovada na Assembleia da República; autorizar um "caixote" na Guarda Inglesa, bem junto ao Convento de S. Francisco, para nele se instalar um supermercado – mamarracho lhe chamaram agora os mais dos edis – não lembraria a ninguém, poderíamos julgar, não fosse a (apenas adiada?) posição da maioria socialista na câmara; Manuel Machado, e não recordo atitude idêntica ou recíproca seja em que reivindicação for, apoia Rui Moreira e o Porto na luta contra a TAP; vantagem das cheias, já se pode pescar, enguias, no mosteiro de Santa Clara-a-Velha; e "velas" dos Descobrimentos, espelhos de água e jardins de buxo antecedem o novo edifício de entrada do Portugal dos Pequenitos que, futuramente, irá bem aproveitar, por fim, os terrenos que, a nascente, o município lhe disponibilizou.

António Cabral de Oliveira

A 13 de feveiro ACO escreveu …

RIO ACIMA, SEM MOTOR

Subi aos mais altos píncaros, às mais elevadas colinas da cidade, e nada vi. E fiquei com uma enorme, mas saudável inveja, daquele título do JN que nos dizia: "Reabilitação urbana enche cidade de gruas e andaimes". No Porto.

Os mais dos partidos políticos com assento na Assembleia da República apresentaram projetos de resolução para o problema das praxes violentas e abusivas – boas práticas, campanhas de sensibilização, estudos, levantamentos, e informação –, em louvável, mas aparentemente insuficiente, procura de soluções dignas para as dificuldades, inegáveis, por que passam, também aqui – e até, talvez sobretudo aqui, atendidas as suas responsabilidades históricas –, formas de cultura afinal tão próprias da academia e da cidade de Coimbra. Não tolerar a alarvidade campeante, acabar com essas "modernices" instaladas, valorizar, isso sim, as praxes simbólicas, é, julgo, inadiável responsabilidade das instituições universitárias e estudantis, mas também de todos nós que não podemos nem devemos calar a revolta que tantas vezes sentimos com o que vemos por estas nossas praças e ruas. Exijamos o bom gosto, a irreverência própria, a graça característica, a utilidade social. E, essencialmente, a elevação. Ou, então, acabe-se com tudo, já que não foi para "isto" que restaurámos as tradições académicas.

A Região Centro, de acordo com a nova edição do monitorizador barómetro, mantendo embora fragilidades na produtividade e na capacidade de gerar riqueza, continua a ser a segunda do país com melhor desempenho global, logo depois da Área Metropolitana de Lisboa (também já é uma região?), e com destaque para o crescimento da competitividade, potencial humano, qualidade de vida, coesão e sustentabilidade ambiental e energética. E fico perguntar-me por que razão querem os altos dirigentes da Pátria, dividindo-a a norte e a sul, acabar connosco, com a Beira. Ambição histórica de conquista territorial? Ganância? Inveja? Ou simplesmente estupidez política?

Projeto de enorme importância e dignidade, qualifica a sua diretora, o Machado de Castro vai ter a igreja de S. João de Almedina transformada em indispensável auditório que será, também, espaço polivalente para – hoje de difícil realização – um vasto conjunto de atividades culturais. Ora eis, por fim, para estar concluído até ao final do próximo ano, e com recurso a verbas europeias, o melhor "remate final" de toda a (magnífica) recuperação daquele, nosso, Museu Nacional.

É já conhecido o essencial do programa especial que comemora, neste 2016, os 500 anos da beatificação da Rainha Santa Isabel, e que, extraordinariamente, inclui três procissões e exposição da mão da, como dirá Jesus Ramos, Santa Senhora. Ano especial para Coimbra pela excecional relevância religiosa, as celebrações da cidade e da sua padroeira vão ser, com certeza, atendida a vocação festeira da câmara municipal, ocasião de imenso folgar urbano. E de hotéis cheios, como se irá fazer realçar em nota autárquica...

O movimento cívico do Ramal da Lousã – a esperança é, de facto, a última a morrer – diz-se, e como gostaria eu de estar com ele, mais otimista quanto ao Metro Mondego. Mas, em boa verdade, para além do matagal a cobrir os carris que restam, das camionetas alternativas que procuram cumprir horário, alguém percebe, no meio de tantas contradições e mudanças de opinião, o que se passa, o que nos reserva o amanhã?

Muito justa a homenagem que a Sanfil prestou a Norberto Canha, ortopedista tão notável da nossa melhor medicina; escola relevante, a Rádio Universidade de Coimbra celebra os seus 30 anos com o lançamento de um prémio de jornalismo radiofónico e uma edição de memórias; a secretária de Estado da Cultura veio deslumbrar-se com o Convento de S. Francisco; o anterior bispo da diocese, D. Albino Cleto, tem a sua vida contada em livro; vem aí, bem-vinda, organizada pela câmara, a Coimbra BD-Mostra Nacional de Banda Desenhada; para quem a aprecia, e são muitos, é tempo de lampreia; e chineses, em visita, diziam-se extasiados – por favor não a vendam – com a Mata do Buçaco.

António Cabral de Oliveira